‘Metatribuna – o lugar das tribunas preparatórias para o XVII Congresso na nossa organização’ (Larissa Figueiredo)
Uma vez atendido o propósito deste espaço, toda e qualquer tribuna deve ser publicada. Defender o contrário seria abrir precedente para a corrosão da própria disputa democrática, que, em minha avaliação, deve assinalar todo o debate do começo ao fim.
Por Larissa Figueiredo para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Camaradas, tenho acompanhado algumas polêmicas relativas ao caráter público das nossas tribunas, à exposição a que elas submeteriam a militância e à eventual reação debochada e desrespeitosa direcionada aos que as escreveram. Refletindo sobre o tema, considero importante pontuar que não nos deixemos cair no equívoco de confundir o debate político com uma competição meramente vaidosa, e é neste sentido que ofereço à Reconstrução Revolucionária esta modesta “metatribuna” — como carinhosamente a apelidei — na tentativa de colaborar com os entendimentos coletivos acerca do lugar que as próprias tribunas ocupam na tarefa de preparação para o XVII Congresso Extraordinário do PCB.
Em minha avaliação, camaradas, o espaço em que esta e as demais tribunas inscrevem-se carrega consigo um conjunto de responsabilidades atreladas à elevação da consciência da nossa classe, sendo a mais central delas imediatamente atrelada à construção do XVII Congresso. Nosso propósito aqui não é o de cravar de onde partiu a solução mais arrebatadora para as dificuldades que enfrentamos, mas o de oferecer contribuições políticas capazes de aumentar a assertividade de diretrizes revolucionárias que somente serão atingidas em espaço congressual. Essa assertividade, obviamente, não “cai do céu” e, tal como nos coloca Lenin, é construída a partir de um exame honesto de todas as contribuições; da apreensão crítica e autocrítica de cada uma delas; e da disputa fraterna sobre as lacunas, fragilidades e divergências presentes nos nossos entendimentos.
Se estou correta nesse raciocínio, não cabe, portanto, qualquer argumentação relativa à discordância política servindo como critério para a não publicação de uma determinada tribuna. Uma vez atendido o propósito deste espaço, toda e qualquer tribuna deve ser publicada. Defender o contrário seria abrir precedente para a corrosão da própria disputa democrática, que, em minha avaliação, deve assinalar todo o debate do começo ao fim. Penso que, nesse sentido, a discussão que cabe é outra: como organizaremos as polêmicas relativas aos “temas sensíveis” do trabalho revolucionário, especialmente aqueles que enfrentam o assédio da justiça burguesa? Temos clareza de quais são esses temas, inclusive? O que nós, militantes da Reconstrução Revolucionária, defendemos nesse sentido? Tribunas exclusivamente internas? Adoção de codinomes? Os materiais importantes para fundamentar essas discussões circulariam a partir de quais plataformas? Quais seriam os prazos para implementação? Teríamos um aparato organizativo próprio para gestão deste espaço? Como os organismos adeptos ao Manifesto poderiam se apropriar desses debates? Que recursos teríamos diante de possíveis vazamentos? Como pretendemos, aliás, conjugar o teor desses acúmulos com a coordenação da cadeia de comando que subscreve o jornal? Todas essas me parecem questões merecedoras de bem mais atenção na nossa formulação coletiva.
Nesta mesma toada, acredito que por mais vaga e/ou pouco fundamentada que seja uma tribuna, ela não deva servir como um pretexto para a réplica debochada e desrespeitosa. Vários são os motivos pelos quais estas condutas são indefensáveis — inclusive o constrangimento a que elas podem submeter tanto os camaradas que já contribuíram quanto àqueles que estão se preparando para fazê-lo —, mas talvez o principal deles seja o de elas dificilmente cumprem os propósitos que demarcam a própria natureza política destas tribunas públicas: o de radicalização dos debates à esquerda, o de uma formação qualificada de consensos e o de demarcação criteriosa dos dissensos. Conduta muito mais apropriada a um militante que se pretenda vanguardista é o de debruçar-se respeitosamente sobre as contribuições enviadas, concentrar-se no esforço de reconhecer os seus méritos e deméritos e apontar, para estes últimos, caminhos possíveis para a sua superação coletiva. Esta sim é uma conduta muito mais educadora para toda a classe. Destaco que não se trata aqui de banir as formas jocosas de disputa política – que, penso eu, devem sempre existir como recurso entre os revolucionários – mas de direcioná-las aos seus verdadeiros merecedores: os oportunistas, os direitistas e os centristas, todos eles sempre muito firmes em seus propósitos reformistas (uns mais assumidamente, outros não). Diga-se de passagem, a própria crise partidária nos mostrou que estes grupos são, felizmente, objeto de desaprovação mesmo entre aqueles que optaram seguir nas fileiras do PCB-CC.
Ainda em minha compreensão, qualquer expectativa de encerrar o debate com uma só tribuna — parta essa expectativa dos leitores, parta dos próprios redatores do texto — soa até ingênuo diante do tamanho e da complexidade dos nossos desafios nacionais, mas, principalmente, internacionalistas. O capitalismo atinge hoje uma escala e um escopo de operações nunca antes registrado na história por qualquer modo de produção que tenha o precedido, e, portanto, não é muito menor a nossa responsabilidade na condução da sua efetiva compreensão e superação. O verdadeiro guia para uma ação política capaz de organizar as massas frente à exploração imposta pelo capital (e pelo seu ritmo de valorização) não partirá da voz uníssona de qualquer dos nossos camaradas, mas de muitas rodadas coletivas de estudo, reflexão, debate e disputa em torno das táticas centrais. Ainda que já seja possível, de fato, cravar posicionamentos categóricos sobre algumas questões — como a função de classe que assinala a atuação racista da dita “polícia administrativa” no Brasil — ainda existe uma imensidão de temas sobre os quais temos muitas perguntas e poucas diretrizes. Reconhecer as coisas nesses termos não significa uma ode à passividade política, mas o contrário: trata-se de mais um argumento favorável à urgente profissionalização do trabalho militante e ao compromisso com um estudo e uma ação inexoravelmente ligados à concretização da Revolução Brasileira.
Começo a encaminhar para o encerramento desta metatribuna torcendo para não ter “chovido no molhado”, mas colaborado para organizar, nas tribunas, uma reflexão minimamente crítica em torno das polêmicas que subscrevem as próprias tribunas (risos). Retomo o entendimento de que, em minha avaliação, as publicações aqui veiculadas devem ser apropriadas pela nossa vida coletiva como contribuições políticas voltadas à superação dos nossos próprios desafios e não como respostas irretocáveis a qualquer um deles. Reitero que ainda vejo algumas lacunas com relação à organização das polêmicas cujo teor reside em “temas sensíveis” da luta revolucionária, e reforço as responsabilidades coletivas acerca do encaminhamento desta questão por todos nós, comprometidos com a Reconstrução Revolucionária, e não apenas aos camaradas diretamente envolvidos com as tarefas do Comitê Executivo Provisório Nacional.
Por fim e não menos importante, camaradas, como não poderia ser diferente do defendido neste próprio texto, demarco que não tenho qualquer pretensão de encerrar o debate com esta contribuição, mas o contrário: espero que ela sirva à promoção da polêmica, à reflexão sincera sobre as nossas angústias e desvios e à formação de um consenso público de qualidade, coletivo, fraterno e duradouro como deve ser.