'O amadorismo na superação do amadorismo' (Jozyel)
O mantra exaustivamente repetido em reuniões e documentos: "superação do amadorismo", perde seu sentido quando nada é proposto para dar fim à realidade amadora atual, realidade que limita a atuação e adesão das massas, devido a não geração de confiança suficiente no projeto.
Por Jozyel para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
O amadorismo é o estágio inicial da construção de qualquer organismo, uma de suas características é a falta de experiência e ausência de conhecimento aprofundado sobre o assunto. De fato, na RR experiência não parece ser um problema substancial, já que boa parte da militância é egressa de outras organizações consolidadas, o conhecimento aprofundado no assunto é também notório em muitos desses militantes, bem como nos novos. Falta então, algo que parece não fazer parte da formação recebida anteriormente, o que leva à inexistência desse “algo” em grande parte da documentação da RR, em orientações e direcionamentos que vem do topo para a base.
Nesse sentido é necessário começar um aprendizado contínuo sobre técnicas de atuação, construção de documentação baseada na realidade material municiada de dados e fatos reais. Se a pratica leva a perfeição, é necessário começar a praticar de forma menos amadora, para que a militância da RR não se torne perfeitos amadores profissionais. Para isso é necessário delimitar claramente os objetivos da organização, para que, aproveitando das habilidades individuais e coletivas da militância, seja possível alcançar um nível de proficiência adequado à concretização dos objetivos traçados.
O mantra exaustivamente repetido em reuniões e documentos: "superação do amadorismo", perde seu sentido quando nada é proposto para dar fim à realidade amadora atual, realidade que limita a atuação e adesão das massas, devido a não geração de confiança suficiente no projeto, já que essa limitação é resultado também da falta de detalhamento de informações importantes nos projetos e documentos.
Esse efeito é claramente observável na construção argumentativa e documental a respeito do jornal impresso, faltam informações importantes que vão desde a redação até a forma de distribuição, passando por detalhes como público alvo e formas de atingir tal público, com formatos e matérias que sejam relevantes e interessantes a ponto da pessoa se sentir inclinada a comprar esse jornal. O planejamento estratégico utilizado para formular a implantação desse mecanismo impresso demonstra o abissal amadorismo contido em sua produção. Não há uma pesquisa de mercado, não há análises sobre o público alvo, mas algo nunca falta, a teoria marxista, o leninismo escrito, o excesso de referencias a textos de 1800 e 1900, mas pouca prática revolucionária, poucos dados reais da situação atual, pouca intersecção entre a realidade material neste século com a teoria revolucionaria nos séculos XIX e XX.
Ademais, nota-se um anacronismo gigantesco no modelo ultrapassado de impressão, importante salientar que o formato jornalístico não é um problema em si, mas exclusivamente uma forma de distribuição impressa arcaica sem razão e sem base material de existir. Fato observável na documentação que institui e instrui sobre a implantação do jornal impresso, faltam dados básicos como levantamento de público alvo, dados ou pesquisas de onde esse público se encontra e como ele se informa, o método utilizado para que o jornal chegue até essas pessoas (a pessoa vai até o local de venda ou o vendedor vai ate a pessoa e oferece), como esse público terá conhecimento da existência do jornal. Para além dessas questões de distribuição e propaganda, há outras questões não contempladas na documentação e que são argumentos de quem defende essa impressão, por vezes dizem que pessoas metafóricas não tem dinheiro para internet e nem sabem mexer em componentes tecnológicos digitais, mas de onde vem essa informação? Onde está a base material para tal argumentação? Ora, se é apenas uma observação particular de algumas pessoas em contato com esse tipo de situação, então esta implementação está completamente nichada, o nicho de pessoas que não tem dinheiro e não sabem mexer em celular ou computador.
Ainda que nichado, falta uma análise aprofundada da realidade no que se refere ao interesse desse público em simplesmente ler um jornal impresso. É fato notório que a procura por jornais impressos vem caindo a cada ano, mas isso não é só achismo, existem diversas pesquisas e notícias a esse respeito como por exemplo no artigo “A decadência na circulação do jornal impresso” acessado no link: https://jornal.usp.br/radio-usp/a-decadencia-na-circulacao-do-jornal-impresso. Outra questão a salientar nesse sentido está no estudo REGIC (Regiões de influencia das cidades) do IBGE onde é possível notar uma concentração dessa forma de jornalismo impresso principalmente no sudeste e em regiões litorâneas, fato que parece corroborar com o local de onde veem tais achismos a respeito da impressão.
Mais uma informação importante que deveria existir nessa documentação é a respeito do porque esse público lê jornal e o que chama a atenção na hora da compra. Essas informações são importantes na hora de construir a diagramação, escolher as chamadas na página principal e na escolha de artigos e sua disposição no corpo do jornal.
Por fim a argumentação sobre a pobreza que impede pessoas de terem internet seria ignorada quando o jornal fosse oferecido? Até onde se tem informação, a publicação não seria gratuita, o público alvo então teria dinheiro para um jornal, mas não para internet, essa é a argumentação. E nesse ponto outra importante questão é quanto à periodicidade da publicação, visto que, se semanal seu valor se assemelharia ao de planos de internet e se mensal não seria uma forma efetiva de propaganda. Ainda nessa discussão é importante refletir se esse público já lê algum jornal, o que geraria uma problemática a se analisar, essas pessoas trocariam os jornais que já leem pelo jornal da RR? Fariam isso sem um trabalho de base já consolidado? Caso contrário, o jornal da RR seria um extra? Há dinheiro para isso? Visto que, a questão financeira é uma das justificativas. Ou em último caso esse público faria a substituição de um jornal que já lê, para adquirir o jornal da RR? Nesse ponto é importante refletir que, a pessoa que já lê determinado jornal tem confiança naquela publicação e depositou certificado de credibilidade nela, confiança e credibilidade que não existe para a RR, como seria possível crer que o simples fato de estar à venda faria surgir do metafórico imaginário pobrista uma confiança e credibilidade não adquiridos com o bom, velho e esquecido trabalho de base?
A frase "bandido bom é bandido morto" não é somente um delírio raivoso de uma extrema direita fascista, é um projeto claro, com prazos determinados, com proposta de intervenção imediata e que não deixa margem para dúvidas: matar tantas pessoas quanto necessário para subjugar as populações oprimidas afim de evitar qualquer tipo de ataque a ordem vigente e ao poderio da "elite” capitalista. De nenhuma maneira a sugestão e a discussão deve ser essa simplificação tosca e superficial, mas é necessário que haja algum tipo de clareza no que é proposto.
Para dar fim às criticas, segue sugestão para documentação sobre jornal e demais ações da RR: para cada ação proposta seja redigido um documento claro, objetivo contendo as propostas de intervenção, estudos embasadores, análise material da realidade, bem como prazos delimitadores de ao menos início e desenvolvimento do trabalho e projeção de resultados. Tal documento deve ser apresentado para apreciação do pleno da RR, assim como publicizado, se aprovado, para escrutínio público, afim de dar vazão às ações da RR. Exclua-se da publicização propostas internas ou de cunho privado da RR. Para além desse documento, faz-se necessário um resumo a ser publicizado como forma de propaganda ou mesmo para conhecimento rápido por parte da militância com intuito de economizar tempo, para aqueles momentos onde não é possível uma leitura detalhada.