'LGBT(IA+) é bagunça sim! - Uma resposta á CE-SP do LGBTComunista' (Bérnie e Thali)
A estrutura organizacional do LGBTComunista sempre favoreceu aqueles que não precisavam se desdobrar em empregos precários para manter a casa e ainda cumprir tarefas de militância, nuclearização nenhuma seria capaz de desenvolver um problema estrutural do Coletivo.
Por Bérnie e Thali para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Acreditamos que faz-se necessário o aviso de que esta tribuna vem de uma militante da UJC do Grande ABC Paulista e de uma ex-militante do Coletivo LGBTComunista-SP, atual militante de nossa Célula LGBT, e ambas trazemos como uma das bases para essa resposta, também, aspectos de nossas vivências pessoais com relação ao Coletivo.
“Seu jogo é sujo e eu não me encaixo: em qual mentira vou acreditar?”
Com boa vontade em acreditar que haja, no mínimo, um resquício de honestidade militante naqueles que um dia chamamos de camaradas nos defrontamos com uma difícil tarefa: achar alguma verdade nesta nota.
Temos extremo respeito por alguns ex-camaradas, entretanto, é difícil de acreditar que esses concordaram com o lançamento de um texto com tantas mentiras e desrespeitos, além de se manterem calades frente a outros impropérios direcionados à nós, seja pessoalmente ou para toda à nossa organização. Partindo disso nessa tribuna buscamos apontar algumas das mentiras e contradições do Coletivo LGBTComunista-SP.
Recatadas e submissas: o que as direções queriam de nós
Desde o começo da sua nota resposta (que não responde nada) aos dissidentes do Coletivo, a CE mostra-se o que se esperava que todo o LGBTComunista fizesse durante a crise: que aceitassemos qualquer decisão do Partido calades (como boas passivas), sem questionar o porque estavamos sendo proibides de debater assuntos que afetavam diretamente a nossa organização (já que fazem questão de dizer que o Coletivo é organicamente, seja lá o que isso signifique, ligado ao PCB).
Entrando na série de mentiras encontradas nessa nota, em um certo trecho a CE afirma “(...) Porém, ao solicitarem que camaradas que discordassem da forma organizativa das reuniões, propusessem uma outra forma de fazê-las, houve apenas uma devolutiva da base que sugestionava um encaminhamento. O restante das respostas se voltaram apenas a uma proposta individual de aderirmos ao chamado do XVII Congresso Extraordinário e críticas às direções do PCB.”, nós nos perguntamos se os camaradas não sentem vergonha de mentir dessa maneira, já que qualquer pessoa com acesso ao antigo grupo do núcleo sabe que de cinco textos enviados apenas um citava a possibilidade de deliberarmos o chamamento do Congresso extraordinário, mas claro fazem questão de ignorar todos os outros, inclusive os que discordavam dos militantes que haviam se articulado ao racha, para dar palco apenas a um texto que defendia o CC (texto esse advindo dos imaculados membros da CN, por óbvio).
Outra afirmação, essa muito conveniente, é a de que o Coletivo foi um dos primeiros a debater a crise, mas o que eles não contam é o contexto desse debate. O nucleo realizou uma reunião extraordinária, agendada anteriormente à implosão da crise, e nela a base forçou o debate, que ainda estava proibido pelo CC, fazendo com que, inclusive, a assistência do CR proibisse que qualquer ata fosse feita e enviada ao término dessa reunião. Sobre a infeliz acusação de que os dissidentes “tinham grupos paralelos de debates” e “iam blocados as reuniões” não perderemos nosso tempo, porque a realidade é que dentro do Coletivo sempre existitam grupos de amigos (afinal, é isso que o Coletivo parece ser, um grande grupelho de amigos, talvez com o único diferencial de gostarem de marxismo) que conversavam e saiam em conjunto, então se querem usar essa metrica acusem os militantes que sobraram, talvez na mesa de bar com vocês, de fraccionismo também.
Quais “Corpos que importam” para o Coletivo? - O mito das tentativas de periferização
Durante a nota o Coletivo também pontua o objetivo politico, tirado em 2022, de periferização da organização e que a divisão do então núcleo São Paulo por regiões seria o caminho para concretizar essa meta. Mas, camaradas, nos parece no mínimo inocente acreditar nisso, a realidade é que a estrutura interna e os proprios “trabalhos práticos” do coletivo nunca favoreceram qualquer periferização.
O Coletivo sofria com desligamentos em massa de militantes todo semestre, principalmente dos periferizades, advindo de sobrecarga de trabalho militante que os levava a quebra. Em nenhum momento o Coletivo se preocupou em manter es militantes periferizades que conseguiam recrutar, muito pelo contrario, esses eram excluides em diversos momentos por não conseguirem participar dos espaços de “socialização”, afinal é praticamente impossível que um militante que trabalha 40 horas semanais consiga ir a um bar após passar no mínimo dez horas em reunião num domingo, sabendo que terá de passar duas horas em transporte público para chegar em casa e ainda acordar cedo para ir trabalhar no outro dia.
A estrutura organizacional do LGBTComunista sempre favoreceu aqueles que não precisavam se desdobrar em empregos precários para manter a casa e ainda cumprir tarefas de militância, nuclearização nenhuma seria capaz de desenvolver um problema estrutural do Coletivo.
Além do mais vale pontuar que os trabalhos do Coletivo pareciam (e ainda parecem) um sonho que nunca chegou. Onde estava o coletivo em ação? Nas regiões periféricas? Fazendo panfletagem? Vendendo o jornal de seu preciosissimo partido? Não, até por que suas atividades não traziam para a prática, a maior parte das vezes, coisas básicas do Partido. Seus trabalhos não fugiam muito do Conselho LGBT de SP e de grandes eventos ligados ao “Orgulho”. De que forma com tarefas tão distanciadas assim o trabalho pode alcançar pessoas mais proletarizadas?
É tudo culpa da UJC? - Sobre descasos e trabalhos ruins
Se esquivando da autocrítica que dizem defender a CE acusa a UJC pelo próprio fracasso das atividades que ocorreram no primeiro semestre de 2023. O Coletivo usa de argumentações que são, até, dificeis de rebater, tendo em vista seu grau de delírio ou falsidade.
Aqui vale questionar uma coisa aos camaradas, como a CR UJC desceria para sua base uma circular que nunca recebeu do Partido?
Machismo é discordar de uma mulher?
Tentando se esquivar das críticas sobre transfobia, a CE acusa os militantes dissidentes de terem sido machistas durante as discurssões no grupo de organização do núcleo. Mais uma vez as direções dissimulam os fatos e falseiam a realidade, além é claro, de fazer da teoria revolucionária massinha para se brincar e usá-la (distorcida e repuxada), para provar seu ponto (ponto esse que não existe já que essa nota não responde nenhuma crítica feita na carta de adesão à RR), o que aconteceu na realidade é que uma camarada em específico sofreu criticas diretas pela forma moralista que vinha pautando e isso foi acusado como machismo, pura e simplesmente.
Não podemos, de modo algum, apenas concordar apenas com as análises do Feminismo Classista e praticar algo que beira o feminismo liberal, isso é de um antimarxismo nato e torna “Feminismo Classista, futuro Socialista” uma palavra de ordem vazia, matando-na em seu cerne.
Além de, é claro, reiterarmos nossa questão: E a transfobia? Esqueceram?
Nós não.
LGBT ou GLS? Quando a transfobia e a bifobia são chamadas de linha teórica
Com sua sustentação teórica advinda diretamende de sua “torre de marfim” e se prendendo à uma suposta rigidez (esta que nega a realidade social em que vivemos) assistimos e ouvimos uma imensidão de relatos onde o mesmo se repetia: o preconceito com certas identidades de dentro da amplitude da dissidência do sistema sexo-gênero-desejo, mais comumente, mas não exclusivamente, expresso em transfobia e bifobia.
Como qualquer um pode perceber ao analisar, ao ler à adesão ao RR e sua “réplica”, a questão da transfobia do Coletivo não foi respondida e, ao que tudo indica, nunca será.
Faz-se preciso pontuar como essa transfobia era construída no discurso dentro e fora do Coletivo. Sempre com um uso de teoria ligada aos estudos de gênero com maior fetiche na fixação da categoria Mulher™, dirigentes do Coletivo abertamente apontaram coisas como “a não-binariedade é impossível” ignorando, é claro, uma ampla literatura que abre formas de pensar o tema com a desculpa desta ser “Pós-Moderna”.
Este comportamento profundamente antimarxista (como apontado em nossa Tribuna “Dos Comunistas que mataram aula”) não se limita à população trans ou exclusivamente não-binária, ele se extende também à bissexuais e aos assexuais.
Sendo nessa “análise teórica” chula e meia-boca, a população bissexual menos sofredora do que o resto da sigla. A falsidade de tal proposição é nítida (até por que bissexuais nunca foram expulsos de casa, não é?) e sintoma de uma leitura que busca apenas proteger a população LGBT para que esta viva no socialismo ignorando a abertura epistemológica da visão de mundo e da nova sociabilidade no Socialismo que tem de trazer consigo uma nova relação da humanidade com, dentre outras coisas, a sexualidade e seu próprio Eros.
Note, o Coletivo já teve um militante hétero, nisso não há problema, uma vez que compreendemos, via Feminismo Classista, que a ideia de, por exemplo, um homem “não poder” ser feminista é algo que brota na realidade brasileira e tem um viés mecanico/liberal, não temos preciosismo com a identidade na condução de lutas focalizadas em certos grupos sociais. Entretanto, surge a questão: e es militantes assexuais do Coletivo? A orientação das direções era nãos recruta-les. Simples. Não sei se devo me prolongar nisso. Talvez valha pontuar apenas uma coisa. Toda essa rigidez teórica do Coletivo vem antes de seu I Congresso, este que, analisando agora, talvez nem tenham realmente o que debater.
Nesse saudosismo teórico desses militantes aparece, caindo como uma luva nos discursos anteriores, o maior trabalho do Coletivo: o livro que lançaram “Sexualidade e Socialismo: história, política e teoria da libertação LGBT”. No posfácio crítico ao livro, escrito por seus tradutores, as críticas as leituras porcas da autora sobre “como o stalinismo[a autora usa da teoria da ferradura com StalinXHitlher] e seus correlatos mataram 150 bilhões[ironia minha] de gays e lésbicas” ou sobre o fato dela literalmente tirar fontes da Wikipédia aparecem, visto que, ela é uma autora trotskysta e muitíssimo oportunista em suas análises, fazendo coro com os liberais, mas quando chega a vez dela criticar os “identitários”, “pós-modernos” e os “teóricos queer”, não há crítica alguma, pelo contrárior, esse capítulo é visto como possuidor de uma riqueza teórica do tamanho do Sol, sendo assim quase (ou literalmente) a bíblia de algumes dirigentes.
LGBT(IA+) é bagunça! apenas pela subverção da ordem burguesa dentro da organização partidária faremos a revolução
Como afirmamos na nossa última tribuna “Dos Comunistas que mataram aula”, LGBT é sim bagunça! Baderna. Caos. Ou pelo menos es comunistas deveriam ser. Quem escreveu aquela nota foram es LGBTs certinhes e organizades, aquelus que não contrariam a ordem burguesa encontram seu lar sob o dirigismo e mandonismo do PCB.
Sobre esse tema inteiro e a condução dos trabalhos e do apontamento futuro que a dissidência do sistema sexo-gênero-desejo permite, será necessária uma futura outra tribuna.
Concluímos então que, uma vez que fomos proibidas, pela (tão poderosa e grandiosa) CE, de utilizar as palavras de ordem produzidas pela imaculada Coordenação Nacional do LGBT Comunista, finalizamos essa tribuna com uma palavra que não só nos é original, como, em relação as proibidas, mais revolucionária:
TRANVIADAGEM CLASSISTA! FUTURO SOCIALISTA!