Mortos pela ditadura, Emmanuel Bezerra e José Silton Pinheiro são diplomados na UFRN
A diplomação ocorreu após uma solicitação que foi protocolada em abril deste ano, tendo como um de seus atos um abaixo-assinado que recolheu assinaturas de centenas de professores e estudantes.
Por Redação
Com o auditório cheio no dia 6 de dezembro, ocorreu na UFRN a cerimônia de diplomação de dois estudantes mortos pela ditadura empresarial-militar, Emmanuel Bezerra e José Silton Pinheiro. Além dos familiares e membros da instituição, movimentos sociais e partidos políticos lotaram o espaço. A diplomação ocorreu após uma solicitação que foi protocolada em abril deste ano, tendo como um de seus atos um abaixo-assinado que recolheu assinaturas de centenas de professores e estudantes. A cerimônia contou com intervenções que apontaram que a universidade também deve se comprometer com a luta por memória, verdade e justiça.
A mesa da cerimônia de diplomação foi composta por familiares dos estudantes, membros da gestão da UFRN e do Comitê Estadual de Memória, Verdade e Justiça do RN (CEV-RN), que em algumas falas questionaram a nomeação de prédios públicos e ruas com o nome de ditadores e fascistas. Um exemplo disso é Onofre Lopes, ex-reitor da UFRN, que nomeia o hospital universitário e colaborou com a ditadura perseguindo estudantes, sendo o responsável por instaurar a Assessorias de Segurança e Informação, ASI, uma entidade de controle ideológico responsável por monitorar e reprimir docentes e discentes.
Os exemplos de conveniência e impunidade com símbolos do período estão expressos também fora da universidade, como é o caso emblemático de uma escola pública em Parnamirim, RN, nomeada de Artur da Costa e Silva, o militar que promulgou o Ato Institucional nº 5 (AI-5) e deu início ao período com maior perseguição e mais sangrento da Ditadura Empresarial-Militar, o que atingiu milhares de professores e estudantes. O Governo Federal Lula-Alckmin, esse ano, vetou os atos em memória das vítimas e repúdio à ditadura militar, também desincentivando os ministros do governo e sua base que se manifestassem nesta data.
Estudantes diplomados
Emmanuel Bezerra foi estudante da Faculdade de Sociologia e Política, sendo reconhecido pela sua liderança no movimento estudantil e no Partido Comunista Revolucionário (PCR). Integrou o DCE em 1968 e foi preso após o decreto do AI-5, considerado o ato mais violento do regime. Após ser solto, se vê obrigado a trancar o curso e entrar para clandestinidade; no entanto, quando é preso novamente no dia 04 de setembro de 1973, em São Paulo, é torturado e morto pelos militares, tendo seu laudo médico falsificado pelo legista Harry Shibata, o qual apontava a morte por troca de tiros. Emmanuel tinha 26 anos.
José Silton Pinheiro iniciou sua atuação política no movimento secundarista. Em 1970 ingressou na Faculdade de Educação, tornou-se militante do antigo Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR, de 1968), e atuou politicamente no movimento estudantil, mudou-se para o Rio de Janeiro em 1972, onde entrou para a clandestinidade devido à forte perseguição política. Silton também é vítima de uma morte forjada pelos agentes da repressão. Em uma primeira versão, o seu homicídio é anunciado tendo como causa uma troca de tiros entre os agentes do DOI-CODI do IV Exército e os seguintes militantes do PCBR: José Bartolomeu Rodrigues, Getúlio de Oliveira Cabral e José Silton Pinheiro. No entanto, o ex-preso político Rubens Manoel afirma que os companheiros “foram colocados, já mortos, dentro de um carro da marca Volkswagen, que foi incendiado (explodido) no Rio de Janeiro” e continuando sua afirmação diz que não houve “enfrentamento, nem tampouco reação a qualquer ordem de prisão, pois José Silton Pinheiro já estava morto”. Silton tinha 23 anos.
Outras universidades também diplomaram estudantes mortos pela ditadura empresarial-militar esse ano. A UnB diplomou Honestino Guimarães no mês de Junho e a USP diplomou 15 estudantes: Antonio Benetazzo, Carlos Eduardo Pires Fleury, Catarina Helena Abi-Eçab, Fernando Borges de Paula Ferreira, Francisco José de Oliveira, Helenira Resende de Souza Nazareth, Ísis Dias de Oliveira, Jane Vanini, João Antônio Santos Abi-Eçab, Luiz Eduardo da Rocha Merlino, Maria Regina Marcondes Pinto, Ruy Carlos Vieira Berbert, Sérgio Roberto Corrêa, Suely Yumiko Kanayama, Tito de Alencar Lima.
A luta contra anistia nos dias de hoje
O caldo ideológico da ditadura é ressuscitado no debate público nas tramas golpistas militares dos aliados de Bolsonaro. A extrema-direita se fortalece na impunidade de seus agentes e na deterioração das condições de vida da maioria da população causadas pela política econômica neoliberal do governo. Isso conjuga as reivindicações por melhores condições de vida, pela redução da jornada de trabalho e contra os arrochos, com a luta contra a anistia de golpistas e pela reivindicação da história de lutas do país.
A memória de José Silton Pinheiro e Emmanoel Bezerra mobilizam uma discussão não só pela punição dos agentes da ditadura, torturadores e assassinos. Os dois dedicaram suas vidas à luta revolucionária, e é a luta das massas oprimidas e exploradas contra o capitalismo que pode conquistar condições democráticas para a classe trabalhadora, barrando os ataques e impondo seus interesses.