'Luta difusa' (Paulo Pinheiro)
Uma ação organizada das forças de esquerda abriria caminho para a retomada do sindicato e uma filiação em massa, nos sindicatos e nas forças, pois isso é uma questão que mexe direto no bolso e está na conversa diária.
Por Paulo Pinheiro para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Em outro texto (https://emdefesadocomunismo.com.br/o-tempo-segue/), falei sobre a dificuldade de não estar organizado e ver as lutas acontecendo. Em minha região, Campinas, algumas demandas são tão emblemáticas, que resolvi compartilhar uma em especial (há demandas sobre crime de homofobia, conselho tutelar - Greg News deu a fita - e transporte coletivo, mas tenho um pouco mais de informações sobre essa) pois fala muito sobre o não impacto das ações e do pensamento revolucionário, ou melhor, a não intervenção, no cotidiano das pessoas trabalhadoras.
Há muitos anos as servidoras e servidores da Prefeitura de Hortolândia, região metropolitana de Campinas, recebem cestas básicas, resultado de uma ação judicial, e têm descontado de seus salários, valores em uma escala crescente, proporcional ao salário.
Este ano, do nada, decidiu-se aumentar o valor do desconto, tornando inviável para muitos o benefício. A saída dada aos servidores pela prefeitura, já em aliança com a câmara de vereadores, é que renunciem ao benefício, para não “serem prejudicados” pelo desconto.
Por outro lado, uma velha e justa demanda, substituir a cesta por cartão de VR/VA vem sendo aventada. A ideia da prefeitura é que isso seja feito através de um combo jurídico contendo primeiro a renúncia à cesta, e segundo o aceite do valor de R$400,00, que não chega nem ao duvidoso valor divulgado pela própria prefeitura do custo de R$570,00.
E aí está o caldeirão político das forças burguesas disputando a carne dos trabalhadores.
Por um lado, a prefeitura quer garantir que o atual esquema de cestas não seja questionado e vá ao máximo possível sem questionamentos. Todas as pessoas que levantaram suspeitas sobre os processos envolvendo a distribuição deste benefício estão sendo mapeadas, inclusive em grupos de aplicativos de comunicação, para serem processadas e possivelmente exoneradas. Infiltrados da prefeitura fazem o trabalho sujo de coletar provas. Reuniões com celulares recolhidos estão ocorrendo.
De outro lado temos, digamos assim, pessoas ligadas a “estruturas burguesas informais que estão ganhando o mundo“ se colocando como interlocutores já negociando junto à prefeitura o valor do cartão em nome dos servidores, com reeleição garantida pela força e pela demagogia.
Temos vozes isoladas que nitidamente lutam pelo menor valor como a única saída possível, se colocando como a lucidez que será elevada pelas massas a uma candidatura no que se achega.
E por fim, temos um sindicato dirigido por gente tão irrelevante, que não é levado em conta nem pelos trabalhadores, nem pela prefeitura, nem pelo crime organizado, que deveria ser o ente fundamental a dar uma saída jurídica e organizativa a essa luta.
O mais importante é que o funcionalismo está voltado para a questão, independente de suas posturas políticas anteriores, que foram isolacionistas, dispersas e difusas, no geral. Uma ação organizada das forças de esquerda abriria caminho para a retomada do sindicato e uma filiação em massa, nos sindicatos e nas forças, pois isso é uma questão que mexe direto no bolso e está na conversa diária. Buscar a cesta é uma baita trabalho, e sua composição amarra todo o planejamento doméstico. Ter o cartão VR/VA será uma grande conquista, quanto mais se conseguir um valor compatível com o que se pratica na região. Além de uma retomada importante de organização e luta.