'Marx & Engels sem Lênin?' (Luis Silva)
Lênin apreende e aplica os fundamentos do materialismo-histórico-dialético de forma singular, unindo a teoria e prática de maneira rigorosa. Devemos, portanto, seguindo seu exemplo e fazer jus ao marxismo-leninismo que reivindicamos!
Por Luis Silva* para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Nas universidades, os debates teóricos acerca do marxismo quase nunca evidenciam o nome de Lênin, salvo raríssimas exceções. A renúncia feita pelos grandiosos intelectuais marxistas já não surpreende ninguém. A academia o rejeita de maneira visceral, tratando como desprovido de contribuições filosóficas, e em casos que presenciei, como terrorista. Apesar de que o medo sentindo pelo pensador revolucionário seja real, as acusações de “irrelevância” não fazem jus a realidade. É possível fazer debates filosóficos extremamente qualificados a partir da obra de Lênin, vide “Materialismo e Empiriocriticismo” e “Cadernos Filosóficos”. A obra de Lênin possui alto valor teórico e demonstra o conhecimento filosófico do bolchevique, que se inteirava e promovia debates sobre Kant, Hegel e estudava a filosofia além do sistema filosófico marxiano.
Dado repulsa sob a figura de Lênin, cabem duas perguntas: é possível pensar um marxismo sem os avanços de Lênin? O partido leninista ainda é capaz de guiar-nos à revolução?
A respeito da primeira pergunta, adianto prontamente que não. Toda a obra de Lênin se tornou basilar para o pensamento marxista, pelo caráter rigoroso de análise da materialidade e pela aplicabilidade tangível que o pensador proporcionou com sua trajetória até a revolução operário-camponesa soviética, se firmando como referência para organização e tática revolucionária. O filósofo bolchevique traz avanços fulcrais para o pensamento marxista, avançando no socialismo real com um materialismo terrenal.
Trazendo o debate ao contexto atual do movimento comunista brasileiro, os integrantes da fração CC são inimigos declarados da noção de marxismo-leninismo. Mauro Iasi, Milton Pinheiro, Sofia Manzano e companhia. Iasi publica, em 05/02/2020, um texto no blog da Boitempo, atacando a concepção de marxismo-leninismo.
Nas palavras de Iasi:
“No entanto, não se trata de mero desvio cognitivo derivado de uma adesão acrítica a um método desfigurado em seus fundamentos, uma vez que, concordando com José Paulo Netto, o chamado ‘marxismo-leninismo’se converte em uma ideologia.
Uma ideologia, no sentido preciso de Marx, tem por elementos essenciais a ocultação, a inversão, a naturalização e a legitimação, de maneira a apresentar o interesse particular como se fosse geral. Nesse sentido, o stalinismo é uma ideologia que ‘convalida uma determinada estratégia política (de poder)’.”
Em conferência do PCB, Iasi e Manzano defenderam o PCB abandonar o marxismo-leninismo e se afirmar - apenas - um partido marxista. A linha do Comitê Central, ano a ano, está se degenerando à direita, a exemplo das declarações do Secretário Geral Edmilson Costa, afirmando que “a reconstrução revolucionária”, iniciada na época de Roberto Freire, “está acabada e que é a hora do partido crescer em volume”, concatenando com a política de filiações em massa tocada pelo CC.
Sobre a segunda pergunta, acreditamos no legado de Lênin! O centralismo democrático, embora controverso, se mostrou eficaz nas experiências históricas, nenhum outro modo de organização se fez tão efetivo na tarefa de organizar a classe trabalhadora. Embora tentem falsear o legado do centralismo, como Rodrigo Nunes fez em sua obra “Nem vertical nem horizontal: Uma teoria da organização política”, o modo organizacional mais capacitado, com respaldo da materialidade, é o proposto por Lênin.
Nosso grande desafio, enquanto leninistas, é sistematizar o que está em pleno movimento dialético, pautando nossa prática na compreensão das dimensões da materialidade das situações. Lênin apreende e aplica os fundamentos do materialismo-histórico-dialético de forma singular, unindo a teoria e prática de maneira rigorosa. Devemos, portanto, seguindo seu exemplo e fazer jus ao marxismo-leninismo que reivindicamos!
Nosso partido sofre com graves problemas estruturais que os dirigentes “carguistas” se recusam a reconhecer. Julgam preferível rachar o partido, e com isso a degeneração a direita, a manter uma unidade teórica e prática, verdadeira, advinda da autocritica e reconstrução revolucionária!
Aderi ao PCB-RR por acreditar no centralismo democrático e não desistir de reestabelecer o programa comunista no PCB. Eu e mais 5 camaradas fomos vítimas da arbitrariedade dos dirigentes do partido, expulsos sem quaisquer avisos prévios, processos disciplinares e quiçá direito de defesa. Lutaremos pelo XVII Congresso Extraordinário do PCB!!
*UJC e PCB-RR Uberlândia.