'O que é profissionalização?' (Deep da ZL)
Se a gente não consegue ajustar o básico de disciplina de nossos camaradas, como que vamos carregar trabuco na rua quando for necessário? Desse jeito nossas teses viram metas de fim de ano que nunca serão cumpridas, justamente porquê a gente não faz o básico.
Por Deep da ZL para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
1. Introdução
Prezados camaradas, espero que essa tribuna que escrevo auxilie a todos nos debates do XVII Congresso, fiz ela mais sucinta expressando o que considero principal do tema, se eu sentir necessidade de tratar um outro tópico relacionado ao tema, farei uma parte 2, creio que um texto menor seja melhor para os camaradas lerem.
Nos espaços de militância não é incomum ouvir sobre a forma artesanal e profissional de fazer as coisas, faz parte do nosso vocabulário militante e ao meu ver é muito frutífero saber o que tudo isso significa e ter exemplos de como cada uma dessas formas se manifesta nos nossos trabalhos.
Essa tribuna surge de uma dúvida: o que seria a tão falada profissionalização da militância e da organização como um todo? Tentarei fazer uma síntese de algumas tribunas que têm esse como seu tema principal e darei minha posição também a partir dos debates recentes em meu núcleo sobre Agitação e Propaganda, a partir disso creio que podemos ter subsídio do que alterar e adicionar às nossas Teses e corrigir os nossos trabalhos.
Na tribuna “Pela implementação do método congressual nas instâncias de direção em todo o país”, camarada Marte apela para que todos os organismos utilizem do método congressual de debate para facilitar a discussão dos diversos assuntos que competem aos mesmos e ainda pede o nivelamento dos acúmulos entre direção e base. Algo que considero essencial em sua tribuna é sobre a forma como deliberamos tarefas e sobre quem fica responsável por realizá-las, fundamental dessa problemática é que as tarefas sejam muito bem designadas para pessoas ou organismo e que esse destaque conste no encaminhamento.
Tento ir além do método congressual para discussões e proponho que todos os nossos planejamentos tenham um método e uma padronização da forma como realizá-los, no núcleo UJC Henrique Novaes-ZL-SP funcionou muito bem uma adequação do OKR (Objective Key Results) formulado por nossa secretária de formação que consiste em ter um balanço e perspectiva para a pasta como introdução, objetivos que são “aquilo que pretendemos conquistar no longo prazo, sendo geralmente mais amplos e gerais”, as metas “que são nossas tarefas práticas que nos utilizaremos para alcançar os objetivos”, quantos camaradas são necessários para a realização, o destaque de quem realizará esta meta e os indicadores que são “os dados que indicam se esta empreitada foi exitosa, fracassada ou ficou no meio do caminho”. A camarada também propôs uma padronização da formatação para toda a documentação do núcleo.
A organização desses aspectos gera a seguinte metodología:
1. Introdução: Balanços e Perspectivas da Pasta
2. Objetivo (Cada um deverá conter:)
a. Breve Introdução
b. Meta (Cada uma deverá conter:)
i. Quantos Camaradas precisaremos para esta tarefa
ii. Camaradas destacados
iii. Indicadores
(Formatação padronizada para todas as pastas tratadas no planejamento).
Acredito que socializar essa forma de realizar tudo facilite o trabalho e evite o retrabalho (falarei sobre retrabalho mais pra frente). Vou chamar esse método acima descrito de OMI (Objetivo, Meta e Indicador), creio que ele também possa ser usado para nossas discussões, com todos os encaminhamentos tendo indicadores de sua realização, isso significa atualizar nosso método congressual.
Essa atualização implica em eliminar os encaminhamentos vagos que ninguém sabe como realizar simplesmente porque não é descrito o como fazer, por exemplo, todos nós já vimos encaminhamentos como: “estudar a possibilidade de”, “avançar em tal aspecto”, etc.
A Tribuna “Profissionalização da estrutura organizativa” de B. Salvador, traz um sentido parecido com o da tribuna de Marte, no entendimento de que, até certo ponto, devemos padronizar nossos processos organizativos com o adicional de que para que otimizemos os nosso tempo e trabalhos, é fundamental que haja uma disciplina e comprometimento, que são coisas que, ao meu ver, só são possíveis com o pleno convencimento político.
Faço a pergunta: Qual o sentido de ter um método congressual, um método de fazer planejamentos, uma orientação de como se portar em um ato de rua, etc. se metade dos camaradas não têm a disciplina de: realizar as atividades nos métodos estipulados chegar no horário em reunião, ato ou atividade qualquer , fazer falas dentro do tempo estipulado responder disponibilidade dentro do prazo, tirar a camiseta da organização quando estiver desprotegido, etc.?
Pior que isso é a gente não conseguir ajustar todos esses desvios que caracterizam uma forma de como a artesanalidade se manifesta na nossa organização. E com todo respeito, se a gente continuar deixando que essa bagunça aconteça é mais honesto fechar as portas e esquecer que esse partido algum dia existiu de tão vergonhoso que isso é. Se a gente não consegue ajustar o básico de disciplina de nossos camaradas, como que vamos carregar trabuco na rua quando for necessário? Desse jeito nossas teses viram metas de fim de ano que nunca serão cumpridas, justamente porquê a gente não faz o básico.
Mais uma vez traz-se como problemática a falta da delegação de trabalho, a falta da divisão de trabalho, concordo plenamente com camarada B. Salvador quando diz que “A marca da artesanalidade então chama-se sobrecarga de trabalho e acúmulo de tarefas na mão desses poucos indivíduos.” Mais que isso acho que fundamental que socializemos nossos conhecimentos sobre como realizar todos nossos trabalhos, isso vai gerar uma indiferença entre quem pode ser destacado em determinados casos.
O Camarada Homero é um termo que eu criei pra se referir a uma pessoa ou organismo da militância que pode não existir na vida real mas ela sempre está destacada para as tarefas mais imediatas e ele nunca está realmente em uma atividade porque a verdade é que ninguém foi destacado para essa tarefa. O camarada Homero é o ser metafísico que surge nas dúvidas: Quem foi destacado pra fazer a direção do ato? Quem ficou encarregado de pegar os materiais? Etc. Camarada Homero era responsável por tudo isso mas ele não apareceu, ele não existe, e alguém deve espontaneamente realizar essas tarefas por ele, mesmo que esse alguém não tenha nenhuma experiência nisso. Está claro que esse fenômeno que eu descrevi e dei um nome é fruto da falta de um destaque prévio e de indiferença, constando o que cada camarada/organismo deve realizar, onde, como e quando e se não for possível “o destacado” realizar, outro pode fazer sem impeditivos.
2. O que é profissionalidade afinal?
Ser profissional é ser indiferentes a ponto de nenhum camarada ser tão necessário que, caso ele não possa mais cumprir uma tarefa, o trabalho que ele fazia se torne dificultado ou mesmo que alguém seja insubstituível, como comunistas temos que ter sempre em mente que a qualquer momento podemos ser perseguides, preses ou mortes. Profissionalização também é a não limitação por uma regra ampla, é ter métodos padronizados que poupem retrabalho e cansaço. Esses são os pontos que considero fundamentais.