Nota política - Entre a crítica ao Congresso e a disputa eleitoral para 2026: Ato é transformado em palanque eleitoral no ES
Assumimos um compromisso histórico com a classe trabalhadora e com a revolução brasileira e não nos reduzimos a ser base de palanque eleitoral para partidos que, por oportunismo, capitulem a classe trabalhadora e firam a autonomia do proletariado.
Nota política do PCBR no Espírito Santo
O ato contra o Congresso Inimigo do Povo, realizado no dia 14/12, reuniu milhares de pessoas nas ruas em todo o país. No Espírito Santo, o ato foi realizado na UFES e, mesmo sob chuva, conseguiu reunir um importante contingente, que não se abalou com as condições do tempo. Desde o início de sua construção, que ocorreu em duas reuniões online, a mobilização indicou uma estratégia de Frente Única, reunindo partidos do campo democrático-popular alinhados ao governo Lula-Alckmin e partidos socialistas (PCBR, PCB e UP), sob o mote de denúncia aos ataques do Congresso Nacional à classe trabalhadora, à PEC da Dosimetria e às articulações de Hugo Motta com os golpistas do 8 de janeiro.
Aquilo que deveria ser uma forte mobilização de rua, unificada pelo amplo campo da esquerda, tornou-se um palanque eleitoral para o PT lançar publicamente a pré-candidatura de Helder Salomão ao Governo do Estado e reforçar o apoio a Lula para a presidência em 2026. Por conveniência política, o ato permaneceu concentrado no Teatro Universitário e não foi às ruas.
Embora o ato tenha sido organizado por diversos partidos de esquerda, a estrutura garantida (trio elétrico) pelo campo governista lhes deu, por motivos desconhecidos nas relações honestas que, em tese, deveriam orientar uma Frente Única, a liberdade de monopolizar o ato e alinhar toda a esquerda local sob as candidaturas petistas e seu programa conciliador.
O apoio público do PSOL à pré-candidatura de Helder Salomão ao governo do estado, anunciado no dia anterior ao ato, mostrou-se conveniente ao PT, que soube se valer desse gesto, somado ao alinhamento já consolidado de grande parte da esquerda, para hastear sua bandeira sobre o conjunto da esquerda capixaba. Não se trata de afirmar que esse apoio tenha sido decisivo para a montagem do palanque eleitoral, pois essa já é uma prática recorrente da tradição lulopetista, mas é inegável que contribuiu para pavimentar esse caminho. Também não se pode dizer que houve qualquer posição contrária por parte do PSOL ou de outros partidos tradicionais diante dessa atitude.
Desde o início, aqueles que conduziam o ato, CUT, Intersindical, lideranças do DCE, entre outros grupos, guiaram as falas na denúncia ao Congresso, aos parlamentares de extrema direita e a Hugo Motta, mas apresentando uma solução reduzida e oportunista: eleger parlamentares de esquerda, entenda-se parlamentares petistas, para combater o fascismo e “derrotar” os inimigos do povo. Numa tentativa de negar a luta de classes, ocultaram o apoio do próprio PT a Hugo Motta para a presidência da Câmara, bem como a articulação de Fernando Haddad com o Congresso para aprovar o Arcabouço Fiscal, entre outros exemplos de atuação conjunta entre governo e Congresso profundamente prejudiciais à classe trabalhadora brasileira.
Algumas ações daqueles que estavam sob o comando das falas tornaram ainda mais evidente a preferência pela promoção do Partido dos Trabalhadores em detrimento do mote do ato.
Na abertura dos microfones, foi deixado claro que cada representante teria o máximo de três minutos para realizar sua fala. A regra foi imposta à grande maioria dos representantes, menos a Helder Salomão, que teve liberdade para agitar sua campanha em um longo discurso não cronometrado. Ainda mais rasteira foi a ação protagonizada por um dos representantes do DCE da UFES, que, não satisfeito com as inúmeras ações oportunistas e monopolizadoras de apoio a Lula e ao Partido dos Trabalhadores, fez uma fala afirmando que haviam puxado e organizado o ato sozinhos, negando a realidade das reuniões de organização e a composição dos partidos presentes, numa tentativa desleal de protagonizar o ato. O mesmo finalizou o ato puxando um “Olê, olê, olê, olá, Lula, Lula”, desrespeitando por completo a tática de Frente Única e a autonomia política dos partidos que ajudaram a organizar o ato, bem como dos trabalhadores ali presentes.
Não sejamos ingênuos ao defender que, em um ato de Frente Única, os partidos não possam agitar seus programas e defender seus mandatos. O debate aqui não é esse. O que denunciamos é o uso da estrutura para monopolizar o ato e alinhar todo o campo político da esquerda sob uma única bandeira, privando os demais partidos do direito de se contrapor. Ao final, o recado foi claro, o ato foi do PT e para eleger Lula.
É necessário atentar também para a não tomada das ruas, justificada sob a desculpa da chuva, mas rapidamente desmascarada pela fala de um militante do próprio PT, que disse o que todos ali atestavam: a chuva esperada não veio e o clima não impedia ninguém de ir às ruas.
Vale destacar que seguir com o trio não era necessário apenas para tomar as ruas com a mobilização, mas também para cumprir um compromisso firmado em reunião: marchar até outra concentração que ocorria em Vitória, o Motim Trans, já anunciada nos primeiros dias de dezembro, antes de qualquer movimentação para o ato Congresso Inimigo do Povo. Essa garantia fez com que muitos partidos que já haviam sinalizado participação no Motim Trans — como foi o nosso caso — definissem uma estratégia de concentração na UFES e marcha até o Motim Trans, permitindo a participação em ambas as mobilizações, que, para o nosso entendimento político, possuíam gigantesca importância. Porém, mais uma vez, de forma oportunista, o que foi prometido pelo governismo não foi cumprido. A não ida às ruas foi essencial para concentrar a mobilização em torno de seu palanque eleitoral.
Na contramão dessa movimentação de cunho estritamente oportunista e eleitoreiro, a participação do PCBR não se reduziu à simples denúncia do Congresso como uma instituição apartada da luta de classes. Pautamos o Congresso Nacional como representação direta da burguesia brasileira e, portanto, inimigo da classe trabalhadora. Denunciamos a tentativa de Hugo Motta de anistiar os golpistas e entreguistas do 8 de janeiro e de dar salvo-conduto aqueles que, assim como Bolsonaro, queiram tentar um golpe no país. Denunciamos seu caráter burguês, os ataques ao fim da escala 6x1 e sua atuação cotidiana contra os trabalhadores brasileiros, bem como o avanço do autoritarismo, explícito no mais recente episódio da tentativa de cassação do mandato de Glauber Braga (PSOL), quando, ao defender legitimamente seu mandato, foi retirado a força do Congresso pela polícia legislativa.
Fomos além. Defendemos de forma intransigente que não devemos nutrir ilusões quanto ao Congresso nem acreditar que uma simples dança das cadeiras ou alteração em sua composição seja capaz de resolver nossos problemas, porque não será. Podemos, sim, atuar no congresso burguês, desde que o façamos na condição de tribunos do povo, agitando a propaganda revolucionária e desmascarando tanto as ilusões quanto a natureza de classe do Estado burguês. Defendemos o fim da escala 6x1, da contrarreforma trabalhista, do novo teto de gastos e do avanço do marco temporal, deixando claro que essas conquistas somente virão por meio da organização e do enfrentamento popular. Nesse sentido, apenas UP, PCB e VAT apresentaram intervenções semelhantes.
Assumimos um compromisso histórico com a classe trabalhadora e com a revolução brasileira e não nos reduzimos a ser base de palanque eleitoral para partidos que, por oportunismo, capitulem a classe trabalhadora e firam a autonomia do proletariado.
O cenário que vemos hoje tende a se agravar em 2026, ano eleitoral. As tentativas do governismo de instrumentalizar as mobilizações para terceirizar a luta dos trabalhadores e eleger seus representantes tendem a se intensificar; todo ato correrá o risco de se tornar um palanque eleitoral. Diante desse quadro, colocam-se duas alternativas: sermos arrastados a reboque pelo lulopetismo ou avançarmos na luta pela revolução brasileira, com organização das massas e inserção no cenário político local.
Por isso, aproveitamos esta nota para convocar os partidos e organizações revolucionárias a construir uma unidade de ação nas lutas da classe trabalhadora em 2026, a lutar pela autonomia da classe trabalhadora e a consolidar uma alternativa verdadeiramente proletária e revolucionária no cenário político capixaba. Não podemos mais depender unicamente dos atos puxados pelo campo governista nem da estrutura cedida por esses partidos. Devemos desenvolver uma capacidade própria de organização das massas, que preserve a autonomia política dos partidos e do proletariado.