Mais que uma equipe, todo um povo

A história do clube chileno que está disputando a Libertadores e carregando consigo a luta de libertação do povo palestino

Mais que uma equipe, todo um povo
Fonte: Beatriz Cesarini/UOL

Por Redação

O CD Palestino venceu por 2x1 o time venezuelano Portuguesa FC, assegurando sua vaga na próxima fase da Libertadores e avançando em sua sétima participação na competição. O jogo aconteceu na noite de 27 de fevereiro, no Estádio El Teniente em Rancagua.

Você, caro leitor, talvez ainda não esteja familiarizado com o CD Palestino e possa questionar sua presença neste jornal político. Entretanto, como em todo evento, inclusive os futebolísticos, há uma dimensão política a ser considerada. No caso em questão, a participação do time chileno na Libertadores tem um fundo político central: a cada partida internacional, o CD Palestino ergue sua bandeira em denúncia aos crimes de genocídio cometidos por Israel contra o povo palestino na região de Gaza. 

Fundado em 1920 pela comunidade palestina refugiada na América do Sul, especialmente no Chile, em decorrência dos conflitos na Criméia, o CD Palestino é uma instituição de grande tradição. Com dois títulos nacionais conquistados no século passado e uma história marcada por confrontos memoráveis, como aqueles contra São Paulo, Flamengo e Fortaleza em competições internacionais, o time é parte indissociável da cultura esportiva chilena. O renomado zagueiro Elías Figueroa, um dos ídolos da equipe, também deixou sua marca no futebol brasileiro ao atuar pelo Internacional.

A comunidade palestina no Chile, composta por mais de 500 mil pessoas, é a maior fora do território palestino. Esse fato contribui para explicar não apenas a origem árabe profundamente enraizada do time, mas também as manifestações constantes de solidariedade à Palestina por parte de sua torcida, representada pelos Los Baisanos. Desde o recrudescimento dos ataques a Gaza, os torcedores promovem um minuto de silêncio no estádio a partir do minuto 11 em memória das vítimas palestinas.

Times de futebol fundados por comunidades de refugiados ou imigrantes não são incomuns na América do Sul, como exemplificado pelos casos do antigo Palestra Itália (atual Palmeiras), Portuguesa e Vasco da Gama. No entanto, o CD Palestino vai além ao representar não apenas as cores e o nome de seu povo, mas também a causa pela qual este povo luta.  [JS1] O time já foi reconhecido pela Autoridade Nacional Palestina como a segunda seleção do povo palestino [2], dada sua atuação na divulgação internacional da causa.

Fonte: ESPN

Mesmo operando como uma empresa desde 2004, buscando investimentos privados, o CD Palestino nunca abandonou sua postura de denúncia dos crimes israelenses. Seja pela exibição das bandeiras palestina e chilena a meio mastro em seu estádio, seja pelos testemunhos dos jogadores sobre a situação do povo palestino sob o regime de apartheid, ou ainda pela participação em atos de solidariedade internacional, o time mantém-se firme em seu compromisso político com a luta de libertação nacional palestina [3].

Em 2014, o time estampou em seus uniformes o mapa do território palestino pré-ocupação sionista em vez do numeral 1, um feito que ganhou notoriedade devido às tentativas de boicote por parte de grupos sionistas e às solicitações de sanções feitas à federação chilena de futebol contra o Palestino. Na ocasião, o time foi multado em cerca de R$3.000. Desde então, apesar da penalidade imposta na época, praticamente todos os modelos de camisas continuaram a exibir o mapa do Estado Palestino. [4]

A continuidade do CD Palestino na Taça Libertadores, caso avance para a próxima fase e alcance a etapa de grupos, garantindo mais seis jogos, possivelmente contra equipes brasileiras, é uma oportunidade para apresentar a história desse time e incentivar todos os espectadores a lembrarem do povo palestino. É um chamado à ação para continuar denunciando os crimes de guerra de Israel, ajudar nossos irmãos palestinos em sua luta e exigir um cessar-fogo imediato.

A continuidade do CD Palestino na taça Libertadores, caso passe da próxima fase e jogue a fase regular, a fase de grupos com a garantia de mais 6 jogos, quem sabe até com um possível time brasileiro, é a possibilidade de se apresentar a história desse time e fazer com que todos que o assistem lembrem do povo palestino e busquem atuar afim de continuar o processo de denuncia do crimes de guerra de Israel, busquem ajudar nossos irmãos palestinos com melhores condições de luta e busquem gritar e pressionar por um cessar fogo imediato.

Que o Palestino continue a vencer nos gramados e a agitar por uma Palestina livre, do Rio Jordão ao Mar Mediterrâneo.


Referências

[1] https://youtu.be/OO0JzaoXXG0

[2] https://www.instagram.com/p/CyBI1mqOWgB/?igsh=ZHVpcGt0Y3Mxc3dk

[3] https://ludopedio.org.br/arquibancada/palestino-100-anos

[4] https://www.instagram.com/p/CzraQTuPADB/?igsh=MTc0bTF1Z2ozaGs4cQ==/

[5] https://revistaseriez.org/2019/03/18/o-palestino-do-chile-que-voce-nao-vai-ver-nessa-libertadores-da-america/ e http://www.espn.com.br/noticia/383392_federacao-chilena-multa-clube-por-colocar-mapa-da-palestina-na-camisa