Jornada contra a violência policial: movimento negro pede justiça por Bernadete e fim das chacinas

"Governos que se colocam enquanto progressistas não têm autoridade para de fato conduzir uma segurança para estes corpos [pretos], porque se aliam com os empresários, se aliam com a Polícia Militar e esquecem da luta com a nossa classe, que é negra e da periferia"

Jornada contra a violência policial: movimento negro pede justiça por Bernadete e fim das chacinas
"Como um governo que se coloca progressista conduzirá essa pauta se eles mesmos estão exterminando o nosso povo?"

Por Lacerda

SÃO PAULO — Organizações do movimento negro brasileiro convocaram atos contra a violência racista em cerca de 30 cidades pelo país nesta última quinta-feira (24). Em São Paulo, o ato se abriu no vão do Museu de Arte de São Paulo, com falas de lideranças de religiões de matriz africana, que conduziram a marcha da Avenida Paulista até a Praça do Ciclista. A data, 24 de agosto, foi escolhida por ser o dia de morte do advogado abolicionista e intelectual Luiz Gama e marca, a partir dos atos convocados, o início de uma jornada de lutas contra a violência racista até o dia 20 de novembro, dia da Consciência Negra.

0:00
/

Os atos foram convocados diante do recrudescimento da brutalidade policial e genocídio negro representados em episódios recentes, como as chacinas na Bahia, Rio de Janeiro e Guarujá (SP) que ocorreram nas últimas semanas, e no assassinato de Mãe Bernadete, liderança quilombola da comunidade Pitanga dos Palmares (BA) e ialorixá, a mando de latifundiários e madeireiros. Episódios estes reduzidos a “casos isolados” pelos governos estaduais e federal, mas que expressam o caráter racista que todo governo burguês e de conciliação de classes carrega em si.

É sintomático o crescimento da violência contra a população negra sob um governo estadual de extrema-direita, representado na figura de Tarcísio de Freitas. A Operação Escudo, realizada pela Polícia Militar, já matou 20 pessoas na Baixada Santista e é um exemplo entre vários de que a polícia se comporta enquanto aparato de repressão da classe trabalhadora utilizado pelo Estado burguês.

Jemys, 19 anos, militante da União da Juventude Comunista (UJC) que compôs o ato, afirmou que “governos, mesmo que se colocam enquanto progressistas, não têm autoridade para de fato conduzir uma segurança para estes corpos [pretos], porque se aliam com os empresários, se aliam com a Polícia Militar e esquecem da luta com a nossa classe, que é negra e da periferia. Temos que apontar que esses governos são uma ilusão para uma suposta luta e suposto fim da violência. Caso contrário, teríamos visto avanços para liberação e descriminalização das drogas, e contra encarceramento. Vemos o governo do PT na Bahia matando e exterminando a sua população. Como um governo que se coloca progressista conduzirá essa pauta se eles mesmos estão exterminando o nosso povo? Não podemos ter ilusões com esse tipo de governo e precisamos entender que é a partir de nós, nas ruas, que conseguiremos avançar construindo uma nova sociedade e um novo mundo”.

O ato desta quinta marcou o início da Jornada dos Movimentos Negros Contra a Violência Policial, que será construída com encontros mensais até o 20 de novembro.

“É importante lembrar que estamos falando do governo Lula-Alckmin. Alckmin, que foi governador por anos no estado de São Paulo e responsável pelo avanço do encarceramento em massa e pelo avanço das políticas neoliberais. Ao mesmo tempo, precisamos relembrar que a Lei de Drogas que vigora no nosso país atualmente, responsável por encarcerar e aprofundar a violência contra a classe trabalhadora e juventude negra, foi sancionada por um governo social democrata, governo do PT", ressaltou Gabriel Dias, 24 anos, militante da UJC.

"Nesse sentido, a tarefa dos comunistas é, sim, celebrar e entender que foi uma vitória democrática e avanço para melhores condições de luta, mas precisamos avançar também no que diz respeito aos limites de um governo social-democrata e quais são as tarefas centrais, que é ligar e entender que a luta contra as prisões, a luta contra a Lei de Drogas, a luta pela vida da juventude trabalhadora negra, estão intimamente ligadas a luta e organização pelo Poder Popular, dos revolucionários, da auto-organização dos trabalhadores negros. Isso não é só o PCB-RR e UJC que dizem, mas também os Panteras Negras e diversas organizações comunistas e marxistas-leninistas no mundo inteiro. Portanto, nossa tarefa histórica não é só conseguir outra política pública ou outra vitória no Supremo Tribunal Federal, mas avançar no sentido de construir uma revolução que vá de fato fornecer condições para os trabalhadores não só sobreviver, mas viver”, concluiu Gabriel.