OAB-DF lança evento em defesa do colonialismo israelense

O evento é uma parceria da Ordem com a Embaixada de Israel em Brasília, Associação Cultural Israelita de Brasília, Academia Judaica, Universidade de Tel Aviv, e a Confederação Israelita do Brasil.

OAB-DF lança evento em defesa do colonialismo israelense
Foto: Jornal O Futuro.

Por Mateus Filgueira | Redação

A Ordem dos Advogados do Brasil do Distrito Federal (OAB-DF) lançou um workshop para o dia 11 de março para debater o “Racismo Antissemita e Extremismo Político”. O evento é uma parceria da Ordem com a Embaixada de Israel em Brasília, Associação Cultural Israelita de Brasília, Academia Judaica, Universidade de Tel Aviv, e a Confederação Israelita do Brasil.

Foto: Reprodução/Redes sociais.

Apesar dos palestinos também serem um povo semita, a realidade é que o sionismo se apropriou desse termo como escudo às críticas que Israel leva por sua política genocida na Palestina. Quando usado como espantalho para mascarar a limpeza étnica do povo palestino, este termo acaba por banalizar o real preconceito sofrido tanto por judeus, quanto por outros povos árabes semitas.

No evento da OAB, foram convocados seis nomes que possuem uma linha teórica e política de defesa do sionismo; não à toa, o evento conta com a participação e realização de diversos organismos sionistas e do próprio governo de Israel.

Passando rapidamente pelos convidados a compor a mesa, Fernando Lottenberg é Comissionário de Monitoramento e Combate ao Antissemitismo da Organização dos Estados Americanos (OEA) e Presidente de Direitos Humanos e Cidadania no Grupo de Líderes Empresariais, grupo fundado por Doria, e tem um de seus curadores sendo investigado pela Policia Federal por crimes contra o sistema financeiro e lavagem de dinheiro do PCC por bancos digitais. Uma grande hipocrisia quando Israel está sendo conhecido internacionalmente pelo desrespeito aos direitos humanos.

Franco Fiumara é juiz no “Tribunal Criminal na Argentina” e nas suas redes sociais não se intimida em falar do “genocídio em Israel” feito pelos “terroristas” (sic) do Hamas. O que Franco escolhe ignorar é que a última atualização trazida pela Al Jazeera, em 3 de fevereiro, apontou que desde o início da Tempestade Al Aqsa, foram mortos 61.709 mártires palestinos em Gaza, cerca de mais de 5.300% a mais que o número de colonos israelenses mortos pela resistência.

Uriya Shavit é um professor da Universidade de Tel Aviv, e se debruça em criticar o islamismo e a democracia árabe. Possui uma perspectiva carregada de xenofobia, racismo e preconceito religioso, cria falsos paralelos entre sionismo e uma suposta “supremacia árabe”, como se o sionismo fosse uma resistência ao islamismo; não suficiente, Uriya sustenta em seus escritos a inferioridade intelectual islâmica e menospreza os acúmulos históricos, políticos e culturais dos árabes-muçulmanos.

Clarita Maia, é presidenta da Comissão de Relações Internacionais da OAB/DF e é Consultora Legislativa no Senado Federal. Em suas redes agita falsas simetrias entre antissemitismo e resistência árabe e tece críticas ao “terrorismo”, desconsiderando, claro, as políticas de apartheid e limpeza étnica de Israel como tal.

Já Andrea Vainer é a diretora jurídica da Confederação Israelita do Brasil, dedica seu ativismo no combate ao antissemitismo e fez publicações a respeito de violência doméstica e violência contra menores, os livros possuem recorte do cenário de violência no Brasil, mas talvez Andrea precise se debruçar em pesquisar sobre a violência do Estado colonialista israelense contra mulheres e criança palestinas, seus principais alvos – cerca de 70%, conforme relata o Escritório de Direitos Humanos da ONU.

Por fim, Daniel Bialski é um advogado conhecido por ter defendido figuras como Michelle Bolsonaro, Sergio Cabral, Milton Ribeiro e Carla Zambelli. O reacionário não se intimida em falar da resistência palestina como “terroristas reincidentes”; nas suas redes defendeu o bilionário Elon Musk, apontando que criou-se um fantoche sobre sua saudação nazista só para mascarar o fato de que o novo líder americano (Trump) não dará trégua aos grupos terroristas e criminosos”. O sionista vem fazendo populismo penal sobre a troca de reféns acordada entre a resistência palestina e a máquina genocida israelense, ignorando o fato que mais de 2.800 palestinos, muito menores e idosos, estão em “prisões administrativas” (sem contar as prisões comuns de palestinos já julgados) onde são torturados, abusados física e psicologicamente, como aponta relatórios da ONU, Cruz Vermelha e Anistia Internacional.

A OAB não se propõe a ser uma organização de representação de uma categoria (advogados) enquanto classe proletária; a Ordem assume um papel burocrático-administrativo, meramente de defesa econômica de escritórios e por vezes de advogados CLT (apesar da maioria das contratações ser por PJ), fechada em si mesma para lobby e network, tendo um caráter bastante patronal quando observamos que sua composição de diretoria/presidência se dá por advogados de grandes escritórios, que atuam há décadas no mercado. Tanto é que, justamente por já haver a OAB, os advogados não podem criar sindicatos e pautar sua organização política nos termos das demais categorias.

Apesar desse caráter anti-sindical, é comum posicionamentos positivos quanto a defesa de liberdades democráticas, posicionamentos contra violência de gênero, raça e sexualidade, etc., mas é claro que, como qualquer luta social-democrata na sociedade capitalista, as contradições se tornam mais latentes quando a guerra de classe se acirra; e se tratando da Palestina, até mesmo dentro de setores da esquerda, é notório o reacionarismo na sua forma mais brutal.

É muito sintomático que as agências sionistas estejam apostando na classe de advogados, em Brasília justamente em um período que até estruturas jurídicas burguesas, como o Conselho de Segurança da ONU e o Tribunal Penal Internacional, não conseguem mais ocultar o genocídio do povo palestino perpetrado pelo colonialismo israelense.

Esse evento é mais um exemplo do esforço do Estado colonialista de Israel em massificar sua cultura sionista no Brasil, normalizando sua cultura de normalização da limpeza étnica contra os palestinos. O imperialismo se expressa não somente de forma armada – como as ocupações coloniais na Palestina, Líbano e Cisjordânia –, mas também na propaganda ideológica de normalização do processo histórico de colonização.

Mesmo sob perspectiva das instituições burguesas, promover Israel com o falso argumento de “vencer o antissemitismo” e defender Israel frente aos recentes acontecimentos – crimes de guerra, desrespeito aos direitos humanos etc. – é ser cúmplice do genocídio, apartheid e limpeza étnica.