'Luta antirracista dentro e fora de nossas fileiras: A classe trabalhadora tem cor' (Enrico Moreno)
A agitação sobre esses temas se torna ainda mais necessária devido à alienação que a população negra sofre da ideologia burguesa através da mídia hegemônica e a precarização cada vez mais acelerada das condições de trabalho.
Por Enrico Moreno para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Camaradas, escrevo essa tribuna principalmente pelas ótimas provocações que foram levantadas recentemente em através diversas contribuições publicadas e no meu próprio núcleo sobre a falta de engajamento de, principalmente, homens brancos e cis sobre pautas que geralmente são limitadas as próprias minorias. Hoje gostaria de tratar justamente sobre a pauta antirracista que eu sinto carecer no nosso movimento como um todo.
Recentemente saiu o censo do IBGE [1] o qual mostra que, pela primeira vez, o número de brasileires que se declaram pardes compõe o maior grupo racial do país com 45,3% da população, e o número de pessoas que se declaram negres também aumentou. Esse dado é de extrema importância para lutas políticas que já traçamos (como travada contra a privatização dos presídios), mas também é necessária justamente para fazer essa autocrítica tão demandada dentro do nosso movimento. O marxismo é uma teoria da práxis, porém é justamente esse aspecto que está faltando. Agora apoiado pelos dados do IBGE, a luta antirracista diz respeito à maioria da população brasileira, os/as trabalhadores têm cor. Nós podemos até ser camaradas, mas é de suma importância que nós demos a devida atenção para as lutas que os nossos companheiros negres, pardes e indígenas sofrem.
É descabido ter como maioria na população brasileira pessoas pardas, aumento da população negra e indígena e nós não darmos devida atenção ao fato de não termos essa representatividade em ministros do STF e do judiciário como um todo (mesmo com as limitações e contradições dessas instituições), da população carceraria e dos casos de brutalidade policial ser composta em sua maioria esmagadora por pessoas negras e pardas e tantos outros casos que mostram como esse sistema brutaliza justamente a maioria da população brasileira! É claro que nós sabemos que essas coisas são impossíveis de serem resolvidas no capitalismo, e trago essas pautas justamente de um ponto de vista de agitação para esse demográfico que muitas vezes é completamente imerso na ideologia burguesa por ser tão marginalizado.
Vale ressaltar o acerto por parte do PCB-RR em pautar com força a questão da privatização dos presídios ligando a questão do encarceramento de negres e pardes e do Novembro Negro como um todo. Acho necessário trazer os apontamentos que eu escrevi previamente, assim como muitos outros na nossa agitação e propaganda durante todo ano e não ficar reservado em apenas um mês ou em uma pauta específica. Como pontuado, a agitação sobre esses temas se torna ainda mais necessária devido à alienação que a população negra sofre da ideologia burguesa através da mídia hegemônica e a precarização cada vez mais acelerada das condições de trabalho. A propaganda sobre tais temas, explicando as origens das mazelas que os/as trabalhadores brasileires sofrem diariamente também seria de grande proveito para as nossas fileiras, seja através das tribunas, de formações promovidas dentro dos núcleos, eventos que tratam do tema etc. Isso não só traria acúmulos teóricos para os nossos camaradas, mas também colocaria esses temas no dia a dia da vida militante. Claro que nenhuma dessas atividades propostas vai surtir efeito se nós não tivermos o comprometimento dentro de nossas fileiras para tocá-los e participar.
Espero que essa tribuna sirva de motivação para mais camaradas que não se identificam com o demográfico a ser decorrido a escrever tribunas e se posicionarem, como também para nós utilizarmos todas as questões levantadas como agitação e propaganda.
[1] Panorama do Censo 2022, IBGE, https://censo2022.ibge.gov.br/panorama/