LGBTs têm classe e tomam Partido: Militantes do LGBT Comunista de SP aderem à Reconstrução Revolucionária do PCB

A Coordenação Nacional do LGBT Comunista age como cúmplice ao silenciar o debate das falhas do Partido em tantos pontos, incluindo a situação rebaixada dos coletivos dentro da democracia interna do complexo partidário.

LGBTs têm classe e tomam Partido: Militantes do LGBT Comunista de SP aderem à Reconstrução Revolucionária do PCB
"Notadamente a posição das direções do Partido alimentava uma hierarquização dentro do coletivo - em que aqueles inseridos no Partido e alinhados com as direções ocupavam um lugar diferente dos demais - e um clima de desconfiança onde todos os discordantes do CC eram vistos como ameaças."

Há cerca de três meses diversos militantes do Coletivo LGBTcomunista da capital de São Paulo se desligaram coletivamente da organização, em nota pública, devido aos eventos que hoje chamamos de Crise do PCB.  Junto a outros militantes que se desligaram por conta da mesma crise, mas antes desse grupo,  foram debatidos os motivos que levaram à essa dissidência e o Manifesto da Reconstrução Revolucionária do PCB. Neste debate, decidimos por unanimidade pela nossa adesão ao movimento do PCB-RR e concordamos com a urgência que é a realização do XVII Congresso Extraordinário. Nesta nota iremos apresentar todos os fatores que levaram à cisão dentro do LGBTcomunista e explicar os motivos que levaram à decisão de nosso ingresso no referido movimento.

A RELAÇÃO ENTRE O PCB E O COLETIVO LGBTCOMUNISTA SÃO PAULO

Os questionamentos sobre o papel dos coletivos no complexo partidário eram recorrentes nas discussões do núcleo. Um dos motivos para isso é que embora estivéssemos politicamente subordinados às instâncias deliberativas do Partido, nosso trabalho enquanto coletivo era realizado praticamente de maneira independente. Nós apontamos a falta de apoio do Partido em São Paulo no desenvolvimento de nossas atividades. Este problema era ainda mais grave dadas as falhas internas de comunicação que o complexo partidário enfrentava.

Apesar de enviarmos cartas críticas, notas internas e convocatórias através das instâncias corretas, não éramos considerados por nossas direções e nosso material por vezes nem chegava a ser divulgado. A assistência do CR no núcleo cumpre, em tese, o papel de repassar os comunicados oficiais do Partido e de receber nossas demandas e críticas para que fossem encaminhadas. No entanto, não havia retorno quanto a esses questionamentos, que se acumulavam conforme novos acontecimentos reforçavam essa dinâmica de comunicação unilateral

Um exemplo notório foram as tarefas que operacionalizamos em junho, mês tradicionalmente marcado por intensa agitação do movimento LGBT a nível internacional, dado o marco histórico da revolta de Stonewall (1969). O Coletivo planejou um calendário de atividades, e a construção de um bloco de lutas para composição da Parada do Orgulho LGBT - movimentos que já tomavam corpo ao longo do semestre desde as reuniões de planejamento do núcleo.

No dia da Parada contamos com a presença já esperada dos militantes do núcleo. Alguns camaradas do complexo que tomaram conhecimento da nossa movimentação pelas redes sociais também apareceram e confirmaram que não houve o recebimento das diversas circulares enviadas sobre a atividade, o que ressalta a comunicação truncada entre os organismos do complexo partidário em São Paulo.

Também nesse mês, o debate que organizamos em conjunto com a Unidade Classista teve seu público quase totalmente composto por militantes do LGBT Comunista e aproximações do coletivo. Isso ocorreu embora tivéssemos comunicado ao CR sobre a atividade, solicitando que fosse repassado ao conjunto da militância, e houvesse ainda outra organização do complexo partidário compondo a mesa. A Unidade Classista, que construía conosco o evento, teve apenas dois militantes presentes - sendo um deles o próprio camarada destacado para falar na mesa.

A partir desses episódios, intensificam-se as evidências de que o papel do Coletivo na organização do PCB é politicamente secundário. Nossos acúmulos e discussões ficam apenas entre nós e não são apropriados conjuntamente pelo complexo (e muito menos pelo Partido). Ao passo que, quando é necessário compor força para os atos ou operacionalizar tarefas de finanças, destacam-se diversos militantes do Coletivo, sem que haja participação destes, ou mesmo do próprio Coletivo, na construção política dessas atividades, uma vez que se dão nas instâncias deliberativas do Partido, as quais o Coletivo não compõe.

Ao entender que as nossas discussões eram escamoteadas enquanto a militância era instrumentalizada em tarefas operacionais, recebemos sem surpresa, embora com profunda indignação, a postura de silenciamento do debate imposta aos coletivos partidários quando irrompeu publicamente a crise pela qual passa o PCB. As intervenções da Coordenação Nacional do Coletivo nas tratativas se limitavam a reproduzir o tratamento paternalista do CC, insinuando que as pessoas que discordavam das expulsões sumárias ou do cerceamento das discussões não entendiam como a organização funcionava.

O argumento de não haver conhecimento interno das estruturas do Partido se confirmava de fato, mas se tratava justamente de uma escolha política instrumentalizada pelas direções do Partido para cercear o debate, ao tratar as pessoas que militam no coletivo como “não militantes”. Ainda assim, era inegável que as críticas que fazíamos internamente a essas direções convergiam com as críticas publicamente expostas por militantes que haviam sido expulsos ou que se desligaram do Partido a partir da crise.

Aos questionamentos, a assistência do CR sugeriu que fizéssemos um compilado de todas cartas críticas para que fossem enviadas em um grande bloco às instâncias deliberativas (este, sim, seria lido). Entretanto, determinada tarefa se tornou inviável, uma vez que até mesmo os militantes mais antigos do então núcleo de São Paulo não possuíam todas as cartas e, portanto, não poderiam encaminhá-las para compor o bloco.

Notadamente a posição das direções do Partido alimentava uma hierarquização dentro do coletivo - em que aqueles inseridos no Partido e alinhados com as direções ocupavam um lugar diferente dos demais - e um clima de desconfiança onde todos os discordantes do CC eram vistos como ameaças.

Reforçamos, então, que as direções tentaram colocar panos quentes sobre a situação, e o chavão "não temos acúmulo para discutir a crise" foi repetido exaustivamente para evitar que nos organizássemos no sentido de tomar uma posição coletiva, enquanto posicionamentos favoráveis ao CC eram públicos e endossados pelas direções de base e nacional do coletivo, o que deflagrou a evidente necessidade desta cisão.

DAS FALHAS  DA COORDENAÇÃO NACIONAL

Como deve ser de conhecimento comum da militância, diversos membros da Coordenação Nacional do LGBT Comunista possuem seu núcleo de base em São Paulo. Após o início da crise partidária esses dirigentes tomaram uma postura completamente hostil em relação aos militantes da base que se indignaram com a proibição do debate interno aos coletivos, taxando-os como “indisciplinados” e “raivosos”. Em conjunto com o secretariado do núcleo, organizaram-se para impedir que qualquer tipo de crítica interna fosse bem recebida em nosso grupo de organização. Entretanto, esses mesmos dirigentes, à revelia da orientação do secretariado do núcleo, endossaram o envio de textos favoráveis ao Comitê Central e se posicionaram abertamente no Twitter/X enquanto a base tinha que assistir e adoecer calada diante de todos os acontecimentos.

Um exemplo interessante foi a forma como as aproximações em recrutamento foram tratadas durante a crise por parte da CN. Apesar das pessoas em recrutamento observarem todas essas movimentações em redes sociais favoráveis ao CC, ao tentar entender a situação questionando as pessoas que se manifestavam, os recrutamentos eram sumariamente ignorados, sem nenhuma transparência dos até então camaradas da CN.

Esses membros da CN trataram os recrutamentos como se fossem seres sem autonomia, que esperariam inertes pelas palavras de iluminação em momento oportuno, como se não houvesse contato com a realidade e com pontos levantados pelos militantes que estavam se manifestando em favor da reconstrução revolucionária. Esse caso nos mostra que o comportamento do CC com o complexo partidário era tão normalizado por parte da CN que chegaram a aplicar essa mesma lógica, em menor escala, com os recrutamentos.

A situação se agravou ainda mais quando, no mês de julho, houve a realização de um Ativo Estadual, já programado, do Coletivo. Este ativo tinha como um de seus objetivos dividir o então Núcleo São Paulo em quatro. A primeira pauta do ativo foi a discussão sobre a crise partidária. Nela, e durante todo o evento, membros da CN se expressaram de forma violenta quando este era o assunto e os ânimos se elevaram. Após o nucleamento, um dos dirigentes nacionais, que tem núcleo de base em São Paulo, desceu uma suposta autocrítica devido aos seus posicionamentos públicos com relação à crise. Apesar da autocrítica, os posicionamentos em redes sociais continuaram de forma explícita. Queremos deixar claro que isto não é uma crítica pessoal a estes militantes, mas sim política. Tratam-se de posturas violentas com camaradas que até a crise estourar dividiam as mesmas fileiras e construíam coletivamente um projeto político comunista para o movimento LGBT em nossa cidade.

Um outro ponto, não diretamente relacionado à crise que narramos, está infelizmente contido entre os motivos que nos levaram à cisão. Em nossos espaços de militância e convivência, houve momentos onde pronomes e identidades eram direta ou indiretamente invalidadas por nossos camaradas. Como por vezes essas faltas vinham de nossas direções, ficava a impressão de que a pauta não-binária era escamoteada e que a linha política seguida era excludente. Por isso, nos comprometemos a reverter esta situação. Precisamos construir espaços mais acolhedores a todas as pessoas que sofrem com a LGBTfobia em nossa sociedade, e nos esforçamos para avançar nessa direção.

CONCLUSÃO

Se tornou nítido o abandono da estratégia revolucionária pelo Comitê Central ao observar as decisões nas questões nacionais e internacionais e a deturpação do centralismo democrático ao centralizar militantes do complexo partidário sem que haja a democracia interna. A Coordenação Nacional do LGBT Comunista age como cúmplice ao silenciar o debate das falhas do Partido em tantos pontos, incluindo a situação rebaixada dos coletivos dentro da democracia interna do complexo partidário.

Por todas as questões que expomos neste texto, declaramos oficialmente a nossa adesão ao PCB-RR e fazemos um chamado aberto para que todos os militantes do Coletivo LGBTcomunista pelo Brasil reflitam sobre as contradições postas no PCB-CC e seus coletivos, que tem agido como entraves para o avanço da organização das LGBTs trabalhadoras. Para os militantes ativos ou afastados e recrutamentos de todo o Estado de São Paulo que quiserem se juntar a nós na construção de um Partido à altura de nossa classe, deixamos o nosso contato:
[email protected]

LGBTs têm classe e tomam Partido!

Stonewall foi uma revolta, façamos uma revolução!

Pela vida das pessoas trans: Basta de recuar, é hora de avançar!

Pela Reconstrução Revolucionária do PCB e em defesa do XVII congresso Extraordinário!