Nota política - A posição do PCBR nas eleições burguesas de 2026
Gostaríamos, assim, de fazer um apelo e um chamado aos partidos e organizações revolucionárias para as eleições de 2026: comecemos agora um debate programático para construir essa alternativa!
O Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário reuniu-se em um Pleno Extraordinário no dia 22 de outubro de 2025 para debater e apresentar ao conjunto da classe trabalhadora a posição do PCBR sobre as eleições burguesas em 2026.
Os desafios da conjuntura política
O cenário político internacional e nacional coloca uma série de tarefas difíceis e complexas para o conjunto da classe trabalhadora. Os avanços das contradições interimperialistas, entre eles a nova ofensiva dos EUA contra Brasil e Venezuela, sem que haja uma alternativa revolucionária em nível global, deixa o conjunto da classe trabalhadora em uma posição de defensiva generalizada.
Isso pode ser visto na imensa maioria dos países, em que medidas antipopulares, muitas vezes antidemocráticas, vêm sendo aplicadas como forma de recuperar e ampliar taxas de lucro dos monopólios. Não raro, para a aplicação dessas medidas, a burguesia tem recorrido a soluções de força, ou seja, ao apoio a partidos e figuras da extrema-direita como forma de aplicar essas medidas com o uso de violência reacionária. No entanto, também nos lugares em que liberais, social-democratas e social-liberais têm assumido governos – muitas vezes, se apresentando como polo alternativo à extrema-direita –, esses ataques continuam ocorrendo. Independente das frações burguesas no comando do estado, apesar de suas diferenças significativas, são sempre os trabalhadores que são forçados a pagar a conta da crise capitalista e das guerras imperialistas.
No Brasil, particularmente, o caráter burguês e social-liberal do governo Lula-Alckmin é inegável. Ao mesmo tempo em que mantém intactas todas as contrarreformas recentes (Reforma da Previdência, Reforma Trabalhista, Novo Ensino Médio) e aprofunda novas (como o Novo Arcabouço Fiscal), o governo tenta emplacar uma narrativa fantasiosa de estar ao lado dos interesses populares. Ao mesmo tempo em que ataca os benefícios sociais, como o BPC do INSS, faz acenos para as camadas médias do proletariado com o ajuste da tabela do IRPF. Ao mesmo tempo em que ataca os pisos constitucionais da saúde e da educação para fazer jus ao Novo Arcabouço Fiscal, finge que apoia o fim da escala 6x1. Mesmo sob ameaça direta do imperialismo estadunidense, o governo buscou uma solução conciliatória com Donald Trump, em vez de uma convocação de combate frontal com o apoio das massas ou de romper em qualquer medida os laços econômicos da dominação imperialista, nacionalizando infraestrutura, terras, e revertendo as privatizações.
A oposição burguesa no país tem total concordância com esse programa. As privatizações aceleradas feitas por governadores e prefeitos da extrema-direita têm recebido recursos do BNDES para sua execução. Os deputados da extrema-direita apoiaram a PEC da Blindagem e só recuaram pela amplíssima rejeição popular que tomou as ruas no fim de setembro. A Reforma Administrativa avança no Congresso Nacional para enquadrar os trabalhadores do funcionalismo público sob um novo regime que abre espaço para terceirizações irrestritas e para o fim da estabilidade dos servidores.
O cenário político, do ponto de vista da mobilização das massas trabalhadoras, está em baixa. Há uma série de movimentações importantes – lutas em prol do transporte público estatal e gratuito, greves operárias e de servidores – mas que ainda não unificaram o conjunto da classe trabalhadora com uma posição independente. Precisamente por isso, pela baixa na luta de classes, o cenário eleitoral do ano que vem ganha proeminência como forma de luta, abrindo espaço para a agitação revolucionária entre os trabalhadores.
Tudo indica que o debate eleitoral será marcado pela oposição entre frações da burguesia, marcadas por programas cada vez mais similares e pela pressão às massas para escolher o “mal menor” e depositar suas confianças no governo burguês “progressista”. Esse cenário torna ainda mais importante que a classe trabalhadora apresente sua própria alternativa revolucionária, denunciando as falsas saídas da burguesia e a impossibilidade de gestão “progressista” do capitalismo durante o processo.
A posição do PCBR é relativamente limitada no curso das eleições de 2026. Não temos, ainda, legenda eleitoral para lançar nossos candidatos com a clareza do Programa do PCBR e a defesa de uma proposta revolucionária e socialista para o país. Mesmo assim, entendemos que temos uma responsabilidade com o debate no movimento dos trabalhadores sobre as disputas que acontecerão no ano que vem e o apresentamos nesta nota.
Sobre a tática para as eleições majoritárias, em especial a eleição presidencial
§45 A posição do PCBR frente aos governos burgueses de conciliação de classes (que se escamoteiam sob discursos progressistas e fomentam em meio à classe trabalhadora a crença na democracia burguesa e ilusão na possibilidade da realização por meio exclusivamente dela das lutas pela elevação de suas condições de vida) é uma oposição por princípio político estratégico. Os comunistas não devem apoiar nenhuma expressão da gestão do capitalismo em seus países, porque nossa tarefa é a organização da classe trabalhadora para a derrubada da burguesia e do seu Estado e a instauração da ditadura do proletariado. [XVII Congresso (Extraordinário) do PCB-RR, 2024]
Em primeiro lugar, entendemos que é preciso que haja uma alternativa eleitoral revolucionária e socialista para as eleições para os cargos majoritários no país, particularmente para a Presidência da República. Essa candidatura deve expressar a tarefa histórica de construir uma alternativa à falsa polarização que há hoje entre os dois projetos de gestão do capitalismo que há no Brasil e no mundo, apresentando uma alternativa socialista de país, apoiada sob um programa revolucionário que represente os interesses da classe trabalhadora em oposição aos interesses do grande capital brasileiro e internacional.
Com bastante franqueza, entendemos que há divergências entre as organizações que se entendem como parte da esquerda revolucionária e socialista no Brasil. Não desejamos negar essas divergências, muito menos abaixar as bandeiras e concepções de nosso Programa. Mas entendemos que há a possibilidade de construção de acordos programáticos bastante avançados entre os diversos partidos e organizações revolucionários, legalizados ou não, que apontem para essa alternativa e, assim, possam criticar de conjunto as ilusões que ainda há na esquerda sobre a possibilidade de os trabalhadores terem participação na gestão do capitalismo. Consideramos que não ter havido essa unificação nas eleições de 2022 foi um erro importante, um erro nosso, por termos negado discutir essa possibilidade caso nossa candidata, Sofia Manzano, não fosse a cabeça de chapa. A existência de três candidaturas em 2022 (PCB, UP e PSTU) prejudicou a visão do proletariado sobre a necessidade de uma Frente Anticapitalista e Anti-Imperialista que poderia utilizar as eleições como ponto de apoio para a unidade de ação nas lutas.
Identificamos, hoje, diversas organizações que não compõem o governo burguês, são completamente independentes da burguesia e lutam pelo socialismo, condições fundamentais para apresentar uma alternativa revolucionária e que poderiam ser potencializadas por uma ação unificada. A coordenação dos esforços entre as organizações revolucionárias permite uma denúncia mais ampla e qualificada, aumentando o alcance da alternativa revolucionária e demonstrando a necessidade objetiva de elevar a unidade e a organização da classe trabalhadora para apresentar sua própria alternativa, e não diluir-se nas frentes populares com a pequena-burguesia e o reformismo.
Desperdiçar essa possibilidade, por sectarismo ou autoconstrução, ou, por outro lado, por uma defesa da “Frente Ampla” como “mal menor” na gestão do capitalismo, é, na atual conjuntura, uma postura que consideramos irresponsável. Devemos acabar com a falsa polarização que há na política nacional e partir para uma ofensiva de forma unida. Isso exigirá, seguramente, um conjunto de discussões e polêmicas entre a esquerda revolucionária, além de uma série de reuniões entre os partidos, que não serão fáceis desde o princípio. Precisaremos debater aspectos programáticos centrais para um projeto de país e de poder para a classe trabalhadora, o que exige tempo, tranquilidade e disposição – e a forma desses debates são tema totalmente secundário, contanto que sirvam para essa tática comum e unificada que entendemos ser correta do ponto de vista das tarefas da classe trabalhadora no país.
Gostaríamos, assim, de fazer um apelo e um chamado aos partidos e organizações revolucionárias para as eleições de 2026: comecemos agora um debate programático para construir essa alternativa! Sabemos que há diferenças entre nós, mas entendemos ser possível um programa bastante avançado para uma candidatura unificada!
Sobre as eleições proporcionais
Entendemos que, na atual quadra histórica, temos, ao mesmo tempo, a possibilidade e a responsabilidade de apresentar uma candidatura a deputado federal pelo estado de Pernambuco, a ser desempenhada pelo camarada Jones Manoel, membro do Comitê Central do PCBR. É inegável, para o atual estado da luta de classes em nosso país, a proeminência do camarada Jones Manoel em termos de alcance que pode ser dado ao Programa do PCBR e à agitação revolucionária de dentro do Parlamento burguês, como um verdadeiro tribuno do povo. Hoje, em que pese o respeito e convergências que temos com alguns poucos mas valorosos deputados que têm agitado contra os ataques da burguesia, entendemos que é preciso apresentar uma candidatura aberta e verdadeiramente comunista para o conjunto da classe trabalhadora, que não vacile em apresentar o socialismo-comunismo como projeto de sociedade, contrapondo-se às mais variadas formas de gestão do capitalismo. Entendemos que há essa janela e há essa oportunidade histórica para que os trabalhadores imponham, goela abaixo do grande capital, um deputado federal comunista.
Essa, no entanto, não é uma tarefa simples, particularmente porque hoje o PCBR não possui legenda eleitoral. Temos feito uma série de discussões bastante avançadas com diversas correntes políticas e entendemos que a viabilidade eleitoral real dessa candidatura não deve ser desperdiçada e, por isso, estamos em tratativas junto à direção do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) para utilizarmos do dispositivo da filiação democrática como apoio para a candidatura do camarada Jones Manoel, desde que preservada a autonomia e independência política de nosso Partido.
Essas tratativas não são simples e envolvem uma tentativa de encontrar um protocolo de respeito mútuo democrático que preserve a independência política de nosso Partido, condição imprescindível para essa candidatura. Afinal, nosso Programa é diferente do programa do PSOL. O projeto aprovado em nosso XVII Congresso (Extraordinário) é o de constituirmos a legenda eleitoral do Partido, com base em um planejamento proposto pelo Comitê Central do Partido e referendado pelo conjunto da militância. Mas entendemos que estender a mão para a filiação democrática é um gesto importante nos marcos da democracia burguesa brasileira, cada vez mais restritiva em termos de possibilidades de organizações de trabalhadores se apresentarem aos pleitos eleitorais, e por isso valorizamos a possibilidade aberta para nosso Partido pela direção do PSOL.
Trabalharemos arduamente para o sucesso dessa futura candidatura, que representará efetivamente a voz do PCBR e, portanto, de um Programa absolutamente comprometido com a luta revolucionária dos trabalhadores, no Congresso Nacional. Instamos a todos os trabalhadores, particularmente os trabalhadores pernambucanos e residentes no estado, para se somarem a esse esforço! Cada voto para eleger um comunista é um voto de confiança em si mesmos, de confiança na capacidade da classe trabalhadora de controlar seu próprio destino e acabar com a exploração e a opressão!
Com o esforço hercúleo que representará a candidatura do camarada Jones Manoel, não apresentaremos nenhuma outra candidatura e o conjunto do Partido, partindo das discussões que serão feitas desde cada célula e cada Comitê Local, até o Comitê Central, poderá fazer apoios a outros candidatos que sejam completamente independentes da burguesia (inclusive do governo), defendam a alternativa socialista e que representem os pontos de nosso Programa país afora, mantendo a independência política e as divergências que possamos ter com essas candidaturas.