'O Partido Comunista Brasileiro e o Trauma da ilegalidade que perpassa até hoje. - Uma Tribuna comparativa dos primeiros anos do Partido com os tempos atuais' (Matheus Soares)
Devemos nos inserir, mostrar nossa cara e criar uma identidade visível e palpável para o povo. Fazer isso não é só criar algo para nós nos orgulhamos, é construir o que a classe trabalhadora possa ver como um símbolo de esperança e de coragem para se organizar e lutar.
Por Matheus Soares para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Venho nessa tribuna tenta elucidar alguns pontos que acho importantes para seguirmos na Reconstrução Revolucionária do Partido Comunista Brasileiro. Não vai ser um texto com citações pontuais, como muitas das tribunas apresentadas até o momento, mas uma breve análise da história do PCB, partindo principalmente do Livro “A formação do PCB 1922-1928” do nosso eterno Astrojildo Pereira - que tem pontuações que são válidas até os dias de hoje. – e também da questão histórica da ditadura empresarial-militar.
Não é novidade para a militância que o Partido Comunista Brasileiro, em suas origens chamado de Partido Comunista do Brasil, dá início a militância vermelha organizada no país. Em março de 1922, finalmente temos a concretização de uma ideia surgida em 1919. Contudo, em julho do mesmo ano, o PCB vem abaixo e é colocado na ilegalidade pela primeira vez. Começava assim a história de um partido que, de 1922 até 1985, ficou apenas dois anos e quatro meses dentro da legalidade jurídica.
Quando falamos em legalidade vamos muito além do que simplesmente ter uma legenda e a possibilidade de concorrer em eleições. Falamos sobre a possibilidade de mostrar nossa cara sem “ter medo constante” de ser reprimido. É sobre ter orgulho de nossos símbolos, personagens e bandeiras, vai muito além de uma questão burocrática e parlamentar, é poder aparecer de forma concreta tanto pro proletariado, quanto para os nossos inimigos. E, mesmo com a ilegalidade batendo na nossa porta durante décadas, a repressão não nos intimidou, como reforçou Viana no texto introdutório do livro de Astrojildo Pereira.
Continuamos atuando de forma ilegal, através da panfletagem, dos jornais e de diversas outras formas, um exemplo foi a situação do Bloco Operário e Camponês (BOC). Justamente em uma época em que o Partido não podia lançar candidaturas, nem mostrar seus símbolos e identidades, mas seguimos em frente, porque mesmo uma ilegalidade jurídica devemos sempre estar presentes, sem jamais baixar nossas cabeças e nossas bandeiras.
Essa estratégia, que há tempos fez sentido, justamente com o intuito de não dividir o eleitorado operário e camponês, o que na conjuntura e métodos daquelas eleições era sim válido, se tornou uma tradição de reboquismo, de se esconder e de apoiar partidos até mesmo de cunho reformista. Isso acaba se refletindo muito nas últimas atuações do PCB, que foi ficando a reboque do PSOL e do PT, lançando apenas 3 candidaturas a presidência desde 94. É quase como uma herança familiar que deveria e deve ser renegada daqui para frente. Contudo, nosso foco não é fazer uma análise mais profunda da questão eleitoreira do PCB nos últimos anos.
Esta é uma tribuna que está tentando analisar as questões de agitação, sobre símbolos e nomes e sobre dar as caras na luta. O que, infelizmente, hoje em dia apresenta-se de forma muito artesanal e tímida. Isso se reverbera em identidade, em bater o olho e saber que somos nós, em falar abertamente sobre “ditadura do proletariado”, etc. Parece que o PCB criou trauma das ruas e do povo.
Avançando um pouco o comparativo que foi proposto no início, chegamos à questão dos jornais. Nos primeiros anos do Partido temos o “A Nação” que é, de longe, o melhor que já tivemos, era “Justamente um jornal orientado pelo Partido da classe operária, A Nação desde seu primeiro número consagrou uma página inteira ao movimento sindical, publicando diariamente amplo noticiário, notas, artigos, documentos, tudo enfim que pudesse contribuir para o fortalecimento da organização e das lutas operárias” (Pereira, p.103).
Era um jornal de cunho semanal, combativo, no sentido de denúncias, organizador, no sentido de integrar movimentos sindicais e, principalmente, formador. Se dispunha a redigir notas, artigos e documentos, tudo o que um jornal de cunho radicalizado e leninista deve ter. Bem diferente do que temos hoje, um jornal que carinhosamente chamamos de revista – porque não é isso que é? – Temos poucos textos críticos, que mais parecem chamadas ou reportagens cotidianas da Falha de São Paulo e não consegue movimentar uma massa através dele, o que é preocupante em um ‘jornal’ de cunho revolucionário.
Visto isso, é necessário criar um jornal com uma identidade visível, a foice e martelo não é, como alguns acham, uma colonização intelectual importada, mas sim uma emblema que devemos carregar com orgulho. Tendo isso em vista, peguemos “A Classe operária” e novamente o jornal “A Nação”, são modelos a serem seguidos, tanto na forma visual (https://acesse.dev/imagem-do-jornal-a-nacao), quanto na sua forma de escrita e organização. Eles não escondem nossos símbolos, nossas frases e nossos anseios, isso é de extrema importância, para deixar claro quem somos e o que queremos.
Mesmo que os jornais sejam de extrema importância não devemos esquecer que estamos na era das redes sociais e que elas não são esse bicho de sete cabeças que tanto pregam. É um espaço que deve ser disputado e que os comunistas devem se introduzir para conversar e se apresentar para as massas.
Devemos nos inserir, mostrar nossa cara e criar uma identidade visível e palpável para o povo. Fazer isso não é só criar algo para nós nos orgulhamos, é construir o que a classe trabalhadora possa ver como um símbolo de esperança e de coragem para se organizar e lutar.
Mas não tenhamos medo “cabe à atual geração de revolucionários [...] fortalecer a nova luta pelo socialismo que ora se desenvolve.” (Monteiro, p.7, texto introdutório do livro Formação do PCB). Venceremos, mostraremos nossa cara e iremos juntos caminhar para a Revolução Brasileira.