'O Partido e o Sujeito Coletivo: notas de um debate sobre Formação Política' (N. Sanchez)

Nosso militantes se perdem no desejo de mudar o mundo, sem sequer conceber o mundo, nosso militantes se esquecem: somos nós os responsáveis por desenvolver a teoria de nosso tempo. [inclusive a teoria sobre nós mesmos, a teoria organizativa e o Sujeito Coletivo enquanto objeto de análise]

'O Partido e o Sujeito Coletivo: notas de um debate sobre Formação Política' (N. Sanchez)
"É preciso que o processo de consciência seja ininterrupto e de grandeza onipresente. O organismo que aceita e/ou delibera um estado de Inconsciência, pelo tempo que for, tem o mesmo efeito de uma Cirurgiã que resolve desligar o próprio cérebro para que o sangue possa concentrar-se nas mãos."

Por N. Sanchez para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

obs: texto escrito em 03.06.2023 com o título original de “Resposta a Ric, Nath E., Leon. & Uma introdução aos fundamentos da Formação Política”. Tenho algumas ressalvas muito relevante a esse texto. Contudo, pelos motivos que podem ver na Tribuna “Autocrítica: a defesa do trabalho artesanal, do formalismo e do Partido de “retaguarda”

Sobre: "Fiquei me perguntando muito se não estou caindo nos desvios que os camaradas têm trazido, de individualismo e recusa a tocar tarefas que não me agradam, mas não me parece que esse seja o caso, e peço para que me critiquem caso pensem que é." [ric]

Não é, tu bem relatou. Além disso, esses argumentos de "individualismo" são, em muitos casos, argumentos praticistas. É a reclamação de um não-fazer prático de algum militante. É a crítica em análise individual à conduta de um ou vários militantes. Um dos problemas de quem faz essa crítica é não perceber que para haver o fazer-militante é necessário, em construção concomitante, haver o Ser Militante. Se as atividades práticas não fazem sentido e não são percebidos em essência, acarreta ao conjunto de militantes uma relação imediata de Alienação. Quando o trabalho a ser executado desvincula-se do processo de construção consciente do Militante (um Ser sem Consciência), o Militante é desvinculado da sua própria relação existencial para e como Sujeito Coletivo.

Ademais, poderíamos citar, também, o erro de lógica ao perceber a redução de um fenômeno como Coisa-Em-Si, "o calor do Sol responde ao próprio Sol"; assim como, uma dimensão (aparentemente) individual compreendida exclusivamente pela dimensão individual. Apontar um "erro individual de individualismo", num contexto como o nosso (numa "crítica" de porte tão fraco), é apontar o dedo à uma árvore sem tentar compreender a floresta, ou seja, é não entender a própria árvore.

Essa "crítica ao 'individualismo", da forma que sempre vejo sendo feita, é a mais individualista de todas. Essa "crítica" ao "fazer-militante" que acaba ignorando o Ser Militante; essa "crítica" é - por ignorância e influência da ideologia burguesa - inspirada num pilar do fatalismo kantiano: a transformação no interior humano. A "crítica" é tão individualista que se reduz à pensar o Fazer do sujeito na militância, como se fossem - preponderantemente - análises de competências internas ao sujeito; agem como se o nosso contexto organizativo fosse de leis quase imutáveis, fosse um contexto a ser referenciado de maneira contemplativa. Isto se dá pelo motivo de fazermos nossas "críticas" em modelo de análise de objetos isolados; quando um militante pensa sobre X ou Y tarefa, não pensa na substância da tarefa, não pensa A Organização, pensa na "conduta militante individual de tal, ou tais, militante(s) em X e Y tarefas e a condução em-si de X e Y tarefas", obviamente, na totalidade parcial da vida nuclear. Nesse nosso período de Alienação Organizativa é muito comum que as coisas se reduzam assim.

Logo, nesse ponto, vemos que uma das dinâmicas da UJC é, ao invés de desenvolver a transformação do Corpo-Militante (o complexo organizativo), nos reduzimos a transformar, de maneira isolada, o corpo e vida dos militantes (isto é forçar uma árvore crescer sem regar a floresta), quando muito, nos reduzimos a transformar as tarefas. Pensam, portanto, que para resolver a questão do "Não-Fazer" dos militantes basta um "convencimento", que daí eruptará, num subjetivismo idealista, um novo indivíduo militante. Ou que para resolver as coisas, basta mudar X e Y tarefa, ou alguns aspectos dela, nunca pensam na totalidade.

Em geral, as reclamações de que "tais militantes não fazem isso, não fazem aquilo" é na verdade a superfície de um debate muito complexo: o estado de inconsciência da Organização.

Trataremos um tintin disso ao final. [A concepção da organização comunista é tratada como questão técnica, ao invés de uma questão intelectual. Tudo se reduz ao fazer mecânico]

Sobre: "Reiteradas vezes, em proton e em reuniões, afirmamos a necessidade de formações política e de dirigência"[Nathalia E.] ..."não podemos cair no erro de tocar mecanicamente tarefas e esquecer da nossa formação enquanto militantes." [Nathalia E.]... "Proponho um resgate do método de seminários, de modo com que o núcleo todo possa se ver não só enquanto agente passivo em uma transação bancária de conteúdo, mas pertencente à formação." [Leon.]

Camaradas, vocês falam de coisas muito importantes, mas tem uma noção limitada de Formação Política.

Toda organização política deve ter claro que o processo de formação de um quadro depende de três aspectos fundamentais, a saber: o programa de formação, a política de quadros e a colocação destes nas atividades concretas. - Ademar Bogo, Política de Formação e Projeção de Quadros

Na UJC o desenvolvimento dos quadros tem sido pensado, até então, apenas como programas de formação, isto é, colocando a construção do pensamento em episódios fechados em si. Nossa Organização jamais poderá desenvolver os seus quadros, se não existir uma diretriz (a política de quadros) e colocação dos quadros.

Por mais que Leon tenha dito "[...] as formações não podem ser vistas como tapa-buracos, como a emergência da emergência, mas algo que se torna tão simbiótico à vida do núcleo, algo tão fundamental que todo o núcleo passa a formular as formações." noto que ele e Nathalia estão limitades à concepção da Formação Política como um organismo de Programas Formativos. Para falar a verdade a maioria esmagadora pensa assim.

Vejamos, em Nathalia, "afirmamos a necessidade de formações política e de dirigência" é que isso não se dá num soco, nem em uma sequência destes. Neste trecho Nath, assim como a maioria, trata a Formação Política como Ensaios Anômalos, a FP como atividades de uma dimensão paralela a do Fazer-Geral da UJC. A Formação política é um trabalho de Orquestra Organizativa, a Formação forma militante e formata a Organização. Nosso dever é analisar se nossa Formatação Organizativa comporta, em unidade orgânica, a Formação dos Quadros, e vice-versa.

"[...] a base precisa expressar uma aguda criatividade, senso de oportunidade, capacidade de traduzir no senso comum um programa político e orientação de ação, e inovar na ação seguindo a linha política da organização. Isso só é possível com uma relação de sintonia, confiança política e qualificada comunicação interna para atuar como um só corpo político. Os meandros práticos dessa formação política – e formação política não é e nunca será reunir-se esporadicamente para debater algum tema como em uma universidade – vão ser objeto de outra reflexão. Avancemos." - Jones Manoel, Para uma teoria de vanguarda no Brasil

Eu entendo o motivo dela dizer isso, "atropelam tudo por cima da Formação Política". E estás correta na preocupação, teu erro é por ter parado por ai na análise, é ter se fechado na crítica da ausência do Programa de Formação, quando devias ter feito um crítica ao estado de pensamento/inconsciência do núcleo UFRGS. Como diria a tradição de Sócrates: respondestes a pergunta, mas não buscastes a verdade.

"Para evitar erros, é preciso procurar descobrir e explicar a fonte deles, a aparência. Isso foi o que pouquíssimos filósofos fizeram. Eles procuraram somente refutar os erros, sem indicar a aparência da qual eles se originam.” (Kant apud Lebrun, Sobre Kant)

"não podemos cair no erro de tocar mecanicamente tarefas e esquecer da nossa formação enquanto militantes" [Nath] Uma fala muito qualificada, consegue atribuir a relevância da Formação Política e se posiciona contrária ao trabalho técnico emsimesmado. O problema tá justamente em tratar a questão como "um trabalho de Formação", que a simples constância de uma série "de Formações"(aqui utilizando como a concepção fraca de FP como sinônimo a regularidade nos episódios do Programa de Formação) fosse capaz de sanar nossa situação. Eu, portanto, escreveria: "não podemos cair no erro de tocar mecanicamente tarefas e esquecer que o Ser e o Fazer do Sujeito Coletivo é um exercício de Consciência." Uma cirurgiã, por exemplo, utilizará das mãos para realizar qualquer cirurgia, mas quem conduz e analisa o procedimento é o cérebro. É preciso que o processo de consciência seja ininterrupto e de grandeza onipresente. O organismo que aceita e/ou delibera um estado de Inconsciência, pelo tempo que for, tem o mesmo efeito de uma Cirurgiã que resolve desligar o próprio cérebro para que o sangue possa concentrar-se nas mãos. Igualmente absurdo é quando após a Organização "desligar o Cérebro" fica surpresa com o óbito, seja o óbito do paciente, seja o suicídio do organismo. O praticismo é a mortalidade da Organização logo na primeira infância.

"Proponho um resgate do método de seminários, de modo com que o núcleo todo possa se ver não só enquanto agente passivo em uma transação bancária de conteúdo, mas pertencente à formação." [Leon]

Camarada, tens os mesmos erros que Nathalia, não vou me prolongar. Por mais que tenhas sido mais objetivo, errou em reduzir a análise, errou na dialética. Tu consegue denunciar a ausência de cérebro, mas não consegue explicar - sequer tenta - o estado de inconsciência que atravessa toda a vida Organizativa. Propor só o resgate do método de seminário é ignorar o complexo da coisa, é entender a solução dos nossos problemas com adendos e algumas advertências.

Tá, mas por que isso acontece na nossa Organização?

Temo ter que concordar com Gramsci, no Partido Comunista:

"[...] o operário da fábrica tem tarefas verdadeiramente executivas. Não segue o processo geral do trabalho e da produção; não é um ponto que se move para criar uma linha; é um alfinete confinado num lugar determinado e a linha resulta do alinhar-se dos alfinetes que uma vontade estranha dispôs para os seus fins. O operário tende a levar este seu modo de ser a todos os ambientes da sua vida; adapta-se facilmente em todas às partes ao papel de executor material, de massa guiada por uma vontade estranha à sua; é preguiçoso, intelectualmente não sabe e não quer prever mais além do imediato, portanto falta-lhe todo o critério para a eleição dos seus chefes e deixa-se iludir facilmente por promessas; quer acreditar que pode obter tudo sem um grande esforço e sem ter que pensar demasiado. O Partido Comunista é o instrumento e a forma histórica do processo de libertação interior por meio do qual o operário passar de executor a iniciador; de massa que é converte-se em chefe e guia; de braço converte-se em cérebro e vontade; na formação do Partido Comunista é possível localizar o germe da liberdade que terá o seu desenvolvimento e a sua expansão plena depois de o Estado operário ter organizado as condições Materiais necessárias. O escravo ou artesão do mundo clássico “conhecia-se a si mesmo”, realizava a sua libertação fazendo parte de uma comunidade cristã, onde concretamente sentia que era igual, que era irmão, visto que era filho do mesmo pai; o mesmo realiza o operário fazendo parte do Partido Comunista, onde colabora a “descobrir e a inventar” modos de vida originais, “onde colabora “voluntariamente” na atividade do mundo, onde pensa, prevê, tem uma responsabilidade,  onde é organizador além de organizado, onde sente que constitui uma vanguarda que corre adiante arrastando consigo toda a massa popular."

Gramsci aqui está tratando de uma problemática candente em todo o trabalho organizativo do PCB, é um problema que apresenta-se de maneira explicita no núcleo UFRGS. Nosso trabalho é, por enquanto, um trabalho de pseudoatividade. Nosso dever deve ser compreender e promover uma Vida Organizativa que, em seu seio, terá o processo intelectual, uma UJC que tenha o Corpo-Militante organizador, não apenas "organizado" por ela.

O militante se desliga do seu próprio cérebro, importa [verbo] e é submetido à uma lógica burguesa no seu trabalho-militante. Sendo assim, é óbvio que nossa militância perde sentido no seu trabalho, está Alienada dele. As tarefas ganham um caráter absurdo, um caráter de Sísifo. É todo dia um fazer sem ser para onde.

Vejamos em Adorno...

"A tão evocada unidade entre teoria e práxis tem uma tendência de converter-se abusivamente em predomínio da práxis" ... "As pessoas se aferram às ações devido à impossibilidade de ação"... "É preciso temer o pensamento não tutelado e a atitude de não renunciar a ele, porque no fundo sabe-se que o que não se pode confessar: que o pensamento tem a razão"... "Quem está preso gostaria de sair, desesperadamente. Em situações como essas, já não se pensa, ou então se pensa sob pressupostos fictícios. Na práxis absolutizada tão somente se reage, e por isso mesmo de um modo falso" ... "A pseudoatividade é, em geral, a tentativa de salvar pequenos enclaves de imediaticidade numa sociedade integralmente enrijecida e mediada. Isso é racionalizado com a ideia de que as pequenas mudanças seriam uma etapa no longo caminho rumo à transformação do todo." ... - Theodor W. Adorno, Resignação

A atual conjuntura internacional dos Partidos Comunistas apresenta-se como uma enorme coleção de Partidos Derrotados, um conforto absoluto para a classe dominante em todos os países. O desespero pela nossa situação não é um sentimento individual, é como nossa atuação tem respondido (e da isso da pior maneira). Nosso militantes se perdem no desejo de mudar o mundo, sem sequer conceber o mundo, nosso militantes se esquecem: somos nós os responsáveis por desenvolver a teoria de nosso tempo. [inclusive a teoria sobre nós mesmos, a teoria organizativa e o Sujeito Coletivo enquanto objeto de análise]

Vejamos, "As pessoas se aferram às ações devido à impossibilidade de ação" e "Quem está preso gostaria de sair, desesperadamente. Em situações como essas, já não se pensa, ou então se pensa sob pressupostos fictícios. Na práxis absolutizada tão somente se reage, e por isso mesmo de um modo falso". Aqui Adorno trabalha o animal assustado que nos tornamos ao perceber uma partícula do grande corpo dominante e dessa enorme impotência que somos vitimados.

Ainda nesse sentido, o PCB tem 100 anos, temos algumas conquistas, mas - sem dúvida - somos, até o presente, um partido derrotado. O movimento comunista está mergulhado em imobilidade e não estamos sob "solo firme" de construção do organismo revolucionário. Nesse contexto, o nosso corpo-militante percebe "é preciso mudar a realidade", de maneira abstrata, "é preciso fazer e fazer!". Como se o simples aumento quantitativo das atividades representasse os elementos para a transformação qualitativa da realidade.

Vejamos não é isso que o núcleo UFRGS, assim como quase todos os organismos, faz? Somos um Corpo-Militante de encaminhamentos quantitativos e em-si-mesmados. Na UJC toda a tarefa é entendida nas suas leis próprias e isoladas, como se o sentido da Coisa estivesse exclusivamente na própria Coisa. Dessa forma é que nasce "a prática pela prática".

Nossa militância se inclina a esse movimento, pois, é a forma que a burguesia nos quer, "Quem está preso gostaria de sair, desesperadamente. Em situações como essas, já não se pensa, ou então se pensa sob pressupostos fictícios. Na práxis absolutizada tão somente se reage, e por isso mesmo de um modo falso". É muito fácil se resignar do trabalho de pensamento, do Ser Consciente para o Ser Prático; a UJC se coloca num estado de comodidade, num estado de minoridade (Kant, em "O que é Esclarecimento?"). Vejamos:

"É tão cômodo ser menor. Se possuo um livro que possui entendimento por mim, um diretor espiritual que possui consciência em meu lugar, um médico que decida acerca de meu regime, etc., não preciso eu mesmo esforçar-me. Não sou obrigado a refletir, se é suficiente pagar; outros se encarregarão por mim da aborrecida tarefa." Esse texto de Kant é terrível em quase todas suas páginas, faz a compreensão da "Consciência do Homem" uma ilha, responsabiliza a conduta do sujeito nas propriedades do seu corpo isolado; além de ser repugnante ao falar de "todo o belo sexo". No entanto, existe uma contribuição que os leninistas trazem (sobretudo superam) de Kant e do idealismo alemão: a consciência do Sujeito não pode estar em outro lugar que não no próprio Sujeito.

Nesse sentido, é claro, os leninistas entendem "Sujeito" como um corpo coletivo, com um Ser Consciente. Com diz Ademar Bogo:

"Para alcançar sua finalidade histórica, o sujeito individual precisa converter-se em um sujeito coletivo, lançando mão de um instrumento organizativo que possibilite não somente refletir e agir sobre a realidade, mas, também, empenhar-se com todas as forças para transformá-la e, junto, transformar-se, para ser, enquanto militante, ainda melhor do que já é." (Política de Formação e Projeção de Quadros, Bogo)

Ou melhor, num outro nível de abstração, como dizem os fundadores do marxismo: "A consciência não pode ser outra coisa que não seja o Ser Consciente" ~ uma das minhas citações favoritas em toda vida ~

Voltando ao nosso eixo dessa parte, a análise dos termos de Adorno. Esse movimento da "prática pela prática" é um desentendimento de onde a consciência habita e o que é o Fazer Militante e o Ser Militante (lembrem, Sujeito Coletivo). Nossos militantes pensam que é possível reservar o pensamento em algum lugar, desligar o cérebro em tais situações e momentos, e depois retoma-la (nunca vi esse cérebro ligado, na verdade). O pior, pesam que é possível fazer qualquer coisa de REAL fora de uma dinâmica consciente onipresente. Ignoram que o leninismo é álgebra da revolução e que qualquer movimento nosso é, na verdade, em trabalho e avaliação, um exercício de equação. [nota: numa equação se exercita o que equaciona e o equacionado, é uma relação consciente de trabalho]

Nossa militância pensa sob pressupostos fictícios; quando se fala de "unidade entre teoria e práxis", pratica a preponderância da prática. Isso é, como vimos anteriormente, uma resposta à nossa realidade de impotência enquanto movimento comunista, é uma ação desesperada. Por isso, também, a UJC não se coloca em questão, está presa em satisfazer o seu desespero, está presa na condição de reação, não consegue criar a própria pauta, nem o que pauta sobre os trabalhadores.

"A pseudoatividade é, em geral, a tentativa de salvar pequenos enclaves de imediaticidade numa sociedade integralmente enrijecida e mediada. Isso é racionalizado com a ideia de que as pequenas mudanças seriam uma etapa no longo caminho rumo à transformação do todo."Não diria que os militantes da UJC entendem, em abstração, "que as pequenas mudanças seriam uma etapa no longo caminho rumo à transformação do todo.". No entanto, essa é sua prática política. Na UJC e PCB bradamos o nosso fazer como: “O objetivo final, seja lá qual for, para mim não é nada, o movimento é tudo”. (Eduard Bernstein apud Rosa Luxemburgo p.2 de Reforma ou Revolução). Digo isso no mesmo sentido que disse nos meus documentos de Julho de 2022, Resoluções acerca da nossa tática política e a formação do núcleo UFCSPA:

Há um abismo tendencial entre uma organização comunista ineficiente e um movimento social-democrata. O social-democrata ineficiente é aquele que faz concessões de fracasso, o qual não penetra nem pelas vias burguesas na luta política, ou seja, é a estratégia política de concessões sem efeito, apresenta ameaça pela sua tendência. Já o social-democrata de efeito, competente, é uma ameaça não só para o futuro, pela tendência, como também no presente, afasta a classe trabalhadora do objetivo final, fortalece a burguesia e seus aparatos. Isto é, a UJC sem formação de quadros não apresenta uma positiva, por conta de sua incompetência na atividade revolucionária, e está sim “a atacar com uma espada sem acertar o inimigo”, contudo ao se manter na linha radical não condiciona tendência a concessões.

Mas algo tem de verdade em afirmar na UJC a certeza de que nunca alcançará o objetivo final caso mantenha sua incompetência formativa. Em algo tem de muito útil — para fins didáticos — a semântica da palavra “Formação”, o partido é feito de pessoas, e é moldando as pessoas que definimos a Organização. “A Organização sem a Formação não progride, não se percebe, e configura-se tal qual uma massa amorfa.” E acredito que ninguém tenha discordância disso, falta efetivar um plano concreto para superar as questões e deixar de produzirmos encaminhamentos abstratos de “formar quadros para isso e para aquilo” sem definir como, quando, e na perspectiva ampla a longo prazo revolucionário. Podemos ter a melhor linha política, mas se não formos competentes para exercê-la de nada nos servirá.

Nos "momentos de calor", ou melhor, nos períodos de erupção a UJC sempre faz o mesmo dilema "entre a parede e a espada: atiro-me contra a espada". Ao final ela fica orgulhosa do seu suicídio. Toda a concepção de engrandecimento da prática em-si é uma espécie de doença que mata a Organização logo no umbral da vida.

É isto o que chamo de "Período de Cavalos Vendados". A nossa situação de Organização que assustada com uma ameaça inicia uma corrida sem traçar trajeto nem ponto de chegada. Nesse movimento, o cavalo inconsciente de si promove na sua corrida uma disputa contra o próprio vento, mas se satisfaz com o "estar correndo", para ele, o movimento é tudo. Um cavalo vendado não se preocupará por onde chega ou chegará, mas ficará feliz em ter sido mais rápido que antes, pra ele a velocidade e a energia é, por si, símbolo de progresso.

A exaustão dos militantes é, em grande parte, um cansaço da Alienação, do não exercício enquanto Sujeito Coletivo. Quando um Cavalo Vendado deixa de correr sem perder a venda é porque não tem mais fôlego, é quando o absurdo do seu fazer chegou ao limite; mas, por não saber da venda, repousa da corrida e resigna-se do seu Processo de Vida [Lebensprozeß, só se faz no Ser Consciente].

Le camarada que estiver lendo e pensar em mim como "derrotista" ou "pessimista" está terrivelmente engande, vivo porque o instante existe, sobretudo, porque nele fazemos a história. Acho sim que Adorno é um tanto derrotista por não ter se disposto a promover esse debate em plataforma orgânica, é uma pena que tantas contribuições não puderam ter sido dialogadas com o intuito de transformar um Partido. Nesse sentido, Adorno viveu menos, teve uma existência que terminasse em si mesmo. Não pensem que "nada podemos fazer", nenhuma parte do meu texto se desenhou pra isso, diferente do de Adorno. Pensemos como Lukács:

"A realidade não é, portanto, aos homens um caos alheio e hostil, mas, pelo contrário, uma casa a ser construída." - Por que a burguesia precisa do desespero, Gyorgy Lukács.

As "totalidades parciais" que congregam o Complexo Partidário tem que possuir uma unidade orgânica. Esses Episódios Formativos Em-Si é, a redução da FP em Condução de um Sistema de Programas Formativos é, também, um representante d'O Período de Cavalos Vendados. O estado de inconsciência é “o mal do século” para o PCB. Faz-se urgente uma concepção de estrutura política que dinamize a vida de Sujeito Coletivo.

Não tem como entender nada do que tratamos, seja da Formação ou de qualquer outra questão se não tocamos nesse assunto: o estado e dinâmica de inconsciência que aliena, consequentemente, oprime les militantes.

Ouvi dizer [me permitindo o humor] que um tal Vladimir Ilitch Ulianov disse certa vez: “um jornal para toda a Rússia”. E que tal jornal não era apenas a “nacionalização da propaganda”, mas a dinamização das células enquanto unidade do Ser e o Fazer do Sujeito Coletivo. Não é atoa que os bolcheviques mencionam o Jornal como o grande dinamizador da guerra civil na Rússia. O núcleo UFRGS, a CRUJC-RS e a CN adoram debater sobre X e Y aspecto de técnicas digitais, mas ignora o debate na essência sobre a sobre pensar a vida consciente, na tradição de Lênin, o Jornal (o email sobre o “Boletim da UFRGS” foi enviado tanto para a CR quanto para o UFGRS).  Por isso me estresso com essas picuinhas de “esse aplicativo tem tópicos e mensagens rápidas”, é absurdo que les “leninistas” SÓ debatam comunicação (que era pra ser um debate de unidade orgânica das parcialidades) em termos mecânicos, e não como o esqueleto, articulação, mas principalmente como, Centro de Gravidade dos Trabalhos.

Camaradas, eu sei que o núcleo, tal qual quase todos os organismos do PCB nesse país, não é substancialmente leninista. E quando falo de leninismo é uma teoria sofisticada da Suprassunção (Aufhebung) do marxismo, anteriormente do hegelianismo. Ter alguns militantes que, ainda, não compreendem o leninismo, na organização, é tranquilo, o problema é quando o todo da UJC e PCB não se configura numa diretriz, num modo de vida. Não existe tarefa mais urgente do que atribuir dinâmica de vida consciente ao Corpo Coletivo da UJC. A situação da Formação Política do núcleo UFRGS só será resolvida numa construção concomitantemente “extra-nuclear” e “intranuclear” da totalidade de aspectos da UJC. Difícil né? É tornar-se cientista, é conceber a álgebra da revolução, e não tem fórmula para aplicar. Não basta dizer: “isso é tarefa da CR e CN, nosso trabalho é desenvolvimento local” [literalmente localismo], seria, assim, deliberar pela arquivação do próprio exercício e Ser da consciência nuclear, seria pedir que outros organismos tratem o núcleo UFRGS não como Ser pensante, mas como Ser pensado.

A Formação Política é, sobretudo, uma pasta que desenvolve o exame e a organização do estado de Consciência da Classe.