'Mas e o Vasco?' (G.J.)
Acredito que uma boa parte da militância, no passado empolgada com esse espaço de debate, ao considerar escrever uma tribuna pense 'mas e o Vasco?', frase célebre de um amigo que quer dizer 'mas como isso muda alguma coisa? no que isso nos afeta?
Por G.J. para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Camaradas, hoje me deparei com a tribuna “Se as tribunas são decorativas, o Partido também será” de Gustavo Di Lorenzo após a leitura eu decidi engajar no debate com o questionamento, “o que queremos com as tribunas?”.
Vejam, muitos aqui, entre aquele memorável momento em que o PCB tentou proibir as discussões sobre o texto do Ivan Pinheiro sobre a PMAI e a criação das tribunas, estavam agoniados, querendo expor suas colocações, produzir debates e avançar nossa linha. Ai um dia surgiram as tribunas e ai foi festa. Geral escrevendo, saía tribuna direto, você mandava tribuna e ela ficava uma semana ou duas na fila, bagulho foi louco. Com o tempo os militantes começaram a escrever menos, já não saem mais 4 tribunas por dia e já sinto que é algo menos comentado pelos corredores da militância.
Acredito que isso tenha uma explicação. Acredito que uma boa parte da militância, no passado empolgada com esse espaço de debate, ao considerar escrever uma tribuna pense “mas e o vasco?”, frase célebre de um amigo que quer dizer “mas como isso muda alguma coisa? no que isso nos afeta? qual a relevância disso? No que isso muda a situação do vasco?”. Particularmente me desanima compor esse espaço das tribunas se no fim das contas não muito está sendo tirado delas. Nossa linha com o movimento negro está sendo alterada ou melhorada pelas tribunas? E a questão lgbt? E a sindical? E a estudantil? E a PCD? E a feminista? E a eleitoral? E a atuação em cultura? E a reforma agrária? (ok, acho que já fiz um ponto).
Como Gustavo disse em seu texto “se as tribunas são decorativas, então o partido também será”, mas isso nos deixa com outro questionamento: por que as tribunas são decorativas? Bom, acredito que posso apontar pelo menos 2 questões. 1- A forma com que o OC vem estruturando as tribunas e 2- A forma com que nosso partido vem se estruturando.
Sobre o primeiro tópico e a estruturação das tribunas, vejam, já vi mais de uma tribuna reclamando que as pessoas estão mandando tribunas que não necessariamente tem a ver com o XVII congresso. Isso, dentre outras razões, se dá porque as tribunas congressuais são o único espaço de disputa partidária nacional que temos. Então se eu, em Campinas, quiser convencer o pessoal de Manaus, de Teresina, de Goiânia e de Porto Alegre de alguma questão, eu preciso mandar uma tribuna congressual. No passado, por exemplo, advoguei pela criação nacional de campanhas de acessibilidade no movimento estudantil, coordenado nacionalmente. Para propor essa ação prática a toda militância nacional esse foi meu único espaço de debate.
Me parece natural que toda a militância tenha questões a debater com o resto da militância nacional para além dos debates congressuais. Portanto, advogo aqui que para a melhor organização da polêmica pública, cabe ao OC abrir outros espaços de tribunas que sejam divididos por tópicos, de tal forma que possamos construir espaços específicos para avançar de forma contínua alguns debates. O OC poderia abrir espaços específicos no site sobre os movimentos negro, feminista, anticapacitista, indígenas, lgbt, estudantil e sobre críticas internas.
Sobre o segundo tópico, e esse sim, mais polêmico e basilar, nosso partido basicamente se estrutura a moda freestyle, no sentido de que cada célula atua onde dá ou onde acha melhor, geralmente com quase nenhuma interferência da instância superior, de tal forma que somos quase uma junção de dezenas de organizações políticas distintas que têm uma leitura de mundo parecida, e aí a gente se aglutina num partido só. Cada célula é quase que uma tendência com ações pouco centralizadas, pouco coordenadas umas com as outras, unidas apenas pelo marxismo leninismo.
Isso se reflete nas tribunas a partir da grande diversidade de temas que surgem nelas, mas com poucos debates. Afinal, se um militante que atua na questão dos transportes, por exemplo, decide pautar essa questão, e faz uma tribuna sobre esse debate, quantos de nós temos atuação nesse tema? Quantos de nós estamos atuando na questão palestina? E na anticapacitista? Dessa forma, temas específicos me parecem de difícil debate justamente pela pequena quantidade de militantes dedicados e especializados a eles, sendo as tribunas que mais causam debates são aquelas sobre organização partidária e questões internas, pauta que, ai sim, todos dividimos.
Essa organização precária do partido gera um problema, nosso partido tem MUITAS frentes de atuação, mas já não somos aquele partidão do meio do século XX, cheio de militantes. Temos poucos braços, menos capacidade de atuação, e hoje era mais importante do que nunca eleger um tema foco para nosso partido. Precisamos centrar nossos esforços em causas centralizadoras, para permitir que façamos um trabalho efetivamente coordenado enquanto partido. Isso não quer dizer que vamos escolher como tema, por exemplo, o movimento negro, e daqui para frente vamos encerrar todas as células especializada no movimento feminista, estudantil, anticapacitista, lgbt e por ai vai, mas quer dizer que daqui para frente o partido vai trabalhar para se tornar referência nesse movimento. Vai ser o foco do partido, vamos colocar sangue e suor naquilo que será nossa pauta centralizadora. Não necessariamente essa pauta precisa ser única. Também não somos uma organização com 20 pessoas, podemos pensar em 3 ou 5 frentes centrais.Temos centenas ou milhares de militantes e podemos escolher mais de uma pauta a ser central, mas se não tivermos esse norte seremos apenas uma organização que tenta estar em todas as causas mas que não impacta em nenhuma.
Um beijo, um cheiro, um queijo.
Se hidratem pois está calorAt.te
Camarada G.J.