Nota política: Toda solidariedade ao povo iraniano: combater o imperialismo e o sionismo!
Se torna cada vez mais evidente que essa guerra é, do ponto de vista da coalizão imperialista Israel-EUA, uma guerra de rapina, uma guerra imperialista que busca abrir caminho para a completa subordinação política do Irã aos ditames do imperialismo.

Nota política do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR) e da União da Juventude Comunista (UJC)
No último sábado, 21 de junho, os Estados Unidos realizaram um bombardeio direto contra o Irã, elevando a um novo patamar o conflito que vem se intensificando no Oriente Médio desde a sexta-feira anterior (13), com sucessivos ataques e ameaças entre Teerã, Tel Aviv e Washington. Em uma ação ilegal, sequer autorizada previamente pelo Congresso dos EUA, o presidente Donald Trump ordenou o ataque aéreo a três instalações de pesquisa e beneficiamento nuclear: Fordow, Natanz e Isfahan. Embora uma avaliação imparcial dos danos ainda não esteja disponível, a ação certamente terá graves repercussões. No domingo (22/06), enquanto o mundo todo aguardava a resposta do governo iraniano, milhares de pessoas tomaram as ruas de Teerã em protesto contra a ação militar estadunidense. Na segunda-feira, finalmente, o desfecho: o Irã disparou uma série de mísseis sobre bases militares estadunidenses no Qatar. No mesmo ínterim, o governo do Iêmen anunciou sua entrada oficial na guerra, ao lado do Irã.
Com tal desenvolvimento, se torna cada vez mais evidente que essa guerra é, do ponto de vista da coalizão imperialista Israel-EUA, uma guerra de rapina, uma guerra imperialista que busca abrir caminho para a completa subordinação política do Irã aos ditames do imperialismo ocidental. A justificativa “preventiva”, baseada no programa nuclear iraniano, é a mesma retórica desgastada já utilizada nas invasões do Iraque, do Afeganistão e da Líbia, e que, novamente, escancara a hipocrisia do sistema imperialista mundial, no qual potências nucleares como Israel seguem impunes, enquanto outros países são sistematicamente pressionados, sancionados e invadidos.
Por outro lado, a caracterização do regime iraniano nesse contexto apresenta contradições que exigem uma análise mais cuidadosa. Essa complexidade tem feito com que diversos partidos comunistas revolucionários caracterizem o conflito como uma guerra inter-imperialista. Essa é, do ponto de vista do PCBR, uma caracterização imprecisa e com consequências perigosas.
Não negamos o caráter inter-imperialista do conflito simplesmente porque a burguesia iraniana seja uma burguesia “não-alinhada” ao imperialismo ocidental. No caso de nossa avaliação da guerra na Ucrânia, por exemplo, esse aspecto em nada exime as ações militares da burguesia russa de seu caráter imperialista. Mas, nesse conflito em particular, a situação é completamente distinta: enquanto na Ucrânia a guerra foi deflagrada pela invasão expansionista da burguesia russa, no caso iraniano o conflito apenas escalou em guerra pelo fato de o governo iraniano ter-se recusado a ser atacado diretamente pelo regime sionista de Israel sem responder militarmente. Essa situação é, em nossa visão, suficiente para permitir a caracterização de uma guerra defensiva, e portanto justa, por parte do Irã.
Vale acrescentar, a essa respeito, que os grandes rivais do imperialismo ocidental no quadro da cadeia capitalista-imperialista global (Rússia e China), devido a seus diversos laços econômicos e políticos para com Israel, encontram grandes dificuldades para envolver-se diretamente na contenda e transformar o conflito em uma “guerra por procuração” (como, por exemplo, os EUA lograram fazer na Ucrânia). Por mais esse motivo, a caracterização nos parece prematura, embora sem excluir a possibilidade de que as futuras intervenções de outras potências possam transformar o caráter da guerra em questão em inter-imperialista
O que está em jogo nos ataques iranianos a Tel Aviv é uma questão elementar de soberania — que, neste caso, se expressa de forma direta na polêmica sobre o direito ao armamento nuclear. O PCBR não se omite diante dessa questão, especialmente porque, em nosso programa, defendemos abertamente que o Brasil retome seu próprio programa nuclear:
"A retomada do programa nuclear brasileiro, tanto para fins de transição energética e ambientais quanto para coibir qualquer tipo de agressão à nossa soberania territorial."
A experiência das últimas décadas revela, de maneira patente, que o Tratado de Não-Proliferação não passa de um instrumento a serviço da dominação imperialista ocidental: enquanto países como Israel permanecem fora do escopo do Tratado e desenvolvem massivamente seu armamento nuclear sem qualquer medida de sanção por parte da “comunidade internacional”, outros países são perseguidos por buscarem o desenvolvimento de fontes de energia nuclear, insumos de medicina nuclear e armas de dissuasão. No caso do nosso próprio país, telegramas da diplomacia dos EUA revelados pelo Wikileaks já comprovaram diversas ações de sabotagem realizadas para impedir o desenvolvimento do programa nuclear brasileiro. No caso do Irã, a contenda se arrasta já há décadas, e sempre retorna à baila quando convém ao imperialismo ocidental “apertar a corda” em torno do governo iraniano. Mas a burguesia iraniana está absolutamente correta nas lições que extraiu da história do recente imperialismo ocidental: um país desarmado é um país à mercê do intervencionismo estadunidense.
O reconhecimento do direito do Irã a seu programa nuclear e do caráter defensivo da guerra travada pelo regime burguês deste país não significa, no entanto, idealizar um suposto caráter anti-imperialista do regime iraniano. É o direito de um povo de não ser submetido a bombardeios, invasões e ocupações militares. Reconhecer esse direito não significa, no entanto, nutrir ilusões sobre o caráter de classe do regime iraniano. O nacionalismo burguês, embora possa oferecer contraposição a determinada potência imperialista específica, em nada subverte o quadro global da reprodução capitalista em sua época imperialista, e incapaz, portanto, de um anti-imperialismo consequente. No caso da República Islâmica do Irã, trata-se de um regime burguês marcado por uma aristocracia clerical, pela repressão sistemática aos comunistas e a todas as forças progressistas, e por uma política econômica neoliberal profundamente lesiva à classe trabalhadora. O Partido Tudeh, com quem temos dialogado de maneira próxima, tem denunciado com firmeza essas contradições, sem jamais relativizar a importância do enfrentamento ao imperialismo estadunidense e ao sionismo.
Enquanto a classe trabalhadora da região não se erguer de forma organizada e consciente para dirigir a luta contra todas as burguesias da região, expropriando-as e colocando os meios de produção sob controle operário e popular, o atual conflito tende a se resolver em uma polarização trágica: a capitulação do Irã ou a capitulação de Israel. Essa disjuntiva, longe de ser indiferente, tem implicações profundas para o proletariado da região.
Por isso, nossa posição é clara: a guerra travada pelo Irã é justa, mas não é a guerra do proletariado internacional por sua emancipação. É justa porque é uma resposta à agressão de um bloco imperialista. Mas não é uma guerra do proletariado internacional porque está sendo travada por uma burguesia reacionária que, internamente, reprime sua própria população e tenta canalizar a indignação popular para sentimentos de cunho nacionalista-religioso, com o objetivo de fortalecer a coesão nacional e a legitimidade do atual regime. O Irã não é, nem pode ser, o polo condutor de uma frente anti-imperialista na região: essa tarefa só pode ser cumprida pela classe trabalhadora organizada, em aliança com os povos oprimidos da região.
Por outro lado, alguns setores da esquerda internacional veem na possível derrota do regime iraniano uma brecha para o avanço das forças democráticas internas. Não compartilhamos dessa perspectiva. A queda do regime aristocrático clerical, se imposta pela força das armas do sionismo e do imperialismo, representaria não uma libertação, mas um novo ciclo de dominação — agora sob a bota de Israel e dos EUA. Essa via não abre caminho para um Irã democrático, mas para um novo protetorado colonial. O fortalecimento do sionismo, resultado direto de tal desfecho, representaria um golpe brutal contra as lutas populares em todo o Oriente Médio.
Ao mesmo tempo, a entrada dos EUA no conflito não pode ser lida como um simples agravamento. Ela marca o risco real de generalização da guerra, com potencial catastrófico para toda a região euro-asiática. Devemos lembrar que esse novo passo do imperialismo se dá em meio a contradições internas graves: o ataque ao Irã foi conduzido sem autorização do Congresso, evidenciando não apenas o autoritarismo de Trump, mas também o agravamento da crise institucional e o acirramento da luta de classes no coração do topo da pirâmide do imperialismo global. O poder executivo age à revelia de qualquer controle democrático, arrastando o país para novos conflitos que ampliam a instabilidade global e alimentam os mecanismos de guerra permanente. Assim como Netanyahu, Trump também precisa da guerra, e precisa dela para unificar sua base, justificar retrocessos e tentar legitimar sua volta à presidência. Ambos apostam no caos - que é ainda mais evidenciado pelo fato de que, logo após os primeiros ataques de Israel contra o Irã, Netanyahu fugiu e se escondeu na Grécia, ciente da intensa retaliação que sucederia suas ações de ofensiva.
Para o povo palestino, esse novo cenário representa uma ameaça ainda mais grave. A ofensiva contra o Irã tira o foco da Faixa de Gaza, enfraquece a pressão pelo cessar-fogo e diminui o clamor internacional pelo rompimento de relações com Israel. Pior: a demonização do Irã pela imprensa ocidental tende a legitimar ainda mais os ataques israelenses e sua política genocida.
Apesar disso, os recentes ataques iranianos a Tel Aviv e o desgaste do “Domo de Ferro” israelense colocaram em xeque a imagem de invulnerabilidade que o sionismo projetava. Tel Aviv já não é inalcançável. Esse abalo simbólico à supremacia militar de Israel pode abrir brechas para a reorganização das forças populares da região, se combinado com uma tática revolucionária que aponte para a superação tanto do sionismo quanto do fundamentalismo clerical, na direção da revolução socialista. Assim, mesmo uma capitulação parcial de Israel, imposta por sua derrota militar ou isolamento internacional, significaria um abalo sísmico na arquitetura da dominação imperialista na região. Um revés do sionismo representaria um alento imediato à luta do povo palestino, um impulso às forças progressistas e comunistas da região e uma oportunidade concreta para a reorganização autônoma do proletariado do Oriente Médio.
É nesse ponto que reafirmamos nossa crítica às ilusões em torno da possibilidade de um mundo capitalista multipolar, frequentemente romantizado por setores da esquerda. O multipolarismo não é uma alternativa real ao imperialismo, mas sim a forma contemporânea de preparação para a guerra generalizada entre blocos capitalistas. Em vez de representar uma brecha para a autodeterminação dos povos, o mundo multipolar em disputa apenas desloca o eixo das contradições, colocando mais países sob a órbita de novas potências, sem alterar a lógica de exploração, opressão e destruição que sustenta o capitalismo internacional. É papel da classe operária, organizada em partidos comunistas revolucionários, aproveitar essa janela de reorganização das forças capitalistas-imperialistas para impulsionar seu próprio programa independente pela reorganização socialista da sociedade. Se o proletariado deseja uma paz duradoura, deve preparar a guerra de classe contra as burguesias de todo o mundo, que afundam o planeta em guerras intermináveis a fim de assegurar sua exploração e seus lucros.
É por isso que, para nós, a guerra é justa, mas a vitória necessária é a vitória dos povos contra todas as burguesias da região. Enquanto isso não ocorre, a tarefa imediata é pressionar pelo fim da agressão imperialista e isolar o Estado de Israel.
Por isso, não há caminho fora da luta de classes. Só a entrada em cena da classe trabalhadora mundial poderá interromper a marcha à guerra generalizada, derrotar os blocos imperialistas e abrir caminho à construção de uma nova ordem socialista internacional.
Para nós, no Brasil, o rompimento das relações diplomáticas, comerciais e militares entre o Brasil e Israel segue sendo uma tarefa urgente. Agora, com ainda mais força, devemos ampliar essa campanha e denunciar o Estado sionista como o pivô da guerra e da instabilidade regional. A cumplicidade do governo Lula se expressa não apenas na neutralidade diplomática, mas também no alinhamento comercial e militar com Israel, operado por setores como o agronegócio, o setor petroleiro, o complexo bélico e as Forças Armadas.
Expressamos nossa total solidariedade ao Partido Tudeh do Irã e, como eles, acreditamos que é momento de união e coordenação da classe trabalhadora para combater as conspirações e ataques do imperialismo estadunidense e israelense. Não hesitaremos: estaremos ao lado do povo palestino, do povo iraniano, dos comunistas perseguidos, dos trabalhadores explorados, das mulheres oprimidas e da juventude que resiste — e não das burguesias que querem nos arrastar às suas guerras.
Abaixo a guerra contra o Irã!
Pela unidade da classe trabalhadora contra o imperialismo e o sionismo!
Solidariedade internacionalista aos povos em luta no Irã, Palestina, Líbano, Síria e Iêmen!
Pelo rompimento imediato das relações diplomáticas, econômicas e militares do Brasil com Israel!