Marcha pró-Palestina reúne movimentos populares em Buenos Aires
Movimentos populares se reuniram na quinta-feira (19), em Buenos Aires, em uma segunda marcha de apoio ao Estado da Palestina, devido ao agravamento do conflito com Israel, que já resultou em mais de 5.000 mortos, entre eles mais de 2.700 crianças.
Por Hugo Brito, militante do PCB-RR PA, em Buenos Aires
Movimentos populares se reuniram na quinta-feira (19), em Buenos Aires, em uma segunda marcha de apoio ao Estado da Palestina, devido ao agravamento do conflito com Israel, que já resultou em mais de 5.000 mortos, entre eles mais de 2.700 crianças. A marcha se direcionou à embaixada da Palestina (Figura 1), culminando em falas e atos políticos até a dispersão.
Em 2010, a Argentina manifestou seu reconhecimento do Estado da Palestina. No entanto, diante do agravamento dos conflitos recentes, o país prontamente se alinhou com o Brasil e vários outros países ocidentais em apoio a Israel. Esta posição levanta questões sobre a consideração da proporcionalidade de forças, o histórico das vítimas de ambos os lados e as graves implicações decorrentes do contínuo avanço da ocupação israelense no território palestino.
O ato de quinta-feira (19) reuniu diversos movimentos de trabalhadores que transmitiram sua mensagem por meio de gritos e faixas, expressando o desejo pelo "fim do Estado sionista de Israel" e a promoção de uma "Palestina livre, laica, democrática e sem racismo, do rio Jordão até o mar, com capital em Jerusalém". Além disso, placas e cartazes denunciavam "o sionismo e suas lideranças, incluindo os interesses dos Estados Unidos e as empresas petrolíferas imperialistas".
A imprensa local antecipava um clima de tensão e a possibilidade de conflitos (Figura 2). Esse receio era particularmente evidente durante a primeira manifestação em apoio à Palestina, realizada em 9 de outubro, que direcionava a manifestação para a embaixada de Israel. A polícia ergueu imponentes barricadas de aço para separar os manifestantes na primeira manifestação (conforme mostrado na Figura 3). No entanto, é importante destacar que não houve incidentes significativos em nenhuma das manifestações. Apenas algumas pessoas contrárias ao protesto, que proferiram ofensas aos manifestantes, e motoristas agressivos que buzinavam e tentavam forçar passagem na via dividida.
A Argentina abriga a maior comunidade judaica da América Latina, e no dia 9 também reuniu a comunidade judaica de Buenos Aires em apoio a Israel. Prédios e monumentos públicos foram iluminados com uma luz azul (Figura 4). Porém nenhuma menção ou consideração sobre as consequências dos ataques israelenses foi feita. Além do posicionamento oficial do governo, muitos políticos apareceram no ato pró-Israel, em consonância com os desejos dos Estado-Burgueses e Imperialistas membros da OTAN.
Além das constantes manifestações na Plaza de Mayo, a Argentina enfrenta um cenário semelhante ao que o Brasil vivenciou em 2018. No domingo passado, dia 22, foi realizada o primeiro turno das eleições argentinas, e, além dos partidos tradicionais (Kirchneristas e Peronistas), um candidato autodeclarado outsider estava na disputa: Javier Milei. Entre suas propostas, Milei defende a dolarização da economia, a favorabilidade à venda de órgãos humanos e a privatização de empresas estatais. Estas são as mesmas propostas frequentemente associadas a anarcocapitalistas e liberais, mas que, no final das contas, resultam na acachapante derrocada da classe trabalhadora.
Os principais candidatos expressaram suas opiniões sobre o conflito Israel-Palestina. Milei, candidato de extrema-direita, mostrou solidariedade a Israel, afirmando que Israel tem o direito de defender seu território contra terroristas. Bullrich, candidata de direita e ex-integrante do governo Macri, expressou solidariedade ao povo de Israel e condenou o Hamas como um grupo terrorista. Massa, candidato governista e peronista de direita, também expressou solidariedade às vítimas e prometeu incluir o Hamas na lista de grupos terroristas da Argentina. Bregman, candidata de Esquerda que contabilizou apenas 3.2% de intenção de votos na última pesquisa (13), foi a única que reconheceu a responsabilidade de Israel, ainda de forma comedida: “Nos doem as vítimas civis que ocorrem em um conflito que tem como base a política de Estado de Israel, de ocupação contra o povo palestino”.
Mesmo em meio a um tenso período eleitoral, a população argentina se uniu para expressar seu apoio à Palestina. Isso ocorreu com a compreensão de que a luta é contra o Imperialismo, e sobre a paz do povo trabalhador palestino – legítimo possuinte do território invadido por Israel – e contra a islamofobia existente no mundo ocidental.