Nota política: Contra o aumento da tarifa do transporte público em Rio Grande (RS)
É inaceitável que, mais uma vez, se jogue o peso da crise nas costas da população que depende do transporte público para se locomover.

Nota política do PCBR em Rio Grande (RS)
Mais uma vez, a classe trabalhadora rio-grandina é alvo de um ataque da empresa Transpessoal, que anunciou o vergonhoso aumento da tarifa do transporte público para R$ 5,80. Como se já não bastasse a população ter que lidar diariamente com ônibus sucateados, lotados, uma frota reduzida e que não cumpre horários, agora será obrigada a pagar ainda mais por um serviço precarizado, que está longe de fazer um serviço minimamente adequado.
A classe trabalhadora, que é a que tem o transporte coletivo como principal meio de locomoção, paga caro por um serviço ruim — e agora pagará ainda mais. Quem arca com essa conta são os usuários, que já enfrentam um cenário de inflação, desemprego e perda do poder aquisitivo. É inaceitável que, mais uma vez, se jogue o peso da crise nas costas da população que depende do transporte público para se locomover.
É preciso lembrar: a Transpessoal opera em regime de monopólio em Rio Grande. Não há concorrência, não há fiscalização efetiva, e quem sofre é a população, que não tem alternativas de mobilidade.
Outro ponto grave é a descaracterização do meio passe estudantil. Estudantes perderam o direito ao benefício em sua totalidade, já que agora ele está condicionado apenas aos dias com aula. Como se o estudante não tivesse direito ao lazer, à pesquisa, à biblioteca, ou à vivência acadêmica fora dos horários formais de aula.
Na tentativa de justificar o injustificável, um dos sócios da Transpessoal foi às redes sociais culpar a ausência de subsídios por parte da prefeitura e, ainda por cima, tentar pintar a empresa como se estivesse prestando um favor à população. Alegou também que as linhas seriam “longas” — ignorando completamente a realidade geográfica de Rio Grande, uma cidade plana, sem grandes aclives ou obstáculos, com vias em sua maioria asfaltadas, o que reduz drasticamente os custos operacionais. Essa retórica tenta mascarar o fato de que o transporte público tem sido gerido com descaso e falta de compromisso social.
É importante frisar: a prefeitura também tem culpa no cartório. Ao abrir mão de uma política pública séria para o transporte coletivo, ao permitir o monopólio e não garantir fiscalização ou investimentos, o poder público se torna cúmplice desse modelo falido. A omissão da gestão municipal diante dos sucessivos aumentos e da precarização do serviço só fortalece os interesses privados em detrimento do bem comum. Nada disso justifica uma tarifa tão alta — o que se vê é uma combinação de ganância empresarial e irresponsabilidade política.
Os problemas que temos hoje com a Transpessoal em nada diferem do que tínhamos com a Noiva do Mar e Cotista. Trata-se de um modelo baseado na lógica da iniciativa privada, que opera o transporte coletivo com o objetivo de lucrar sobre uma necessidade básica do povo. Essa lógica é excludente e insustentável, pois explora tanto os usuários quanto os próprios trabalhadores do setor. Nesse cenário, os motoristas vêm enfrentando péssimas condições de trabalho, com jornadas exaustivas e acúmulo de funções. Em grande parte das linhas, não há mais cobradores, o que aumenta o desgaste físico e mental dos motoristas, eleva os riscos de acidentes e compromete a segurança de todos os passageiros. Essa sobrecarga é mais uma face da precarização promovida pelo setor privado, que visa cortar custos às custas da saúde e dignidade de quem trabalha.
Não podemos esquecer que Rio Grande já teve uma experiência de transporte público estatizado, com a DATC — a antiga empresa municipal que operava ônibus na cidade. Apesar das dificuldades, a DATC garantia um mínimo de controle público, transparência e acesso à mobilidade como direito social. Seu fim foi mais um passo no processo de mercantilização dos direitos básicos da população.
Hoje, com o colapso do modelo privatizado e o desmonte do serviço que a Transpessoal representa, fica evidente: é urgente pôr em pauta a reestatização do transporte viário em Rio Grande. A mobilidade urbana precisa voltar a ser tratada como política pública — não como negócio.
Camaradas, um aumento da tarifa é mais que uma operacionalidade técnica, é uma escolha política que visa o lucro e despreza as necessidades do povo Rio Grandino. Eles sabem a péssima qualidade que entregam. Mais do que nunca precisamos estar organizados e combativos, dispostos a nos fazer ouvir e não aceitar calados ataques frontais à classe trabalhadora.