'Lenin seria YouTuber? As facetas do jornal leninista hoje' (L. Simioni)
O jornal físico pode fazer a síntese do que há de mais importante e também pode encaminhar um maior aprofundamento online - pessoas com limite de dados não costumam explorar muito o YouTube para não gastar, vão direto ao que querem assistir, assim podemos dar um direcionamento direto.
Por L. Simioni* para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Venho aqui dar minha contribuição para o debate sobre o jornal partidário leninista. Defendo veementemente a relevância do jornal pelos mesmos argumentos colocados pelo camarada Machado na tribuna "O jornal não foi ultrapassado: resposta ao camarada Bruno Franzoni", apesar de entender as urgências tecnológicas que devemos aproveitar. Acredito que a ideia do fórum tenha um propósito diferente do jornal, então não irei debate-la. Machado se centrou na questão organizativa da construção de um jornal, aqui busco expandir nossas possibilidades propagandistas. Irei dividir o debate em dois pontos: o primeiro sobre a importância do jornal físico; o segundo sobre outras mídias que um jornal pode habitar, com foco no audiovisual.
O jornal impresso nos permite atingir setores estratégicos sem passar pela lógica dos algoritmos das redes sociais, além de atingir pessoas sem acesos as redes. A internet ainda é limitada a certos setores da sociedade, 36 milhões de brasileires (19% da população com 10 anos ou mais) afirmam não ter acessado a internet no ano de 2022, de maioria preta e pobre. Além disso, muitas pessoas tem seu acesso limitado pelos dados de operadora, com planos que costumam oferecer uso irrestrito somente para um punhado de redes sociais, principalmente WhatsApp e Facebook. O jornal físico pode alcançar essas pessoas e também pode impulsionar nossa presença digital. Isso vai no mesmo sentido do uso de outdoors divulgando o canal de Jones Manoel na pré-campanha para o governo do estado de Pernambuco. Serve para furar as bolhas digitais e atingir setores estratégicos de classe, antes inalcançáveis se dependesse dos algoritmos. O jornal físico pode fazer a síntese do que há de mais importante e também pode encaminhar um maior aprofundamento online - pessoas com limite de dados não costumam explorar muito o YouTube para não gastar, vão direto ao que querem assistir, assim podemos dar um direcionamento direto. Outro ponto é a capacidade estratégia de distribuição para setores prioritários. Podemos direcionar nossas brigadas diretamente aos espaços que considerarmos estratégicos, seja numa refinaria, num metrô ou numa favela. Dependendo a penas das redes sociais, seria necessário pagar a Meta para entregar conteúdo a um público específico.
Quando se fala na construção de um jornal partidário, a primeira coisa que pensamos é nas tiragens físicas. No entanto, o jornal deve ir muito além do físico, é um complexo multimidiático de agitação e propaganda, munido de textos, vídeos e podcasts veiculados em sites e redes sociais. Digamos por exemplo que vamos trabalhar em um canal de YouTube do partido. Haverá um planejamento de vídeos e lives semanal, em que todos os estados devem contribuir periodicamente. Assim, devemos compor equipes de audiovisual nos nossos locais de atuação. Dessa forma, para além de nossa militância buscar escrever para o jornal, também irá ativar essa equipe para gravar conteúdos, como entrevistas, documentários e reportagens. Da mesma forma que planejamos o editorial do jornal escrito, também deve haver do gravado. Hoje o conteúdo audiovisual é extremamente influente na luta ideológica, desde o Jornal Nacional ao Brasil Paralelo, passando por vídeos de coach financeiro até horas de live do Gaiofato. Nada mais necessário do que a profissionalização de nossa militância (também) ao redor de um jornal em vídeo.
Já temos algumas experiências com vídeos para YouTube com o canal de Jones e Gaiofato como exemplos de maior sucesso. Esses trabalhos podem ser muito aperfeiçoados com a incorporação de um corpo partidário, além dos camaradas terem diversos acúmulos a contribuir para nossa expansão na área. Devemos expandir para meios não ocupados como vídeos para Facebook e WhatsApp e produção de documentários tanto para as redes quanto para mostras presenciais. Com a centralização das tarefas, circulação e sistematização de acúmulos, podemos resolver questões básicas que nos assolam a anos: mal posicionamento de câmera, luz e microfone, legendas ilegíveis, falta de compreensão de ritmo de edição e roteiro para as diversas plataformas das redes sociais e tudo mais que afete nossa produção de vídeo. O audiovisual, além de extremante necessário para a disputa de corações e mentes, é um membro que complexifica nossa futura cadeia produtiva jornalística, permitindo uma estruturação sólida de nossa militância.
A visão do que é um jornal não pode ser limitada, é só ver os jornais burgueses, como a Folha de São Paulo que tem jornal impresso, notícias online em texto e em vídeo, podcast, blogs, contas em redes sociais, etc. Sigo com mais esperança que nunca na nossa capacidade, hoje dispersa, amanhã unida e forte. Até a vitória!
Referências
*Militante da UJC-RS.