'O investimento de esforço do militante e objetivos finais. O que estamos construindo com o povo?' (Patrine)

Por Patrine para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Camaradas,

Tenho lido muitas tribunas, a maioria criticando e ou complementando outras tribunas ou trazendo questões do antigo PCB; alertando para erros que se repetem. 

Eu entrei pós cisão do partido e entendo que estamos em um momento de organização e preparação para o nosso congresso, e por isso mesmo não temos um planejamento firmado a longo ou médio prazo. Mas precisamos estabelecer alguns pontos.

O direcionamento das nossas tarefas:

Partindo do princípio de que não está fácil pra ninguém conseguir tempo para exercer a militância, precisamos que seja eficiente o investimento de nossa energia. 

Formação marxista é importante e definitivamente não devemos parar ou deixar de iniciar (para os que ainda não iniciaram), mas precisamos ter também as práticas variadas, afinal não adianta uma alta formação se não conseguirmos alcançar o nosso papel de vanguarda pelo povo. Nas causas radicais esquerda da esquerda. Quem vai nos apoiar senão o povo? Vamos pra sempre ser reboque? 

"no seio do lumpemproletariado, a insurreição encontrará sua ponta de lança urbana. O lumpemproletariado, essa corte de famintos desraigados e expatriados, constitui uma das forças mais espontâneas e radicalmente revolucionárias de um povo colonizado."

(Fanon)

Enquanto estamos em salas ou em nossas casas lendo livros e vendo vídeos online. Outros partidos estão realmente fazendo o papel de vanguarda na aplicação de trabalhos práticos dentro das comunidades. E o que isso nos impacta no final? Na falta de capilaridade do nosso partido, militantes quebrando por estarem sobrecarregados e não podendo dividir suas tarefas.

Se não conseguimos nem manter nossos militantes no partido, como vamos ir além e crescer nosso trabalho?

Acredito que devemos somar as forças da nossa militância e fazermos trabalhos práticos dos quais:

• Cozinhas comunitárias:
  • Podemos ir em cozinhas comunitárias já existentes e por a mão na massa, isso é muito fácil as cozinhas aceitam trabalhos braçais, todas que averiguei eram de fácil acesso para isso e inclusive fomentam esse trabalho comunitário. O objetivo é: inserção, sermos vistos pelo povo, ganharmos confiança desse povo inserindo a nossa militância ao contato direto com o lupemploretariado e as camadas a margem no geral.
• Trabalhos com crianças:
  • Podendo ser montagem de momentos de lazer em praças, idas a escolas com conhecimentos e questões lúdicas para garantir a nossa inserção e trabalho educacional consciente. Dando as crianças o que nós gostaríamos de ter ganho de comunistas jovens e com energia para lutar pela revolução e acreditar nas crianças. O brilho no olho, que não podemos perder e precisamos passar adiante.
• Pegar a mão na massa em obras:
  • Tem obras precisando de ajuda, podemos ajudar indo por a mão na massa com o que fosse necessário. Um grupo mesmo, um comboio de ajuda. Podemos aproveitar e trazer nossas causas de forma orgânica.
• Se inserir na periferia e ler/receber o que eles precisam:
  • Costumo dizer que os comunistas não devem fazer a periferia ajudar o comunismo a crescer, e sim os comunistas ajudarem a periferia com o que a periferia precisa. Isso envolve um trabalho maior de inserção, existem camaradas que optaram por ir morar na periferia exatamente pra aplicar esse trabalho de base e inserção (como eu). E podem fazer esse chamamento gradual, mas já está na hora de formarmos grupos de trabalho práticos. Um montante de camaradas para ir a determinado local em determinado dia e colocar a mão na massa e serem vistos pela comunidade. De camisetinha, de sorriso no rosto. Sem nada a tirar, sem pedir voto. O puro e humilde trabalho de base, mostrando que o comunismo é poder e empoderamento do povo e olho no olho.
• Criação de museus comunitários.
  • Ainda estamos em experienciação deste projeto e ele já está em um estado de ser motor de visibilidade do comunismo e de nossa maior inserção. A partir do museu estamos entrando em contato sempre com moradores históricos de luta. E estamos trabalhando em entregas para o bairro que fomentem e empoderem o povo pra luta. Mostrando a partir dessas memórias tudo que já foi conquistado por meio das lutas. O povo precisa acordar, e precisamos mexer e criar. E para além do sonho abstrato, nesse trabalho do museu conquistamos cada vez mais a nossa visibilidade, confiança e inserção.
• Alguns outros trabalhos:
  • Campanhas de Arrecadação de Alimentos,
  • Limpeza de Praias e Parques,
  • Programas de Mentoria, 
  • Reforço escolar,
  • Distribuição de Roupas e Agasalhos(inverno tá chegando).
  • Atividades Recreativas em Comunidades no geral. (Fomentação da cultura, e com constância).
  • Aulas de Habilidades Profissionais. 
    • Eu e outro camarada do partido já estamos em andamento de um trabalho de aula de tecnologia em uma instituição social. Que vai para além da instituição e alcançar a comunidade. Não podemos seguir com tão poucos camaradas fazendo esses trabalhos práticos de inserção.
  • Projetos de Sustentabilidade.
  • Ações em Desastres Naturais (esse com as enchentes e mudanças climáticas, teremos muito a fazer).

É importante que les camaradas percam o medo de adentrar nestes trabalhos, e aprendam a lidar com o povo.

Não podemos cometer os mesmos erros do antigo PCB. Somos o PCB-RR e entrei neste partido por acreditar que seria diferente e vejo que é. Mas não podemos ficar esperando uma formação completa para depois partirmos para essa prática camaradas. A formação precisa andar lado a lado com a prática de apoiar o povo, de estar junto.

Vejam, o VAT é uma baita causa e as panfletagens e videos não devem parar, e sim serem somadas com esses outros tipos de trabalhos práticos. A nossa inserção em escolas, locais de trabalho comunitário, locais de esporte e afins, nos revelam até um local de escuta de maior possibilidades. Afinal o que importa no fim é investirmos o nosso tempo de trabalho na militância em alcançarmos a vanguarda, empoderarmos o povo e em trazer mais gente pro partido pra conseguirmos tocar esse trabalho. Por que temos muito trabalho a fazer e não podemos parar e nem queremos ter que desistir.

Talvez vocês não concordem comigo, mas o que eu mais aprendo nesse pouco tempo de militância; é que ninguém falou que seria fácil construir a revolução com um monte de gente aleatória e diferente da gente. E precisamos das diferenças. Precisamos da diversidade. E este é outro ponto.

Questão diversidade:

Nós não temos o minervino e nem mesmo alguma inserção significativa de pessoas pretas na nossa militância (o que seria o ideal, sem separação, somente nós todos juntes somando as forças e táticas com nossas diferenças). Por que o Brasil não é só o campo universitário de Homens brancos, e nós não iremos mudar esse cenário se continuarmos crescendo (ou diminuindo) sob a mesma visão estratégica de esforço de trabalho que estamos tendo. Não consigo visualizar algo diferente se continuarmos nesse mesmo caminho. 

Uma coisa que é importante sempre nos perguntarmos é: O que estamos retornando para as comunidades?

Por que trazer as nossas pautas e fomentar o ódio é importante, mas o que estamos retornando pro povo desse nosso trabalho?

Eu sei, focamos em fazer trabalhos com sindicatos, focamos em muitas coisas legais pela frente. E acredito muito na nossa militância. E por isso mesmo cobro e quero junto.

Por que temos brancos, e nem tantas mulheres assim e volta e meia nós mulheres precisamos para além da luta lidar com o ego de esquerdomachos.

Sem as mulheres, sem o povo preto, sem o lupemproletariado não haverá revolução e seremos sempre o reboque universitário playboy.

Precisamos criar a nossa história e a nossa capilaridade junto com o povo.

Qual é a demanda dos bairros? O que tá na boca do povo no bairro que tu mora? Como se faz pra começar a exercer a tua cidadania individual e a partir daí começar a inserção do comunismo na tua região?

Por que NEOS da Matrix temos aos montes no nosso partido, revolucionários especiais escolhidos. Sem tempo irmão.

Precisamos de mão na massa, pra ontem. Por que o povo tá precisando desses que se dizem olhar pro povo. Claro, de forma organizada e com um objetivo final, acompanhando, fazendo balanços, mudanças. Mas essa prática é uma formação importantíssima.

A construção em sí da revolução.

Confio muito no nosso partido.

Pra frente e avante camaradas, sempre marchando.

Tamo juntes