'Larguem os espantalhos, se munam de argumentos' (Tai)

[...] é necessário que aquelus que buscam defender a UNE organizem seus argumentos pautados no cenário atual e encarem o processo de convencimento, já que a tática escolhida precisa ser decidida pela sua afirmação como mais eficiente e não pela negação da tática que é sua opositora.

'Larguem os espantalhos, se munam de argumentos' (Tai)
Autoria da imagem: Felipe Lachovicz

Por Tai para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Saudações, camaradas! 

Essa tribuna, de algum modo, serve de continuação à tribuna “Ressucitemos o poder popular e abandonemos a une”, escrita por mim e pelo camarada Lukinhas, e de esclarecimento à alguns pontos de discussão e à alguns espantalhos que surgiram com o lançamento dessa. Também adiciono que, tanto a tribuna anterior, quanto essa, se debruçam sobre o debate exclusivo da disputa da UNE e não de outras entidades, como a UBES, tendo em vista eu e o camarada Lukinhas somos militantes do ME universitário e não temos acúmulo para discutir a disputa da UBES. 

FUNDAREMOS UMA OUTRA ENTIDADE?

O primeiro ponto vago que gostaria de elucidar, camaradas, é sobre a necessidade de fundarmos outra entidade depois de abandonarmos a UNE. Em momento algum na tribuna defendemos que seja necessário fundar uma nova entidade, ao contrário, tentamos expor uma experiência atual, originada pelo contexto grevista, de organização das forças e de militantes independentes que culminou numa mobilização nacional paralela à entidade citada. Em decorrência de uma interpretação equivocada ou, por vezes, tendenciosa, foram feitos comentários assemelhando a proposta da tribuna com a tentativa fracassada de fundar uma UNE alternativa feita pelo PSTU, mas - saliento - em momento algum foi citada a criação de uma nova entidade, senão feita a proposta de agitação pelas bases fugindo da institucionalidade e do burocratismo advindos desse tipo de organização representativa. 

Além disso, é importante ressaltar que a UNE já teve gestões mais progressistas ou menos governistas, como na década de 50 e após o golpe de 2016 quando se colocava contra o governo. Momentos esses que não evitaram o giro à direita e o aparelhamento da entidade pelos governos petistas, logo o argumento de que se conseguirmos colocar a nossa linha por meio das eleições burguesas da instituição, perde sua força, posto que é o sistema de entidade em si que não é mais funcional para nós.

Nesse segundo momento, buscarei desenvolver de forma mais detalhada o porquê de não acreditar na eficiência de uma entidade que aglutine a luta estudantil universitária a nível nacional na atual conjuntura. 

Primeiramente, não acredito que o sistema de representação numa entidade à nível nacional seja a melhor alternativa para coordenar a luta estudantil nesse âmbito, uma vez que a direção desse organismo se torna muito afastada das massas e de suas demandas. Assim, como militante comunista, vejo a estratégia de organizar as mobilizações de “baixo pra cima”, se valendo do Poder Popular por meio das entidades de base, muito mais frutíferas do que nos curvamos a um sistema de entidade representativa. Como o camarada Lukinhas e eu citamos na primeira tribuna, uma amostra disso é a articulação entre as forças de esquerda radical que vem se mostrando muito eficiente, agora, em nível nacional. 

O segundo ponto que trago se baseia no fato de que adotamos a Estratégia Socialista como nosso eixo norteador e, desse modo, nos prender a disputar eleições burguesas para uma entidade que não nos faz avançar sentido à revolução, é um erro na nossa tática e rebaixa nossa linha. Pois, desperdiça nosso tempo, a força da nossa militância e inclusive nossos esforços materiais com uma tarefa que não é a tática que mais contribui com o nosso principal objetivo que é chegarmos ao socialismo por meio da revolução. 

Por fim, somados a todos os anteriores, o último ponto se fundamenta em sermos um partido de vanguarda, que organiza e agita as massas, e, por efeito, deveríamos estar priorizando nossos esforços em construir as entidades de base do ME antes de almejar disputar uma entidade representativa.

Em suma, camaradas, não. Não deveríamos fundar outra entidade com a nossa linha.

SAUDOSISMO 2: O ESPANTALHO AGORA É OUTRO. 

Se na primeira tribuna Lukinhas e eu apontavamos o saudosismo da UJC em relação à criação da UNE como um dos elementos que ainda hoje atravancam o nosso desgarramento da entidade, com o lançamento da tribuna apareceu também o saudosismo em relação ao momento do XIII congresso da UJC em que foi decidido retornar à disputa da UNE. Camaradas, deixo claro que não desrespeito às decisões tomadas por outres camaradas e sei muito bem que nossa organização conta com a unidade de ação para que toquemos os encaminhamentos que resultam das nossas discussões políticas. Contudo, querer sufocar o debate político atual afirmando que a 7 anos atrás houve determinada discussão ou certo planejamento por parte da organização é, no mínimo, baixo. Tendo em vista que, a conjuntura mudou - a 7 anos o ME estava passando por um momento de radicalização pós-golpe de 2016 e atualmente, em meio a mais um governo petista, vemos um apassivamento das massas - mas, para além disso, as bases estão mostrando outros caminhos e outros debates. Ademais, outro ponto importante a ser levantado é que se no VIII congresso da UJC havia um plano para a UNE, no IX congresso essa posição foi mantida e nos últimos anos a construção da entidade trouxe mais desgaste a nossa militância que saldo político. Logo, o que deu errado nesse plano e porque é mais fácil responder que havia um plano a rever as decisões tomadas e analisar, sem carteirada academicista ou clubismo, o momento atual do ME e da nossa organização? 

Sob esse mesmo ponto de vista, fora a falta de respostas do que aconteceu com esse planejamento para a UNE, atualmente falta, aos que defendem a disputa da entidade, argumentos do porquê creem que devemos disputá-la. Nossas ações devem ser fundamentadas nas razões de acreditarmos que determinada tática será um meio para o nosso objetivo, caso contário essas se tornam sem sentido e desorganizadas. Dessa maneira, é necessário que aquelus que buscam defender a UNE organizem seus argumentos pautados no cenário atual e encarem o processo de convencimento, já que a tática escolhida precisa ser decidida pela sua afirmação como mais eficiente e não pela negação da tática que é sua opositora. 

RELEMBRANDO AOS DESAVISADOS QUE NOSSA ESTRATÉGIA É SOCIALISTA!

O último tópico que queria esclarecer, camaradas, é sobre o abandono da UNE ser pautado pela dificuldade de tocar a tarefa frente à hegemonia reformista. (Peço desculpas por estar sendo repetitiva a esse ponto, mas creio que essa questão vale um espaço só pra ela). 

Em virtude da Caravana da UNE, na tribuna anterior, eu e Lukinhas comentamos sobre a relação hostil entre a UJC e a UJS no Paraná, sobre a improdutividade de compor os politicamente esvaziados espaços promovidos pela UNE e, também, comentamos sobre o real efeito de compor esses espaços que é validar a atual gestão e, no caso da Caravana da UNE, validar a própria Reforma Universitária. A essa altura da tribuna, creio que já elenquei outros motivos mais pelos quais nosso projeto de juventude e de universidade, atualmente, não cabe nos debates que a majoritária promove e porque é ineficiente disputar esses espaços. Para endossar esse ponto, trago a análise feita por e camarada F. Martins na tribuna “Os desvios de direita na nossa política de ME” que contribui para chegarmos a conclusão da não correspondência do nosso projeto de ME com a que virou a disputa da UNE.

 “Entretanto camaradas, não podemos deixar que os saldos que obtivemos disputando as eleições das entidades estudantis se tornem uma defesa acrítica dessa tática. É comun hoje na nossa organização que todas as críticas a nossa política de entidades estudantis seja classificada como “abstencionismo”, criando uma falsa dicotomia entre Disputar X Se abster das eleições  como uma forma de reafirmar a linha tirada em 2017 e justificar todas as contradições que estão postas no agora. 

O camarada Fabrício Lima, na sua tribuna: “A UBES é um fim ou um meio?, faz uma boa crítica aos desvios eleitoreiros que temos cometido. Dedicamos uma quantidade descomunal de recursos financeiros e humanos para a disputa dessas entidades, mesmo sendo de conhecimento geral que esses processos são brutalmente fraudados pelo campo democrático popular. Além das fraudes, temos que analisar que a forma das eleições de entidade favorece muito o campo majoritário. Essas organizações(UJS,PT,JPL,etc..) trabalham com uma forte política de liberação de militantes no ME e formam seus militantes como operadores de tarefas, que fazem de tudo para garantir o máximo de votos para sua organização. Já na nossa organização, liberação de militantes praticamente não existe e nossos militantes são incentivados a formular  politicamente o espaço em que atuam, o que, apesar de ser a forma correta de militância, nos deixa com uma carga de trabalho maior em relação a majoritária. Na majoritária os militantes trabalham panfletando, enquanto nossos militantes formulam e panfletam depois do trabalho. Não disputamos nas mesmas condições, o que faz com que o critério quantitativo e eleitoreiro de número de delegados intensifiquem a sobrecarga e as quebras da nossa militância.”


“Os desvios de direita na nossa política de ME” de Camarada F. Martins.

Para além do fato de que compor a UNE hoje não nos faz avançar rumo à revolução, já que não estamos pautando nossa linha dentro da entidade e suas eleições não nos beneficia (como poderiam alegar algumes que se fiam ao caráter propagandístico das eleições burguesas para justificar a nossa presença nelas), a nossa forma de militar e as características da nossa base não são condizentes com a forma como a UNE é disputada. Entendo que em alguns momentos da história a UNE pode ser um instrumento de mobilização das massas, mas atualmente não é mais e, tendo outras possibilidades de atuação junto às massas, defender cegamente essa disputa é sintomático de uma dirigencia que se prende no passado e se distancia da própria base.  

Portanto, camaradas, o abandono à UNE não se dá pela dificuldade frente à hegemonia reformista, mas sim por termos uma estratégia e ela ser SOCIALISTA, por acreditarmos na construção do Poder Popular e, acima de tudo, ter a coragem e a disposição revolucionárias de rever nossas táticas e alterá-las visando atingir o nosso objetivo enquanto partido de vanguarda e enquanto comunistas.

É imprescindível que esse debate ocorra em nosso XVII congresso extraordinário e ocorra de forma honesta e leninista.

VIVA O PODER POPULAR!