'O amadorismo, uma tragédia em três atos: A profissionalização e a luta por finanças verdadeiramente desenvolvidas' (Totonho)

Por termos uma finanças tão autodestrutiva e amadora, não podemos buscar desenvolver mais formas de agitação e propaganda rotineiras, não podemos criar um trabalho ainda mais amplo nas massas, nem mesmo conseguimos melhorar os problemas internos quanto a estrutura e organização.

'O amadorismo, uma tragédia em três atos: A profissionalização e a luta por finanças verdadeiramente desenvolvidas' (Totonho)
Quantos camaradas são remunerados internamente? Quantos camaradas especializados trabalham e ainda fazem militância interna a troco de um sonho revolucionário enquanto seu núcleo cria um caixa pífio ao que pode chegar a ser?

Por Totonho para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Saudações camaradas.

Trago a tona um tópico que tem circulado na boca daqueles que articulam a Reconstrução Revolucionária e também das bases que atualmente a compõem. Antes de tudo, para deixar de polemizar esse debate e pensar de fato em saídas em meio a essa reconstrução, temos que estabelecer os principais pontos de amadorismo que se retroalimentam no partido. Por isso esta tribuna é a primeira parte de três que constituem um todo no âmbito do amadorismo, cada uma se focando em um aspecto crucial que se encontra perdido em uma forma artesanal e amadora.

Notem camaradas, em minha análise esses três pontos não devem ser polêmicos uma vez que qualquer militante em 1 mês poderia notá-los em menor ou maior grau. Sendo assim os três fatores mais amadores e que mais atravancam nosso partido e que devem ser unânimes na boca dos que lutam contra o amadorismo são: Finanças; Agitação e Propaganda; e Organização Interna. Os três são tópicos profundos, com raízes que vão além do Comitê Central de hoje, e cabe a nós, aqueles que buscamos a revolução, dar a devida atenção e forma a estes, afinal todos eles atravessam a nossa crise política em formas claras.

Sendo assim camaradas, esta primeira tribuna busca explicar melhor o amadorismo em finanças e suas saídas.

Finanças: uma mera ilusão.

Antes de se discutir o hoje, temos que fazer um levantamento histórico do que já fomos, e ao fomos reduzidos hoje. Camaradas, eu venho e pergunto: quantas empresas temos no complexo partidário (UJC, PCB e demais coletivos) hoje? Quantos camaradas são remunerados internamente? Quantos camaradas especializados trabalham e ainda fazem militância interna a troco de um sonho revolucionário enquanto seu núcleo cria um caixa pífio ao que pode chegar a ser? Notem camaradas, nosso partido no auge da repressão da ditadura tinha aparelhos de finanças e agitação e propaganda tão atrelados a classe trabalhadora que nos mantivemos operando esses aparelhos. Pensem que no auge das perseguições e da luta nós enquanto partido tínhamos diversas gráficas espalhadas pelos núcleos, nos permitindo não apenas manter um jornal revolucionário, mas também ter lugares onde podemos denunciar as contradições mais absurdas do capital nessa época. Claro que o processo de perseguição foi começando a destruir grande parte delas, e outras foram fechadas por questões de segurança, porém como ainda hoje não temos sequer algo onde publicar textos de militantes que discutem questões militantes, onde ampliaremos nosso trabalho e nossa forma?

Notem camaradas, não digo que a geração passada de revolucionários não soube nos manter vivos, e que não devemos a ela o processo que culmina hoje nesse processo de reconstrução. Mas como, nas lutas que tem se expandindo nos últimos anos, nós não somos capazes de nada que não venham de processos individuais não ligados a estrutura do partido como o próprio Lavra Palavra? Esse processo político de destruição e fracionismo do partido que é promovido pela maioria do CC destrói não apenas os militantes que nele militam, não fere apenas seu estatuto, como destrói tudo que um dia possa ser chamado de partido estruturado. Devemos ser claros em críticas a outros partidos revolucionários, como a UP, mas não podemos negar que eles pelo menos tem um partido estruturado pra se militar, e a nossa tragedia é tão homérica que nem isso temos.

Dou exemplos claros atrelados a finanças hoje que demonstram essa incapacidade amadora que temos na nossa forma: O PCB pedir empréstimos recorrentes a UJC e o CR da UJC de São Paulo na palavra dos próprios militantes "operar mais em dívida do que com um caixa". Camaradas, em que mundo vivemos onde São Paulo, sendo um dos estados com mais núcleos da UJC, é incapaz de ter um caixa regional desenvolvido? Claro que o intuito nunca será juntar milhões, mas se não pudermos bancar direito nem mesmo os militantes que enviamos ao CONUNE sem ter que fazer dívida, onde está a política de finanças??? Me pergunto como podemos crescer e profissionalizar as finanças em São Paulo se seus núcleos mal conseguem fazer repasses sem ficar sofrendo com os 33% mínimos sobre lucro que quebram qualquer ideia de profissionalização. Não posso trazer as experiências de demais lugares no Brasil, mas pelo o que busquei saber também não estamos com grandes diferenças de demais núcleos ao redor do país. Como se cria empresas, como se remunera camaradas, quando um mês onde entrou 100 reais se deve repassar 33? A luta pela profissionalização é meramente política e ideológica ou se faz critério da razão? Estou cansado de ouvir, ler e pensar formas sobre como fazê-la se a materialidade de uma organização tão pouco ligada entre si, tão pouco coesa na prática financeira, me demonstra a cada dia que os núcleos de base sofrem para se manter respirando e ainda assim são estimulados a serem de fato profissionais sobre isso?

E vou além, por termos uma finanças tão autodestrutiva e amadora, não podemos buscar desenvolver mais formas de agitação e propaganda rotineiras, não podemos criar um trabalho ainda mais amplo nas massas, nem mesmo conseguimos melhorar os problemas internos quanto a estrutura e organização que por muitas vezes necessitam tempo e dinheiro pra se resolverem.

A saída pra essa tragédia deve ser clara e objetiva, e centrada na sua construção conjunta com os demais temas dessas tribunas e também de sua forma política revolucionária. A primeiro momento uma proposta que coloco e que já deve ser clara é que toda a política financeira deve ser regional. Não faz sentido não se haver centralidade na construção financeira do partido, deve haver uma secretaria regional de finanças com no mínimo um camarada de cada núcleo que faz parte daquele estado eleito pra essa secretaria, e posteriormente uma eleição entre estes pra eleger um camarada pra ser integrante da CR com o papel de levar propostas financeiras que tem surgidos nas bases. Nessa lógica a ideia não é deixar de haver um SecFin em cada núcleo, porém a ideia é que propostas que envolvam fundar uma política de finanças contínua, como gráficas e padarias por exemplo, não devam ser trabalho de um só núcleo porém aquele núcleo que vai trabalhar na construção dessa atividade deve receber parte dos valores em conjunto com a CR, em proporção 70/30 onde a CR ficaria com 30% do lucro específico daquela atividade contínua (gerando um financiamento que é mais estável) e recebendo repasses apenas em cima de cotização (tal qual era antes).

Podemos pensar nesse mesmo viés, a centralização da produção de camisetas, bottons e ademais no âmbito da CR. Diversos núcleos hoje vem desenvolvendo artes próprias que ficam centradas apenas no âmbito do mesmo, e que podem(e devem) ser algo mais regional. Pensemos que as instâncias regionais tendo essa centralidade na produção destes produtos podem criar um espaço para a produção dos mesmo (reduzindo assim o custo), podem criar uma cadeia logística mais ampla entre os núcleos que já existem e além disso ajuda a financiar as atividades regionais. Nessa forma poderia ser feito um repasse pela arte que o núcleo desenvolveu onde cada venda seria de 70/30 com a CR ficando com 70% por desenvolver toda a parte prática daquela atividade, deixando aos núcleos apenas a confecção de artes e venda daquele material que a própria CR vai produzir e distribuir.

Vale destacar de forma clara que tanto os militantes que trabalharem nas gráficas e padarias, por exemplo, assim como os militantes que vão produzir artes, devem ser remunerados pelo seu trabalho. Impossível sairmos do amadorismo sem destacar o fato de que trabalho militante deve ser trabalho remunerado.

Um pensamento a longo prazo seria um planejamento contemplando a criação de gráficas regionais submetidas as CRs, onde nestas seria possível se criar uma forma logística ainda mais desenvolvida para o jornal, se poderia ter uma edição do partido de textos como "O Manifesto Comunista" e "Do socialismo utópico ao científico", onde para além de vendermos os mesmos, poderia ser feito um trabalho de distribuição destes para as massas. Um ultimo tópico qualitativo nesse sentido é a criação de uma cadeia produtiva de textos produzidos pelos militantes que compõem as fileiras do partido, trazendo a tona temáticas que as vezes uma única pagina do jornal não vai contemplar.

Enfim camaradas, para um início de debate desta bizarrice chamada de amadorismo, acho que essas propostas podem criar uma fagulha de discussões mais amplas sobre como se criar finanças de fato desenvolvidas, podendo assim em sua materialidade se remunerar militantes e se desenvolver ainda melhor nosso trabalho nas ruas.

Aguardem o segundo ato!