'O oportunismo nos partidos sociais-democratas: a carta de despedida de um comunista de um partido social-democrata' (Contribuição anônima)

O texto que segue é a carta de despedida desse quadro para os camaradas de seu antigo partido, onde ele faz uma análise aprofundada do como o oportunismo dentro do partido e como ele corrompe as linhas políticas na direção da social-democracia.

'O oportunismo nos partidos sociais-democratas: a carta de despedida de um comunista de um partido social-democrata' (Contribuição anônima)

Contribuição anônima para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Salve camaradas, 

Gostaria que todos vissem o que a influência das linhas revolucionárias consegue fazer sobre os melhores quadros de partidos sociais democratas. Recentemente um desses quadros, que é próximo a mim, deixou o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) para se juntar a esquerda revolucionária. O texto que segue é a carta de despedida desse quadro para os camaradas de seu antigo partido, onde ele faz uma análise aprofundada do como o oportunismo dentro do partido e como ele corrompe as linhas políticas na direção da social democracia e depois se perpetua dentro dos partidos sociais democratas. 

Como o objetivo da tribuna tem por “finalidade contribuir para a superação da crise dos comunistas brasileiros” e como esse camarada não é um raio em céu azul, mas sim um dos comunistas perdidos em partidos sociais democratas (este com mais esclarecimento que os outros, por enquanto), estou enviando a carta para as tribunas do nosso partido, com o consentimento desse camarada censurando nomes e informações que possam levar a identificação de qualquer pessoa envolvida. Espero que todos os camaradas achem a análise instrutiva.

““

Salve, camaradas, estou saindo do partido. 

Fiz muitos amigos e muitos inimigos no partido, e tenho certeza que cada um deles valeu a pena. As amizades, guardo pra sempre no coração, e com certeza nos encontraremos na luta de classes, tamo junto sempre. As inimizades, guardo também. 

Mas não saio por conflitos pessoais, muito pelo contrário. Saio porque percebi que a linha política do partido nada tem de comunista, e que chega a ser reacionária em muitos momentos, como exponho abaixo. Os conflitos que tive com as direções são consequência direta desta percepção.

É essencial que cada militante entenda o que aconteceu aqui nos últimos meses. Uma fração do partido, destacadamente (8 nomes censurados) e deus lá sabe quem mais por baixo dos panos, moveram uma ampla campanha contra mim, que se acentuou conforme eu fui percebendo e combatendo o oportunismo generalizado dentro do partido. Ora tentaram apenas me escantear, prática comum que geralmente funciona para afastar militantes críticos às direções, ora tentaram me ignorar, e agora decidiram que não dava mais pra me tolerar e iniciaram o processo de expulsão. Prefiro sair “por bem”.

Não estou dizendo que houve uma conspiração. Na verdade, até teve um pouco de conspiração, pelo menos uma reunião clandestina ocorreu na casa do camarada (nome censurado), para discutir o que fazer com o “problema (nome do autor da carta)”, alguns dias antes da farsa da conferência municipal de outubro. Foi lá que decidiram espalhar mentiras, pegando meias verdades de pessoas que estavam insatisfeitas com a minha cobrança no sindicato dos bancários e espalhando boatos de que assediei, de que xinguei, de que eu ia sair do partido… essa última foi uma profecia autorrealizável, é óbvio que em algum momento eu sairia de um partido que me segura em vez de me ajudar a travar a luta de classes. Mas essa reunião foi apenas a ferramenta pra alinhar a tática de atuação dos oportunistas contra mim. O que gerou a campanha contra mim foi o desejo de me barrar, desejo que alinhou os interesses de oportunistas em me impedir de continuar combatendo o oportunismo. Um mecanismo de defesa social, quase que “natural”. 

Percebam que estou há meses acusando o partido, acusando as lideranças, denunciando os absurdos e os desvios da conduta do partido, chamando pra conversa, tentando abrir o jogo. Como pode 1 jovem militante colocar um grupo inteiro de militantes experientes contra a parede? Será que é porque eu sou agressivo e autoritário? Será que aterrorizei o partido com a minha personalidade e conduta? 

O partido está acuado de medo de ser exposto. É o medo de que eu jogue a merda no ventilador que faz o partido assumir o tom de defesa, enquanto eu acuso. O medo de serem responsabilizados pelos seus erros e desvios. O problema nunca foram as minhas atitudes. Olhem para as ações, e não para os discursos. Sou inocente e agi como inocente do começo ao fim, enquanto os oportunistas se acuaram e fugiram do debate, nunca responderam às minhas críticas, e nem vão, porque isso levaria eles a negar aquilo que é o seu propósito: continuarem se aproveitando da luta de classes.

Não me arrependo de ter confrontado as pessoas que se aproveitam da degeneração do partido. Essas pessoas não querem que o partido seja reformado, por isso é automático pra elas acharem que o problema sou eu, e não a degeneração do partido que eu deixo explícita. A degeneração do partido nem está em questão pra essas pessoas. 

Sei que a grande maioria de vocês sente a degeneração do partido, sente que algo está errado, embora não consigam identificar exatamente o que é. Consegui expor alguns pedaços de críticas pra vocês, antes de ser sistematicamente expulso de todos os grupos de whats do partido. Foi um vale-tudo para impedir que eu continuasse pisando nos seus calos.

Se eu tivesse resistido de forma mais organizada, “articulado” melhor com mais membros, e tinha muita gente querendo isso e me chamando pra “articular”, talvez tivéssemos ganhado essa briga aqui em (nome da cidade), e aí teríamos caminho aberto para construir uma célula verdadeiramente comunista aqui. Ainda seríamos uma célula comunista isolada numa cidade pequena, dentro de um partido degenerado, então não sei até onde isso nos levaria, e receio que não muito longe. 

Mas esse “articular” na verdade é conspirar, e essa cultura de conspirar, chamada as vezes de “fazer política” é parte do problema, típica de uma política de círculos. As coisas têm que ser abertas, transparentes, senão não funcionam, não permitem crescimento do partido. A centralização da informação é a centralização do poder, e esta é a morte da democracia interna do partido, o que mata o partido em si. Ninguém quer “trabalhar para os outros”, democracia interna é fundamental. 

Por isso eu nunca quis conspirar, porque sempre me foi claro que a simples necessidade de se conspirar para conseguir fazer o certo, de ter que brigar com o partido pra poder militar pela causa comunista, é um sintoma de um problema muito grave. Não é normal.

Saio de cabeça erguida, e o que eu mais quero é que cada militante do partido também erga sua cabeça e confronte o círculo de amigos que há décadas se aproveitam do partido a nível local e iludem os militantes para transformá-los ou em novos oportunistas amarrados por cargos, como tentaram fazer comigo no sindicato, ou em cabos eleitorais não remunerados, crentes de que tudo o que podem fazer é ajudar a eleger mais oportunistas.

Vocês são maioria, porra. Deixem de ser trouxas, deixem de permitir que usem vocês. Façam valer o que é certo.

1 - DINHEIRO IMPORTA. Vocês acham que é à toa que a contribuição financeira simplesmente "deixou" de ser exigida? Se você não está pagando por algo, o produto é VOCÊ. Não se faz nada sem dinheiro. Cobrem participação proporcional a renda, é o que DETERMINA o Estatuto do partido. Cobrem o 1% da renda de todos. Muitos partidos têm até uma escala crescente, cobrando 3%, 5%, 10%, 20% de quem ganha muito dinheiro. Se a pessoa acredita na causa, porque ela não está financiando a causa? A contribuição financeira é uma prova de convicção. Para o assalariado padrão da 15, 20, 50 pila no máximo, e é óbvio que dá pra baixar pra 2 reais pra alguém que ta apertado, ou mesmo pra 1 centavo, só pela simbologia. Mas tem que cobrar, pois é o fato de contribuir com o partido que dá direito ao militante cobrar de volta o apoio do partido. Elementos como (nome) que defendem abertamente a não participação financeira não estão preocupados com quem não tem dinheiro, estão preocupados com o risco de serem cobrados pelas bases, de ter que vir a fazer a política das bases, e não a sua própria, de ter que defender as nossas bandeiras, o nosso programa, e não aquilo de mais votos no nicho de esquerda perdida em que se inseriram.

Agora, e para (nome) será que dá quanto 1% da renda? Para os (sobrenome) mais abastados? Para o (nome – vereador PCdoB), que comba 3 salários e tem várias propriedades? Deixem de ser bestas, esse negócio de eles cada pouco "puxaaaarem dinheiro do bolso", “nooooossa, que bons moços”, essas contribuições dos sindicatos, esse fazer de tudo por fundo eleitoral, são essas coisas que tiram a independência política do partido. É assim que só tem dinheiro pra coisas relacionadas a ocupar cargos e eleições. O controle do dinheiro pelos oportunistas eleitoreiros atrofia tudo o que não serve diretamente a eleição.  Se vocês não se bancam vocês não são independentes, tão trabalhando pra alguém. 

E o partido precisa de muito dinheiro, inclusive isso tem que ser uma preocupação constante, de todos os militantes do partido. Dinheiro é equipamento pra gravar conteúdo, dinheiro é livro pra treinar militante, dinheiro é militante profissionalizado com salário pago pelo partido pra militar 8h por dia, dinheiro é militante viajando pra conhecer e aprender com experiências de sucesso na luta de classes em outros lugares... precisamos de muito dinheiro, e por isso também de muita transparência no trato com o dinheiro. A lista de contribuintes e gastos mensais tem que ser esfregada na cara de todo militante contribuinte, pra tirar o estigma de partido corrupto que paira sobre todos na política. Dizer que mostra os dados pra quem pedir, na prática, já é esconder. O portal do PCdoB na internet apresenta os dados nacionais, mas de forma extremamente embaralhada, por documento, tornando impossível a análise. É só para a justiça eleitoral, não é transparência real de forma alguma.

2 - CONHECIMENTO IMPORTA. Não caiam em conversinha fiada de gente que quer enaltecer a burrice, que acusam de "academicismo" quem defende a formação. Essa gente ou quer vocês burros ou tem algum problema de auto estima muito grande que não podem aceitar com humildade que é importante estudar. Conhecimento é poder, a gente sabe disso, a burguesia tenta nos privar de conhecimento de mil formas, nós lutamos por acesso a conhecimento para a classe trabalhadora. É óbvio que conhecimento importa. E por isso tem que haver uma ampla democratização do conhecimento dentro do partido, e tem que ser de acordo com os interesses do partido. 

Isso significa que professores de alto calibre do partido devem rodar pelos interiores, levando acúmulo de conhecimentos, significa que os militantes mais avançados, com experiência em uma ou outra área, devem viajar levando seu aprendizado, contando como organizaram greves, como fortaleceram movimentos locais, como fizeram boas experiências de propaganda, agitação e formação... Não é pra ir fazer palestrinha, vender livro, ou fazer comício, é pra ir sentar em reunião horas a fio, pra debater os problemas concretos de organização, para explicar em detalhes as experiências de sucesso de outros lugares e tentar exportar para novos lugares. 

Democratizar o conhecimento também significa ler livros. Não interessa se tu gosta ou não, se ta acostumado ou não, se é alfabetizado ou não. É teu dever de militante se tornar um militante melhor, mais capaz, mais produtivo na luta de classes, e pra isso é imprescindível ler os clássicos, entender minimamente de história, de economia, da trajetória da luta de classes, do marxismo-leninismo em geral. Nossa principal tarefa é crescer, formar mais militantes. Quem vai querer te ouvir se tu não tiver nada a ensinar? Se não souber explicar os problemas, mostrar a podridão do capitalismo em detalhes, tirar dúvidas em geral? É absolutamente vital que todo militante estude muito, Lenin falava em 2h por dia durante 10 anos pra formar um comunista. A maioria dos militantes não estuda nem 2h por mês. Isso não é uma crítica moral nem tem nada a ver comigo ou com “a realidade do trabalhador”, estou falando de vocês, e para vocês que se propõe ser militantes comunistas. Isto é a constatação de como de fato estamos e de como precisamos estar para avançar. E é claro que isso não é culpa dos militantes individualmente, é uma falha do partido, que não incentiva, não mostra a importância, não ajuda, e não facilita o estudo para os militantes. É dever do partido, através dos militantes que conseguiram estudar mais, ensinar os militantes que ainda não conseguiram, isso é democratizar o conhecimento, mesmo que requeira alfabetizar os camaradas que ainda não tiverem esse direito. E é dever de todos difundir essa cultura. Quem é contra o estudo é contra a democratização do conhecimento: quer vocês burros. 

3 - PROPAGANDA COMUNISTA IMPORTA. Gente, cada um de nós que ta aqui entrou no partido porque alguma propaganda chegou até nós, provavelmente muitas propagandas, que acabaram nos convencendo. Pode ter sido via conversas, filmes, livros, cartazes, atos, manifestações… tem mil formas. E deveríamos estar fazendo todas elas. Temos que espalhar a palavra, mostrar a injustiça do capitalismo como antes alguém mostrou pra nós, ninguém nasceu sabendo. Convencer as pessoas a lutarem por um mundo justo, como alguém nos convenceu, ninguém nasceu militante. Mostrar pra elas que é possível um outro mundo, como alguém mostrou pra nós. 

Tudo isso é propaganda. Todo militante que não esteja direcionado a outro serviço específico no partido deve fazer propaganda e agitação a cada segundo de tempo livre que tenha e esteja disposto a dedicar ao partido. Isso significa ter os postos de trabalho de propaganda preparados para serem facilmente assumidos pelos militantes. Exemplos: 

- ter sempre vários modelos de panfletos prontos, com grupos pra organizar brigadas sempre que 3 ou 4 pessoas puderem ir juntas e panfletar, que é a atividade mais simples e mais tradicional de propaganda, que a burguesia ainda usa, e nós paramos de usar no processo de degeneração burguesa do partido;

- ter um jornal, físico ou digital, com postos de trabalho para produção de conteúdo, pra que cada camarada que puder ajudar com 1 ou 2 horas por semana possa trabalhar nisso, seja escrevendo, gravando vídeos, editando conteúdo, diagramando, distribuindo ou ampliando a rede de distribuição; 

- ter modelos de cartazes pra espalhar em pontos de ônibus, em volta de fábricas, explicando a exploração dos trabalhadores, chamando pra mobilização por reformas; 

- ter newsletters segmentadas por público, com disparo organizado e sistemático de notícias do partido, dá algum trabalho pra montar mas depois vira uma máquina de propaganda que é nossa, que não depende das redes sociais e seus algoritmos pra funcionar. 

Precisamos formar e informar amplamente a classe trabalhadora, espalhar a nossa ideologia, e isso é trabalhoso.

Devemos encontrar os melhores comunicadores e propagandistas entre nós, treiná-los, prepará-los para debater, e dar suporte para que trabalhem comunicando em grande escala. Devemos fabricar propagandistas, exatamente o que a burguesia faz com seus políticos, jornalistas e “economistas”. Travar a disputa de ideias como profissionais, não como baratas tontas apenas falando cada um aqui e ali nos seus perfis. Rádios são importantes se bem usadas, mas a internet é onde estão os jovens, e comunista come criancinha gente, é mais fácil e mais produtivo pra luta de classes recrutar um jovem, que pode vir a passar décadas militando. Devíamos estar produzindo Felipes Netos e Felcas comunistas. Não existe “talento” em comunicação, como não existe em lugar nenhum, é tudo prática e trabalho duro. 

4 - DEMOCRACIA INTERNA IMPORTA. Isso significa ampla liberdade de crítica. Não existe essa de “espaços adequados”, de “permitir” a crítica em um espaço de 3 minutos numa conferência a cada dois anos, de não debater em grupos, isso são formas de cercear o debate. Liberdade de crítica significa estimular a crítica de todas as formas possíveis, pedir para as pessoas a opinião delas, encorajar que falem, e, principalmente, não puní-las ou constrangê-las por pensarem diferente, se não elas não falam, e vira um partidão de mudos, sem coragem de questionar e propor e avançar, só baixando a cabeça e trabalhando de graça pra eleger gente que não tá lutando contra o sistema coisa nenhuma… 

Hoje o PCdoB faz o completo oposto, tenta cercear e limitar as opiniões, “evitar briga” ... vocês não percebem o ridículo que é, num partido que se diz revolucionário, se chamar alguém de revolucionário pejorativamente? Fui chamado de web-revolucionário (o que ainda ridiculariza o principal meio de comunicação e de sociabilização do país), de revolucionário de apartamento (como se até não estarmos em selvas fosse absurdo falar em revolução), fui acusado de “querer mudar as coisas” kkkkkk. Todas essas piadas são formas de desqualificar a própria ideia de revolução, de fazer parecer algo impossível, de legitimar o peleguismo generalizado atual no partido através da ridicularização da proposta comunista em si, que é a revolução. A revolução é de verdade gente, é séria, não é uma lenda. E ela é construída, com trabalho dos militantes. Esperar que venham “tempos revolucionários” é anti-marxista, é a essência do oportunismo.

Quando me acusam de querer ser mais que os outros, de me achar isso ou aquilo, são tentativas de se ridicularizar a própria ideia de questionar o partido. É assumido que as ordens tem que vir de cima pra baixo, que só o que podemos fazer é obedecer às normas superiores, se não estaremos sendo crianças malvadas, violando o verdadeeeiro centralismo democrático. Isso é só centralismo, gente, não tem nada de democrático.

É um centralismo dirigista. O dirigismo se manifesta quando os mais velhos no partido (não na idade) falam e os mais novos aceitam, ou quando nem precisam falar, apenas impõe uma prática, que os novos absorvem acriticamente, e continuam fazendo sempre as mesmas coisas. O que mais explica os nossos jovens não estarem produzindo propaganda comunista na internet, mesmo que alguma propaganda rebaixada, como a linha política atual? A nível nacional o partido começou alguma propaganda apenas ano passado, e está indo muito mal, a Escola de Socialismo do camarada (nome) da (estado) flopou miseravelmente. O movimento sindical é um zero à esquerda em comunicação, propositalmente, pois estão encastelados nos sindicatos, é mais interessante se esconder. Não se tem cultura de comunicar, porque o dirigismo orienta o partido apenas para ocupar cargos, mantém os poucos camaradas dispostos a fazer algo presos nessas tarefas. É ou não é verdade que grande parte do tempo de vocês é consumido pela própria organização? Pelas eleições pra entidades, pelas reuniões das entidades, pela organização de congressos? Espaços onde se fala pra nós mesmos, e não se avança 1 cm em nada, porque não há debate real, apenas autoconfirmação e peleguismo. 

Pra resolver o dirigismo é preciso reinstaurar amplos processos de crítica e autocrítica, debates abertos e francos, lavar a roupa suja de décadas de gente se puxando tapete… não tem outro jeito. É preciso confiar nos nossos camaradas pra se militar direito, e o PCdoB hoje é um poço de cinismo e traição. A única saída é ir criando essa cultura de sinceridade, e isso leva tempo. E machuca as pessoas, infelizmente as verdades doem.

Mais importante, é urgente colocar os mandatos na coleira. O (nome – vereador PCdoB) não tem o direito de defender o que ele acha certo, ele tem o dever de defender o programa do partido. O programa socialista do partido, que a maioria dos militantes nunca se quer leu, que fala de revolução, de reformas profundas. Mesma coisa com os deputados. A propaganda deles nas redes sociais é grotesca, da mais rebaixada. O partido precisa fazer os mandatos voltarem pra linha. Mas boa sorte pra vocês, pois como quase todas as pessoas nos postos de direção do partido têm rendas vinculadas a esses mandatos, e assim acabam ficando quietinhos e aceitando tudo. Peleguismo e oportunismo, travando a luta de classes.

5 - A LUTA É DE CLASSES. A relação dos comunistas com outras classes e partidos é uma questão vital. A passação de pano para o governo Lula/Alckmin deixa explícito que a passação de pano para os primeiros governos do PT não foi mero deslize, como diz (nome – vereador PCdoB), que “ficamos adormecidos”... Nada é por acaso, gente, o partido ficou amarrado, amordaçado, e tá assim de novo desde outubro de 2022. Isso mostra o desvio oportunista do partido, que foca na luta política da institucionalidade burguesa, rejeitando todos os demais aspectos e esferas da luta de classes, subordinando a luta de classes à disputa eleitoral, subordinando o partido aos mandatos. Daí a ausência de preocupação com formação, organização, crescimento, propaganda, financiamento… porque não se está atrás de travar a luta de classes, mas sim de ocupar cargos remunerados, cargos de visibilidade que permitam fazer campanha e se eleger, uma mesquinharia individualista que é apresentada como única forma de travar a luta de classes. OPORTUNISMO, manchando o nome do comunismo. 

Por isso também a importância de ridicularizar outros partidos, principalmente de esquerda radical. Tenta-se pintá-los como doidos, como imbecis, como violentos, autoritários, insignificantes, como trotskistas, anarquistas, bolsonaristas, quinta colunas… Pior, tenta-se impedir a sua visibilidade e a do crescente trabalho de base que vem fazendo. Quantas ocupações o PCdoB tem? A esquerda radical tem centenas, 30, 40 famílias aqui, 50, 60 lá, ocupando terras, prédios, supermercados, fazendo casas de acolhimento de mulheres, cursinhos populares, centros de acolhimento de imigrantes… quantos veículos de comunicação nós temos, e quantos ouvintes? A esquerda radical tem centenas, milhares de páginas, influencers, comunicadores, pautando o comunismo, chamando pra organização, dando uma linha revolucionária e crescendo, já atingindo 15 milhões de brasileiros por mês com alguma propaganda revolucionária. Como está nossa inserção no campo? Os maoístas vem crescendo em Rondônia, no Acre, no Pará, organizando os trabalhadores, ocupando terras, em guerra aberta com os latifundiários, o MST, embora longe do que foi no passado, vem lançando novas campanhas e ocupações. 

Enquanto isso na igrejinha do PCdoB todos os outros partidos são pintados ou como degenerados, como hipocritamente se acusa o PT de ser, ou como radicalóides inconsequentes. O PCdoB seria o único que acerta na mosca, o partido eleito por deus, o centenário, o do Araguaaaia… Mas a realidade é bem diferente. 

Esses dias analisei as últimas 50 postagens da UJS Brasil no instagram. Nada menos de 24, praticamente a metade, eram defesas da própria UJS ou do PCdoB, auto babação de ovo. A disputa de comunicação nas redes é uma disputa por atenção, se tu fala uma coisa tu não ta falando outra. A UJS entende que metade da sua comunicação na internet deve ser pra se autoafirmar. Percebem o tamanho da fragilidade da instituição? Passam metade do tempo tentando se convencer de que são foda, que são guerreiros, que são os verdadeiros revolucionários, tentando reter os militantes que entram aos milhares e logo saem por não ver sentido nenhum na organização. Idêntico ao gay enrustido se auto afirmando hétero de 5 em 5 minutos. O mesmo acontece com o partido, esses dias postaram “5 motivos para se filiar ao PCdoB”. Quatro deles eram voltados para o passado (“porque fez isso”, “fez aquilo”), ocultando que hoje nada mais de relevante se faz. O quinto motivo era “tem propostas concretas…”, algo que de fato é verdade, o PCdoB tem um belo programa socialista, mas de que adianta se os candidatos e militantes cagam pra esse programa?

Se o partido não está focado na luta de classes, se se desvia pra uma luta pela sua própria importância (existir com fim em si mesmo), pra uma luta por governos (alianças irrestritas com a burguesia), pra uma luta em defesa de outros partidos (acoplamento ao PT pra manter o fundo eleitoral e o apoio para os mandatos que passaram a mandar no partido) ou de personalidades (carreirismo), então esse partido degenerou. Não é mais um partido comunista. O que nos leva a pergunta, o que é então o PCdoB?

6 - ABRAM O OLHO. Tudo isso que to falando aqui é sabido pelos mais velhos no partido. Eles sabem que antigamente eles faziam propaganda, tinham jornal, se formavam um pouco melhor, denunciavam o Estado burguês, tinham contribuição financeira, tinham sede, tinham liberados pelo partido… E eles também sabem que o quadro de militantes não cresce, que tem mais ou menos o mesmo número de militantes que em 2003, e que isso tem tudo a ver com o limite de cargos que a institucionalidade burguesa nos oferece. Se a estratégia do partido é de se voltar apenas pra isso, os demais militantes que se aproximam acabam “sobrando” no partido. Daí o “fenômeno” dos jovens que se aproximam do movimento estudantil enquanto na faculdade e depois abandonam o partido. Não há espaço pra eles, ficam largados em grupos de whats e só são chamados pra participar de reuniões pra ouvir comícios repetidos e pra ajudarem a fazer campanha eleitoral. Eles desistem porque não veem sentido nessa forma de lutar. Eu sei disso porque falei com eles, com mais de 20 pessoas que se afastaram do partido e da UJS. Por que caralhos não há um interesse sistemático em se investigar a constante perda de militantes? Respondo: porque o partido não está preocupado com o crescimento das forças comunistas, mas sim e apenas com manter os cargos que já tem. 

E os militantes antigos no partido sabem disso, justamente aqueles que mais se beneficiam dos cargos (é impressão minha ou o [nome – vereador PCdoB] já ta fazendo campanha há meses? Quanto investimento pessoal, em…) . Esses militantes antigos não são cegois, eles percebem que há décadas as pessoas se aproximam do partido querendo lutar e são afastadas pela própria organização do partido, que é fechada num círculo de poucos amigos, famílias amigas... A novidade é eu estar expondo dessa forma, organizada e objetiva, em vez de simplesmente me afastar como tantos outros militantes fazem. 

E mesmo assim, esses militantes antigos não fizeram nada pra mudar a situação, pelo contrário, conforme viram minhas críticas ficaram mais e mais contra mim. Isso mostra que não estão dispostos a mudar. Não é à toa que passaram décadas quebrando e iludindo os militantes. Não vão largar o osso. Nada é por acaso, não é deslize, incompetência, ou falta de braço. São escolhas políticas. 

Acredito que o PCdoB pode vir a prestar algum papel positivo na luta de classes, dependendo de quanta pressão interna vocês que ficam aí conseguirem fazer. Se vocês não conseguirem, em algum momento deve virar um PSB ou um PDT, deixar cair a pesada máscara de comunista, e se assumir como um partido eleitoreiro de centro esquerda, como PSB e PDT, que é o que já é a prática do partido. Como todos sabemos, essa era a intenção de Flávio Dino, que depois o comitê central optou por um meio termo, lançando o “movimento 65” pra ocultar a simbologia comunista do partido. O próximo Flávio Dino que o partido produzir com essa política burguesa rasteira talvez consiga derrubar de vez a máscara de comunista do partido. 

Todas as linhas teóricas têm problemas, e todas as organizações têm dificuldades. Esta realidade é explorada hipocritamente pelos pelegos do PCdoB pra argumentar que “não adianta” ser radical. Mas tem um abismo de diferença entre ter problemas e ser um partido aburguesado. Os partidos radicais enfrentam seus problemas, dão seu melhor pra resolver, enquanto fazem um trabalho comunista, de vanguarda, puxando a luta de classes pra frente, avançando, mesmo que a passos de formiguinhas. 

Já o PCdoB, ao se aburguesar, virou um partido de rabeta, contendo a luta de classes, puxando pra trás, fazendo assembleias fantasmas em sindicatos pra matar a mobilização, porque gente mobilizada cobra, demanda trabalho, e ainda ameaça fazer oposição às diretorias, sacam? Por que a UJS gasta tanto tempo criando DCEs de fachada pra controlar o movimento estudantil? Gente, isso virou regra na UJS, há dezenas de acusações pelo país, é literalmente a organização existindo com fim em si mesma.

O PCdoB oculta e sabota as lutas por reforma, sistematicamente. Fazem isso com as ocupações e movimentos da esquerda revolucionária, com o movimento VAT, com os propagandistas radicais que crescem na internet, com os políticos mais combativos, com todo mundo que tente avançar na luta de classes… 

O PCdoB se tornou um partido profundamente reacionário, com uma prática segregacionista e de rebaixamento da estratégia e da mobilização da classe trabalhadora, portanto incapaz de avançar na luta de classes.

Pra quem acredita que o partido pode ser reformado, boa sorte, desejo mesmo que consigam, mas eu não tenho um pingo de fé. E pra quem desacredita do partido, mas acha que consegue de alguma forma militar satisfatoriamente aí dentro, boa sorte também, admiro a força de vontade, mas eu não aceito mais ter que implorar para o partido me deixar militar. 

Pra quem quiser militar de verdade, travar a luta de classes cientificamente e seguindo os interesses da classe trabalhadora, a esquerda radical está se organizando na cidade. Tem PSOL, que apesar das correntes degeneradas tem militantes sérios e comprometidos, tem UP crescendo com força, tem PCB-RR também se estabelecendo, tem até uns maoístas perdidos por aí.

Estou saindo do partido porque não acredito que ele possa ser corrigido. Entendo que o PCdoB hoje, apesar de ter muitos militantes valorosos, enquanto organização, é um conluio de oportunistas que se aproveitam de enganar a classe trabalhadora e convencer alguns perdidos a trabalharem como cabos eleitorais gratuitos. Muitos desses oportunistas fazem algum trabalho de base, se esforçam, ajudam pessoas ([nome – vereador PCdoB] literalmente quase deu a vida por isso), e isso é bom, meus parabéns. Mas isso nada tem a ver com comunismo, pois pra ser comunista tem que abrir mão dos interesses pessoais, dos interesses do partido, ou do governo, e fazer o que é melhor para a classe trabalhadora, com uma visão de longo prazo. Não tem isso no PCdoB. Isso não é negar a política, pelo contrário, é considerá-la como de fato ela é, e navegar por ela sem abrir mão do nosso objetivo principal, o dever de todo revolucionário: fazer a revolução. 

Abraços e beijos, nos vemos por aí.”””