Nota política: Sobre a luta pelo fim da escala 6x1 em Rio Grande (RS)

A partir de uma organização local sólida, poderemos conquistar vitórias concretas, possibilitando inclusive a derrota da escala 6x1 em categorias específicas e, principalmente, fortalecendo uma luta nacional capaz de alterar a correlação de forças.

Nota política: Sobre a luta pelo fim da escala 6x1 em Rio Grande (RS)

Nota política do PCBR em Rio Grande (RS)

É impossível analisar uma luta da classe trabalhadora localmente sem compreender o contexto da luta de classes em níveis internacional e nacional. Atualmente, em escala internacional, a burguesia segue em ofensiva reacionária contra os trabalhadores e os povos oprimidos, buscando manter e ampliar sua margem de lucro em um cenário de acirramento das contradições do capitalismo, cujos efeitos da crise se estendem desde 2008.

As consequências concretas desse cenário envolvem, principalmente, a implementação e expansão de políticas neoliberais, com o corte de direitos trabalhistas, o enfraquecimento e a desarticulação das formas de organização da classe, além de ataques aos direitos de diversas camadas oprimidas. A expressão internacional do capitalismo em crise se manifesta no aumento significativo de tensões e guerras interimperialistas (como a guerra de procuração entre Rússia e Ucrânia) e, por outro lado, no avanço de ocupações coloniais e tentativas de limpeza étnica, como o genocídio perpetrado contra o povo palestino pelo Estado ilegítimo, colonial, fascista e racista de Israel.

No Brasil, a ofensiva burguesa se expressa por meio de um governo de neoliberalismo progressista (Lula-Alckmin), que promove ataques à classe trabalhadora ao se submeter aos interesses da burguesia nacional e internacional. Isso se reflete, por exemplo, no Novo Arcabouço Fiscal e na política de cortes aplicada pelo Ministério da Fazenda, além da manutenção das contrarreformas da chamada "Ponte para o Futuro", de Michel Temer, e da privatização do Banco Central, efetivada pelo governo fascista Bolsonaro-Mourão.

Hoje, a direção do movimento de massas no Brasil (sindicatos, associações de bairro, entidades estudantis) está majoritariamente sob o controle de partidos e organizações que implementam a política da burguesia. Dentro dos sindicatos — que desempenhariam um papel central na luta pelo fim da escala 6x1 — essa política se manifesta tanto pela sua ala "esquerda" (CUT, CTB, PT, PCdoB) quanto pela ala direita e reacionária (Força Sindical, PSDB e organizações de direita em geral). Diante dessa hegemonia, não é surpreendente que a luta pelo fim da escala 6x1 se desenvolva com um forte viés parlamentar, depositando amplas esperanças em diálogos de gabinete no Congresso Nacional e na ilusão de que a redução da jornada de trabalho será aprovada sem a ameaça concreta da mobilização das massas organizadas.

Nesse contexto, a pauta do fim da escala 6x1, impulsionada pelo movimento Vida Além do Trabalho (VAT), ganhou visibilidade no final de 2024, principalmente pelas redes sociais, apesar dos limites organizativos impostos pelo próprio formato do movimento. Outro obstáculo é a postura da esquerda liberal, que ora boicota abertamente a luta (como expressado pelo Ministro do Trabalho do governo Lula), ora se omite (como o próprio presidente Lula) ou, ainda, apoia de forma limitada, restringindo-se à luta institucional, sem mobilizar a classe trabalhadora nas ruas, sindicatos, movimentos sociais e outros espaços de organização.

Apesar desses limites, ocorreram mobilizações significativas em diversas capitais e municípios de médio porte em novembro de 2024. No entanto, o foco parlamentar resultou em um arrefecimento da pauta durante o recesso do Congresso, agravado pela desmobilização típica do final de ano. Apesar dos esforços do PCBR e de outras organizações marxistas para manter a pauta viva e fortalecer a organização da classe, o movimento de massas sofreu um claro descenso em dezembro e no início de 2025, sem deixar um saldo organizativo consistente, salvo raras exceções.

Em Rio Grande, quando a pauta estava em alta, o PCBR convocou o ato do dia 15/11, mesmo diante do desinteresse inicial do campo democrático-popular (encabeçado pelo PT e seus coletivos). Analisamos que, dado o apelo nacional da luta, haveria interesse por parte dos trabalhadores rio-grandinos. Contatamos a Unidade Popular/Correnteza, que prontamente se dispôs a convocar o ato conosco. Após mais de 200 compartilhamentos e a estimativa de que o ato já era de conhecimento de milhares de trabalhadores, fomos contatados por outras forças do campo progressista, como o PT e seus coletivos, que decidiram apoiar e participar do ato.

Defendemos, em reunião com essas forças, a necessidade de lutar pelo fim da escala 6x1, pela redução da jornada de trabalho para 30 horas semanais e pela implementação da escala 4x3. Também propusemos a criação de um Comitê de Luta pelo Fim da Escala 6x1 e a realização de atividades práticas após o ato. Solicitamos ainda que vereadores do PT divulgassem o ato em suas redes sociais, o que foi acordado, mas não cumprido. Felizmente, nossa decisão de convocar o ato de forma independente revelou-se acertada, forçando organizações mais vacilantes a se posicionarem diante da mobilização nacional em torno da pauta.

É importante ressaltar que o comitê de luta pelo fim da escala 6x1 não se consolidou após o ato. Convocamos uma panfletagem junto ao grupo criado, mas fomos a única organização presente, agitando em torno da pauta. Reconhecemos a falha em não termos planejado um fluxo contínuo de atividades para captar trabalhadores mais engajados. Essa falha decorre de dois fatores: não termos uma análise clara sobre o papel do PT, da CUT e da UP nesse momento da luta e não termos compreendido que cabia a nós assumir a centralidade da organização naquele contexto.

As limitações do PCBR e de outras organizações de esquerda em nível nacional, devido ao seu tamanho e grau de desenvolvimento, também se manifestaram localmente. Tivemos dificuldades em manter atividades constantes após o ato de novembro. Contudo, a tarefa de construir uma contratendência estava em nossas mãos, e não estivemos à altura dela. Em janeiro, iniciamos passos importantes para superar essa limitação, promovendo diálogos constantes com trabalhadores da escala 6x1 por meio das brigadas do jornal O Futuro.

Para derrotar a escala 6x1, os trabalhadores de Rio Grande precisarão se organizar, construir oposições sindicais (associações, coletivos e até um Comitê Municipal) para pressionar as direções sindicais a aderirem à luta ou para disputar a direção dos sindicatos. O PCBR apresentará, aos trabalhadores com quem estabelecemos relações por meio de nosso trabalho de base, a tática de formação dessas alternativas organizativas. Nenhuma organização que se diga a favor da classe trabalhadora pode se omitir dessa tarefa.

Ao longo da construção de avanços organizativos, será fundamental que a classe trabalhadora riograndina esteja preparada para atos nas datas históricas do movimento operário. Já existe a expectativa de mobilizações nacionais no dia 16/02 em todo o Brasil pelo fim da escala 6x1, além de atos em 8 de março (Dia Internacional da Mulher Trabalhadora) e em 1º de maio (Dia Internacional do Trabalhador). Nós do PCBR precisaremos no próximo período conjugar atos pontuais de massa com trabalho político constante, principalmente através das brigadas de vendas do jornal O Futuro, mantendo um trabalho agitativo e fortalecendo a organização dos trabalhadores, de forma que a cada ato a classe trabalhadora tenha maior acúmulo de forças.

A partir de uma organização local sólida, poderemos conquistar vitórias concretas, possibilitando inclusive a derrota da escala 6x1 em categorias específicas e, principalmente, fortalecendo uma luta nacional capaz de alterar a correlação de forças, colocando a direita e a extrema-direita na defensiva e criando melhores condições de vida, lazer e luta para o povo trabalhador.

Com essa nova correlação de forças, poderemos lutar por transformações mais profundas, como o fim do Novo Arcabouço Fiscal, a ampliação de direitos sociais, a reversão das contrarreformas e das privatizações. Precisamos vencer, porque o nosso povo está adoecendo, passando fome e sendo impedido de viver com dignidade.

Trabalhar menos e viver mais! 4x3 e 30 horas semanais!