'O partido comunista construindo “Associações de Moradores”' (Rafa Pardan)

Uma Organização Comunitária é uma excelente frente de massas, na contramão do neoliberalismo que tenta isolar cada vez mais os trabalhadores.

'O partido comunista construindo  “Associações de Moradores”' (Rafa Pardan)

Por Rafa Pardan para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Camaradas, escrevo essa tribuna no intuito de mostrar que criar uma organização comunitária não é um bixo de 7 cabeças, elas são fundamentais para nossa luta, coletar e ouvir as demandas do povo, ter um espaço de construção coletiva, como também radicalização e organização da nossa classe.


O que são as Associações de Moradores?

Uma associação de moradores é uma organização comunitária formada por residentes de um determinado bairro, região ou conjunto habitacional, com o objetivo de defender os interesses e direitos da comunidade na região.

As associações têm como principal finalidade a busca por melhores condições de vida e infraestrutura para os moradores, além de promover ações que visem o desenvolvimento social e cultural da região.

Além disso, estas organizações possuem grande relevância no engajamento cotidiano dos cidadãos e incentiva a participação ativa da população na organização dos trabalhadores..

(Moradores da cidade de Taguatinga (DF) participando de uma reunião da Associação de Moradores chamada Rede Cidadã de Taguatinga - RECITA)

Como são criadas?

As associações de moradores se formam de diversas maneiras nos bairros, cidades e condomínios. Um encontro casual no parque entre amigos pode dar origem a uma associação de moradores, uma atividade cultural ou até mesmo a uma partida de futebol comunitária.

Uma vez iniciada, a construção dessa estrutura organizativa comunitária é um trabalho gradual, mas que traz excelentes resultados. Existem vários camaradas, amigos e familiares que não estão envolvidos na construção do partido, mas que gostariam de se engajar mais com a comunidade e suas lutas diárias na região.

Pensando na formação de algum espaço como esse, fica até mais fácil (no sentido de planejamento) quando o processo se inicia com os militantes comunistas do partido que residem ou trabalham na região, já idealizando e construindo gradualmente a organização comunitária para ela ser um espaço de radicalização, luta e construção do poder popular.

Gradualmente convidando as pessoas mais próximas para atividades e encontros, os amigos, familiares e, aos poucos, vão aparecendo novos membros. Com o tempo e os laços formados na comunidade, a organização se solidifica.

A estrutura e normas de uma associação de moradores costumam ser regidas por um estatuto assinado em cartório representando juridicamente a estrutura, deveres e direitos que se tem naquele espaço.

Porém, para nós que somos comunistas, as associações de moradores tal qual um partido comunista, o caráter legal e jurídico é uma questão menor, mas é importante sempre um estudo e debate sobre de como montar isso da forma mais avançada para se proteger juridicamente e não permitir que seja instrumentalizado contra nós, ou que alguma organização política a partir de um entrismo, assuma o controle do espaço, por exemplo.

Também não precisamos nos apegar muito ao nome em si “associação de moradores”, esse material aqui é mais para estimular a ideia de organizar a comunidade para lutar por uma vida melhor, poderíamos chamar de “rede popular”, “rede cidadã” e etc.

(Militantes da UJC e membros da Associação de moradores de Taguatinga se mobilizando pelo viveiro comunitário da região)

Uma Fábrica de radicalidade que produz militantes para o partido

Uma Organização Comunitária é uma excelente frente de massas, na contramão do neoliberalismo que tenta isolar cada vez mais os trabalhadores, uma organização comunitária como essa é uma excelente forma de organizar o povo sob uma bandeira que a princípio não dê tanto choque quanto uma foice e martelo, mas que na prática promova lutas na direção de combater as mazelas promovidas pelo capitalismo e alcançar a libertação do nosso povo.

Hoje um trabalhador médio tem muito medo do dito “comunismo”, mas basta alguns minutos conversando com um trabalhador precarizado que surge muitos diálogos anti-capitalistas, como a necessidade de cooperativas, formação de sindicatos, a luta pela terra, combate à especulação imobiliária e o anseio por um trabalho e uma vida digna.Há várias coisas que movem os trabalhadores em uma Organização Comunitária, é interessante também pensar em organizar essas lutas em grupos.

Alguns exemplos:

Urbano

-- Urbanismo e Acessibilidade

  • Combate a poluição urbana
  • Combate a especulação imobiliária 
  • Direito à cidade
  • Direito a transportes dignos gratuitos e universais 

-- Pessoas sem teto

  • Cozinha solidária 
  • Ocupações

Meio Ambiente

  • Defesa dos Animais
  • Parques Urbanos
  • Áreas de Conservação ambiental

Educação

  • Cursinho popular

Cultura

  • Batalha de rima
  • Teatro Popular
  • Festas culturais populares

Luta contra as opressões

-- Comunidade LGBT+

  • Atividades de acolhimento
  • Formação
  • Ocupações

-- Feminismo Classista

  • Atividades de acolhimento
  • Formação
  • Ocupações

Organizações Comunitárias como frentes de massa do partido

Alguns exemplos:

Potencializar nossas atividades e manifestações

Em uma situação onde o partido em alguma região precise fazer alguma intervenção/manifestação ou avançar alguma luta, pode também pautar isso dentro das organizações comunitárias que foram criadas pelos comunistas e aumentar exponencialmente nossa presença nos atos que estejamos coordenando ou compondo, por exemplo, na luta contra a privatização de alguma área de lazer como uma quadra de esportes que seria vendida para a iniciativa privada, acabando com o pouco de lazer e cultura que os moradores da região tinham, o partido se posiciona contra aquela arbitrariedade do Estado Burguês, faz uma manifestação e leva 7 militantes. Nessa situação, pode ser tranquilamente convocado dentro do espaço de organização comunitária a mesma pauta, aumentando em dezenas ou até centenas o número de participantes. Esse tipo de atividade fortalece a organização dos trabalhadores e radicaliza o povo, que vai ver com mais clareza quem são seus aliados e inimigos.

Finanças

Hoje as finanças da nossa militância dependem muito da cotização e das nossas atividades improvisadas e sofridas para levantar o mínimo de caixa para manter nossas atividades do partido, mas ainda bem distante da perspectiva de investimento e desenvolvimento dessas próprias finanças. Uma organização comunitária também pode ter internamente uma cotização e um financiamento coletivo para manter e desenvolver sua atuação, que na maioria das vezes estará alinhada com o partido comunista e dividindo tarefas nesse caminho, já que foi formada e construída pelos comunistas. Com isso, já podemos pensar em um grau de alívio financeiro que teríamos internamente, Porém, a partir desse trabalho em conjunto, também podemos pensar em atividades frequentes da comunidade que podem gerar finanças para o partido, como, por exemplo, atividades culturais como gincanas, festa junina onde ocorre essa confraternização comunitária e nossos militantes poderão se antever para vender bebidas, comidas e outras coisas. Nós já fazemos isso entre os militantes, mas e se nós tivéssemos uma oportunidade constante de construir essas atividades financeiras entre os trabalhadores? De fato, melhora exponencialmente nosso caixa e nossa organização financeira.

A sede da organização comunitária também pode ser a mesma sede do partido comunista

Estamos bem acostumados com nossas sedes sendo apenas escritórios que servem como depósitos de material e onde nossos burocratas se reúnem para definir nossa linha política de forma bem dirigista, mas será que é só esse o potencial uso que as sedes têm? Nossas sedes poderiam ser usadas para tocar um cursinho popular, para ser um espaço de estudo coletivo, de atividade formativa mais ampla, de reunião comunitária, de confraternização e etc… Uma organização comunitária como uma “associação de moradores” também precisaria de uma sede para fazer suas reuniões, guardar seus materiais e fazer suas inúmeras atividades. Não penso que seja muito racional tanto o partido como uma frente de massas do partido se matarem para ter uma sede para cada. Com tranquilidade, poderia ser um espaço compartilhado e isso aliviaria o gasto que o partido tem para alugar um espaço e mantê-lo. Uma vez que a comunidade ativamente estaria se engajando naquele espaço que representa ela, dividir os custos também não seria um problema. Isso potencializaria atividades de finanças, poderia ter um mural dentro do espaço como avisos de atividades educativas, envolvendo a comunidade e abrindo espaço para nosso povo conhecer nossos quadros e seus trabalhos.

Recrutamento

Uma organização comunitária, se bem idealizada e construída, pode ser um excelente espaço para radicalização, mapeamento e recrutamento. Um exemplo: Atividades políticas conjuntas são formas práticas de criar credibilidade com a comunidade, ter pessoas querendo participar e ajudar a construir o partido revolucionário a partir dessa experiência de ter como referência local, seja no trabalho ou nesses espaços em conjunto, militantes do partido. Isso acontecendo de forma ativa em uma organização comunitária tem um grande potencial de recrutamento de trabalhadores destacados. Também, dentro de uma sede compartilhada, atividades culturais, de formação como cursinhos populares, teatros comunitários ou debates com a comunidade também servem de forma passiva para potencializar nossos recrutamentos entre os trabalhadores que alcançamos e formamos laços afetivos diariamente.

O Neoliberalismo destrói diariamente nossa organização enquanto classe e comunidade. Muitos trabalhadores só anseiam por pertencer a algo, por se reunir com outros enquanto comunidade. Já tivemos muito sucesso no passado em construir junto da comunidade uma revolta mais organizada ao capitalismo. Hoje somos só uma casca da casca. Precisamos voltar à nossa classe e construir um partido que ela reconheça como seu.

Mapeamento que potencializa a luta nas categorias de trabalho/empresas

Cada trabalhador para entrar nessas frentes de massas do partido ou organizações comunitárias do partido, é registrado, podemos com tranquilidade fazer um mapeamento daquela comunidade organizada, suas áreas de trabalho e etc., facilitando assim também pensar em como potencializar nossa inserção e disputa política seja em empresa X, categoria X ou até mesmo a partir desse mapeamento, pensar em atividades nas lutas contra as opressões como a comunidade LGBT+, feminismo classista, anti-racismo e etc.

Observar também nesse mapeamento se há algum trabalhador de alguma categoria que teríamos interesse em organizar ou promover alguma inserção, por meio desse eventual espaço comunitário nós temos um bom potencial de alcançar muitos desses trabalhadores e até eventualmente recrutar eles para o partido, como os trabalhadores rodoferroviários. 

Eleições

Coloquei esse tópico como um tópico extra, sei que há muita polêmica sempre quando falamos de eleições, mas gostaria de aqui brincar um pouco com nosso imaginário. Um trabalho conjunto do partido com frentes de massas como uma organização comunitária tem um potencial enorme na disputa política durante as eleições burguesas. Apesar de não ser nossa estratégia enquanto comunistas fazer a revolução pela via eleitoral, não é um espaço que podemos nos dar o luxo de abandonar enquanto disputa, e uma disputa simbólica não é suficiente e também não deve ser o nosso horizonte. Mas dentro da organização comunitária antes de começar o período eleitoral, é interessante pensar em como um espaço onde os trabalhadores se reúnem também é um espaço de disputa política, onde a comunidade engajada pode ter um importante impacto na elevação da nossa consciência crítica social e política. Dentro das organizações comunitárias, poderíamos ter um espaço de debate com eventuais candidatos ligados à comunidade e com a própria tendência do espaço, ter a comunidade assumindo também a tarefa de participar ativamente da eleição de forma voluntária potencializando o impacto eleitoral de nossos quadros políticos eleitorais. Em vez de ter alguns militantes na tarefa eleitoral, podemos ter dezenas de voluntários ou até centenas, dependendo de como isso seja organizado, do partido em conjunto com a comunidade.

Essas tarefas além de promoverem bastante nossa atuação, nosso partido e nossos quadros, também serão um espaço onde vamos ter muitos trabalhadores que acreditam na nossa luta, se organizando para construírem o partido comunista.

Comunicação

Sobre comunicação, há algo interessante pra gente pensar. Atualmente nós objetivamente não conseguimos alcançar o povo, não temos midias contra-hegemônica que alcancem suficientemente os trabalhadores de uma forma geral, lembro durante o auge do facebook muitas páginas de notícias como “Taguatinga da depressão” apareciam  divulgando notícias e assuntos que não chegava a nós pelos outros locais ou jornais, isso acabou alcançando muitas pessoas que seguiam aquelas páginas por se identificarem com aquela comunicação, durante o golpe da ex-presidenta dilma, muitas dessas páginas que tinham um alcance gigante, passaram a divulgar o pior da propaganda golpista e reacionária, isso como uma peça de um conjunto maior, teve sim seus efeitos nessa formulação do senso comum, esse é um potencial forte desse tipo de ferramenta, essas páginas foram perdendo seu propósito com o tempo, há poucas hoje que não foram completamente vendidas e perderam seu engajamento orgânico que tinham, mas analisando isso, na prática ainda carecemos de uma mídia que divulga de forma geral as notícias das nossas cidades, bairros, vilas e etc, e das lutas dos trabalhadores como um todo.

Uma grande sobrecarga seria criada ao alocar essas tarefas que não estão diretamente ligadas ao partido para os militantes, mas há um grande potencial nas organizações comunitárias ligadas ao partido terem e desenvolverem essa comunicação nas redes, apoiando mesmo que discretamente as nossas pautas e lutas, daquela forma sutil que a comunicação pode ter.

Um exemplo: O Partido começa a se preparar para fazer uma manifestação contra a privatização da rodoviária, organizações comunitárias ligadas ao partido começam a pautar isso e se preparar para compor também, com a existência dessas redes de notícias poderia ser divulgado neles que “Movimentos sociais de São Sebastião estão organizando manifestação contra a privatização da rodoviária dia X horario Y local Z” entrevistar alguns dos organizadores sobre o que motivou esse ato (vídeo) e com isso nossas atividades saem da nossa bolha ou alcance direto e alcança um outro nível, mobilizando a sociedade.

Pode parecer bobo, mas só com isso nós conseguimos ir pautando e mobilizando pessoas de fora do nosso alcance organizativo direto para também irem pautando essas questões e com isso podemos ter um impacto maior.

Essas redes de notícias atuando cobrindo as atividades do partido (de forma sutil) cobrindo as atividades das organizações comunitárias e movimentos sociais (de forma ativa) e cobrindo a luta dos trabalhadores como um todo, já naturalmente gera um engajamento, só de uma rede de notícias de alguma organização comunitária divulgar uma atividade grande de batalha de rima por exemplo, naturalmente chamaria atenção das pessoas que se interessam por isso, as mesmas divulgaram com os amigos e aquela pagina ja aos poucos iria a partir da cobertura de diversos temas do cotidiano de uma comunidade, alcançar ela de fato.

Não é um texto para falar sobre comunicação do partido como um todo, mas nós hoje carecemos muito de um jornal contra-hegemônico que alcance profundamente nossos trabalhadores e divulgue nossas lutas. O Brasil de Fato é um excelente exemplo de mídia progressista que, pelo que eu acompanhei, atua bastante na contramão da mídia burguesa e cobre muitos Estados e lutas que não encontramos em outras mídias, mas é o suficiente?

No DF, se tivéssemos algumas organizações comunitárias em diferentes cidades e desenvolvessem gradualmente esse tipo de comunicação e mídia, poderíamos pensar em unificar esses esforços em algum momento e com experiência, ferramentas e formação, ter uma base boa para formar um profissional veículo de notícias do nosso Estado que ativamente potencializaria nossas intervenções, nossas pautas e lutas. Se isso fosse feito em outros Estados, poderia também ser unificado em algum momento e criar um veículo de mídia para disputar a opinião pública com a máquina de propaganda burguesa. Não faltam militantes formados em jornalismo no partido, mas precisamos criar as bases para elevar o nível da nossa comunicação, não só como partido mas também para disputar a comunicação como um todo.