Precisamos superar a artesanalidade no design revolucionário!' (gatasovietica)
É aqui que precisamos delinear e afirmar a necessidade de uma verdadeira política nacional de formação em design e AgitProp. Para que os camaradas não apenas desenvolvam em coletividade a identidade de seus núcleos, mas para que sejamos permeados da arte revolucionária e marxista-leninista.
Por gatasovietica para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Esse texto se presume a abrir o debate sobre estética e design revolucionário de forma localizada e específica, convido es camaradas a contribuírem também com suas experiências e propostas para que não caiamos nos mesmos erros.
Esse texto é dividido em algumas partes:
• Nossas debilidades e possíveis soluções.
• As mídias sociais como informação rápida e vitrine do PCB.
• Sobre as debilidades na formulação da Agitação e Propaganda nas redes.
Nossas debilidades e possíveis soluções.
Camaradas, diante da crise atual do PCB tem ficado evidente o enorme abismo que se localiza quando se fala das diversas formulações estéticas dentro do nosso partido, mais do que isso, muitos de nós não somos preparados a atender demandas simples para criar artes que atendam aos padrões visuais de nossas células e/ou núcleos de base, podendo tirar o peso dessa tarefa dos ombros de (muitas vezes) um camarada ou um grupo pequeno designado ao agitprop.
Nesse sentido já podemos esbarrar num grande problema em nossas fileiras: não temos identidade visual nacionalizada do PCB, apenas uma identidade infelizmente natimorta dos últimos tempos antes da crise que foi aplicada no podcast “Ousar Vencer”; a UJC tem uma identidade mais simétrica que o partido por esforços hercúleos de camaradas que trabalharam noite e dia apenas nisso; os coletivos tem, alguns mais e alguns menos, uma simetria maior por seus devidos tamanhos, mas uma falta igual. Esse fato evidencia de forma escancarada o federalismo e a concentração local que assola nosso partido. Essas problemáticas também se emaranham na falta de socialização das experiências de diversos camaradas de norte a sul do país.
É aqui que precisamos delinear e afirmar a necessidade de uma verdadeira política nacional de formação em design e AgitProp. Para que os camaradas não apenas desenvolvam em coletividade a identidade de seus núcleos, mas para que sejamos permeados da arte revolucionária e marxista-leninista.
É possível localizar dentro da práxis revolucionária Marxista-Leninista a necessidade de entregar as sínteses do partido revolucionário através dos diversos meios de comunicação possíveis. Diversos textos de Lênin podem nos elucidar acerca do caráter da agitação e da propaganda, um deles é o "Que Fazer", um de seus mais conhecidos textos e importante material para formação. Num trecho ele nos apresenta a diferença categórica entre agitação e propaganda através do pensamento de Plekhanov:
“[…] as palavras de Plekhanov: ‘O propagandista inculca muitas ideias em uma única pessoa, ou em um pequeno número de pessoas; o agitador inculca apenas uma única ideia, ou um pequeno número de ideias, em troca, inculca-as em toda uma massa de pessoas’. […]
[Pensamos] (com Plekhanov e todos os dirigentes do movimento operário internacional) que um propagandista, ao tratar, por exemplo, do problema do desemprego, deve explicar a natureza capitalista das crises, mostrar o que as torna inevitáveis na sociedade moderna, mostrar a necessidade da transformação dessa sociedade em sociedade socialista etc. Em uma palavra, deve fornecer “muitas ideias”, um número tão grande de ideias que, de imediato, todas essas ideias tomadas em conjunto apenas poderão ser assimiladas por um número (relativamente) restrito de pessoas.
Tratando da mesma questão, o agitador tomará o fato mais conhecido de seus ouvintes, e o mais palpitante, por exemplo uma família de desempregados morta de fome, a indigência crescente etc., e apoiando-se sobre esse fato conhecido de todos, fará todo o esforço para dar à massa “uma única ideia”: a [ideia] da contradição absurda entre o aumento da riqueza e o aumento da miséria; esforçar-se-á para suscitar o descontentamento, a indignação da massa contra essa injustiça gritante, deixando ao propagandista o cuidado de dar uma explicação completa dessa contradição.
Por isso, o propagandista age principalmente por escrito, e o agitador de viva voz. Não se exige de um propagandista as mesmas qualidades de um agitador. Diremos que Kautsky e Lafargue, por exemplo, são propagandistas, enquanto Bebel e Guesde são agitadores." - Lênin "Que Fazer" (1902) [1]
Trago aqui esse trecho para que futuramente nesse texto não haja dúvidas da significância dos termos utilizados.
As mídias sociais como informação rápida e vitrine do PCB.
Entre o jornal [impresso e online], o panfleto, a fala pública, o rádio e o vídeo, diversas técnicas foram utilizadas pelas revoluções e organizações de classe do mundo para obter, pouco a pouco, um relativo poder do povo para disputar a consciência dos trabalhadores em volta da revolução como única forma de superação do capitalismo. Algumas revoluções tomaram seu assento em técnicas específicas, a exemplo da URSS com o jornal ou Cuba e Argélia com suas rádios revolucionárias.
É preciso que dominemos essas ferramentas e façamos as devidas análises de quais delas chegam realmente nas massas e podem, com nossas mensagens, elevar a consciência delas.
"Para já, as perspectivas da criação de um novo partido comunista realmente revolucionário não parecem favoráveis [...] Isto não significa que se deva cruzar os braços. Importa, como escrevi num artigo anterior, concentrarmo-nos aturadamente no trabalho preparatório do partido: núcleos comunistas, intervenções pontuais na luta de classes, trabalho de propaganda, debates, que implantem na parte avançada da classe uma nova corrente de ideias comunistas, entre as quais se conta o método do centralismo democrático." - Francisco Martins Rodrigues - "Que Partido?" (1998) [2]
Nas campanhas para as eleições burguesas tivemos a capacidade de ver recrutamentos saindo de todos os cantos, frutos da nossa política fora da conciliação e pautada no socialismo (ainda que com grandes erros evidenciados por exemplo nas próprias tribunas preparatórias e nos ambientes internos do partido à época, a exemplo do reacionarismo evidente de Eduardo Serra em sua campanha para governador para o estado do Rio de Janeiro). [4]
Alguns camaradas têm um sentimento quase repulsivo às redes sociais como espaço de formação e agitação política, mas não percebem que a maioria esmagadora dos nossos recentes recrutamentos (que não pudemos tocar em sua grande maioria por conta de uma falta de política nacional de recrutamentos) veio através do exímio trabalho dos camaradas nas redes sociais e nas campanhas, pautando nossa política de revolução socialista sabendo que poderiam sofrer represálias e perseguições pela direita e extrema-direita.
Aquela técnica de comunicação que mais temos debilidades, no entanto, parece se encontrar nas redes sociais, fruto de sua secundarização com o tempo pelo próprio partido, mas que nos trouxe uma verdadeira refrigeração qualitativa e quantitativa em camaradas aptos para tocar as tarefas e formular positivamente para o avanço da classe trabalhadora rumo a revolução socialista. Podemos ver uma disparidade muito grande de qualidade na formação das artes dos posts em diversas contas do PCB pelo Brasil, isso quando elas existem.
O site do partido e o jornal, por sua comunicação mais demorada e para evitar algo que pareça um “spam comunista” são inefetivos na comunicação rápida e localizada de certos informes e repasses, sendo esses últimos necessários e indispensáveis ao conhecimento dos amigos do partido e da classe trabalhadora em geral. Dessa forma não podemos tratar com indiferença a presença das células nas redes apresentando a realidade das movimentações do partido perante situações específicas.
Hoje em dia é certo num sentido de concepção coletiva inconsciente que: "se algo não pode ser localizado na Internet, isso não existe de maneira formal ou não tem relevância". Muitas aproximações buscam primeiro nas mídias sociais a presença do partido e suas “opiniões” acerca da realidade que vivem, com quem o partido faz alianças e com quais interesses esse partido está tentando se alocar na vida delas.
É importante formularmos continuamente sobre a criação de contas e conteúdo revolucionário como formas de aproximação do partido, de um trabalho de agitação local e de formação dos militantes que formulariam essas postagens nas redes.
Sobre as debilidades na formulação da Agitação e Propaganda nas redes.
Com o advento da crise foi possível ver uma baixa de qualidade nas postagens das contas que representavam os militantes da fração academicista (ou PCB-CC). Com isso não quero diminuir o trabalho dos camaradas, eles precisam passar uma mensagem e talvez não vejam como importante ou apenas não tem um rigor técnico de como apresentar suas ideias nas redes sociais, no entanto, numa análise fria podemos perceber que o próprio PCB-CC perde a disputa por seu amadorismo de trabalho. Peguemos como exemplo um vídeo produzido pelo movimento em defesa da Reconstrução Revolucionária do PCB diante dos atos contra as chacinas promovidas pela polícia militar, disponível no instagram do PCB-RR [5], isso é um caso de sucesso na agitação, os outros vídeos produzidos pela reconstrução revolucionária não perdem na qualidade gráfica e política do movimento.
A fração academicista, portanto, perdeu não só quantitativamente, mas qualitativamente, tese aprovada pela própria atuação do atual PCB formal nas redes e nas ruas, onde ou se fez ausente, ou criou uma aura “purista” com direito ao hino da Internacional Comunista no meio do ato, com os militantes quase “adorando” um partido que na verdade deveria servir de ferramenta para a revolução brasileira, não como ídolo.
Uma maestria importante também foi vista na própria formulação da Identidade Visual do PCB-RR, que delimitou um espaço visual para si, não só para se diferenciar dos academicistas que hegemonizaram o Comitê Central, mas para se projetar como alternativa Marxista-Leninista para o Movimento Comunista Brasileiro. Quem vê um post da Reconstrução Revolucionária automaticamente reconhece ela, questão que nos passava despercebida.
Todas as questões trazidas aqui demonstram a necessidade de alocar o conteúdo ao lado da forma, onde um é espelho do outro. Nossa classe precisa saber quem ela precisa ouvir e propriamente ver com quem ela está dialogando. Não é possível continuar avançando sem uma característica visual que acompanhe nosso real avanço na luta pela hegemonia proletária e pelo poder popular.
Portanto, camaradas, reafirmo a necessidade de uma formação e uma socialização permanente em Agitação e Propaganda, englobando o design como ferramenta revolucionária mas também os mais diversos meios de contato e troca com a classe trabalhadora.
“O significado do unitarismo e do centralismo orgânico é que o partido desenvolva dentro de si os órgãos adequados às diversas funções, que chamamos de propaganda, convencimento, organização proletária, trabalho sindical, etc., até amanhã, a organização armada; mas nada se pode inferir do número de camaradas destinados a tais funções, pois em princípio nenhum camarada deve ficar de fora de nenhuma delas.” - Amadeo Bordiga - “Considerações sobre a atividade orgânica do partido quando a situação é historicamente desfavorável” (1965)
[1] "Que Fazer" por V. I. Lênin disponível no marxists.org (1902) (https://www.marxists.org/portugues/lenin/1902/quefazer/index.htm)
[2] "Que Partido" por Francisco Martins Rodrigues (1998) (https://traduagindo.com/2022/08/11/francisco-martins-rodrigues-que-partido/)
[3] Ver a conta do PCB SP no Instagram, sequestrada pela fração academicista (https://www.instagram.com/pcb.sp/)
[4] Esquerda Diário do MRT faz críticas à campanha de Eduardo serra (https://www.google.com/amp/s/www.esquerdadiario.com.br/Eduardo-Serra-PCB-discurso-comunista-com-propostas-reformistas-para-o-governo-do-RJ%3famp=1)
[5] Vídeo do PCB-RR no ato contra a violência policial (https://www.instagram.com/reel/CwaeoQ0tuGH/?igshid=NzZhOTFlYzFmZQ==)
[6] “Considerações sobre a atividade orgânica do partido quando a situação é historicamente desfavorável” por Amadeo Bordiga (1965)