Motoboy negro sofre tentativa de homicidio e é detido pela Polícia Militar no RS
A polícia, ao chegar no local, destratou e prendeu a vítima do atentado, colocando-o no porta-malas da viatura, enquanto o homem que cometeu o crime foi tratado com parcimônia, conversou com os policiais e foi conduzido à delegacia no banco da frente.
No último sábado (17/02), um trabalhador negro sofreu uma tentativa de homicídio por parte de um homem branco chamado Sergio Camargo Kupstaitis, morador da rua Miguel Tostes, no bairro Rio Branco, região de alta renda e cuja população é mais de 90% branca. A polícia, ao chegar no local, destratou e prendeu a vítima do atentado, colocando-o no porta-malas da viatura, enquanto o homem que cometeu o crime foi tratado com parcimônia, conversou com os policiais e foi conduzido à delegacia no banco da frente. O episódio escancara sem qualquer pudor o racismo da Polícia Militar.
Um dia depois, no domingo (18), foi organizado pelo Sindicato dos Motociclistas Profissionais do RS, categoria da qual a vítima faz parte, uma manifestação contra a violência e o racismo da polícia. Em meio ao bairro do agressor, centenas de pessoas marcharam para denunciar o ocorrido e cobrar a punição dos policiais e de Sérgio. Também se manifestaram publicamente o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, e a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, denunciando o racismo estrutural e se prontificando a acompanhar os desdobramentos do caso.
O governador Eduardo Leite (PSDB), em suas redes sociais, reafirmou sua "absoluta confiança na Brigada Militar". Também disse ter determinado a abertura de uma sindicância por meio da Corregedoria da Brigada Militar para apurar o caso, colocando em dúvida se o que aconteceu foi um ato de racismo ou não. Na prática, o governador tenta tratar o caso como uma exceção, como um erro individual dos policiais, e não como o modus operandi próprio da instituição polícia militar, cujas operações e abordagens violentas têm sempre corpos negros como alvos principais. Este caso, longe de ser uma exceção, é parte do trabalho cotidiano da polícia militar.
Ainda que os policiais envolvidos e o agressor devam ser punidos, não é possível ter qualquer ilusão com uma sindicância dentro da Brigada Militar, visto que o racismo permeia toda a instituição e se expressa tanto nos policiais que atuam nas ruas, como nos que atuam nas instâncias internas da BM. São diversos casos semelhantes a esse ao longo do Brasil, em que se prova que a realização de sindicâncias, independentemente do seu resultado, não impediu que situações como essa voltem a acontecer.
A pressão popular nas ruas deve se manter para impedir a impunidade. Porém, a luta deve ser combinada ao questionamento de toda a história e da própria existência da Brigada Militar. Pois, esta instituição nunca esteve ao lado do povo, sempre servindo, em última instância, como braço armado do Estado para assegurar os interesses duma minoria branca e detentora do poder econômico.