Jagunços continuam incendiando a Ocupação Marielle Franco

Na última quarta (18/09), moradores da ocupação no sul do Amazonas, vivenciaram mais um incêndio a mando de fazendeiros, que devastou plantações e mais uma casa.

Jagunços continuam incendiando a Ocupação Marielle Franco
Local da casa/19 de setembro de 2024. Foto: Arquivo Comunidade Marielle Franco.

Por Redação

Mais uma vez os grileiros, Sidney Sanches Zamora e seu filho, mandaram tocar fogo na comunidade Marielle Franco, a fim de amedrontar e expulsar os moradores e os colocarem como os causadores do incêndio. Eles incendiaram a casa de um morador e o fogo se alastrou novamente destruindo plantações.

O agricultor encontrou evidências de ação humana próximo à casa e rastros das botas dos jagunços. Antes de chegar a sua casa e ver a destruição, observou que os funcionários da fazenda estavam próximos da cerca que divide a “fazenda Palotina” da comunidade.

Nesses novos passos de perseguição e táticas de expulsão gradual, no final de agosto, haviam queimado a casa da liderança da comunidade, Paulo Sérgio, onde o fogo durou vários dias, queimando as plantações dos moradores. Desde então, têm surgido vários incêndios que estão devastando a área.

Até o momento, mesmo com diversos pedidos da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos de Parintins e Amazonas, nenhuma autoridade foi ao local investigar ou conter os incêndios.

Os fazendeiros têm mobilizado sua influência na imprensa acreana para colocar os moradores como os verdadeiros causadores dos incêndios, como criminosos ambientais, algo que os moradores já esperavam que acontecessem desde o primeiro incêndio.

Na imprensa, eles têm assumido uma postura de vítima afirmando que os moradores são criminosos e devastaram sua terra. E que eles são os verdadeiros “protetores da floresta”.

Vale lembrar que a “fazenda Palotina” está em área devoluta, terra que deve ser arrecadada pelo estado. Isso significa que a família Zamora grilou a área e ainda devastaram mais de 10.400 hectares para a pastagem e o cultivo de soja, possuem tanto um crime ambiental como de grilagem.

Isso foi afirmado mais uma vez, nessa quarta-feira (18/09), pelo superintendente do Incra do Amazonas, Denis da Silva Pereira, em uma audiência pública frente à comunidade e outros órgãos do Amazonas. Segundo ele, foi verificado que a área de pouco mais de 48 mil hectares que contempla tanto a área ocupada e a área degradada pelo fazendeiro, está dentro da Gleba Novo Natal e é terra devoluta.

E que agora esse caso compete à justiça e terá que ser resolvido em audiência de conciliação.

A comunidade Marielle Franco esteve presente nessa audiência pública onde denunciaram todos os crimes cometidos contra eles e a urgência de demarcar suas terras, bem como, a prisão arbitrária de Paulo Sérgio.

Essa audiência intitulada “Conflitos de terras e violência no campo” realizada em Boca do Acre (AM) e organizada pela Comissão pastoral da terra (CPT-AC), contou com a presença de representantes de órgãos públicos que competem sobre a questão fundiária. Nela, estiveram presentes para reivindicar suas terras mais de 500 agricultores, extrativistas, ribeirinhos e pequenos produtores de diversas comunidades.

O processo da comunidade segue na justiça e já foram realizadas três audiências, e a postura da juíza do caso tem sido de propor uma conciliação entre o fazendeiro e a comunidade, isentando o Incra de arrecadar toda a área e propondo que a comunidade permaneça ao lado do fazendeiro. Essa proposta ignora o crime de grilagem e as consequências ambientais resultantes do desmatamento e os outros diversos crimes do fazendeiro como a ocultação de documentos públicos, emissão de documentos falsos, agressão, ameaças e muitos outros.

Os moradores agora temem que mais casas e plantações sejam destruídas, pedem urgentemente que os órgãos públicos contenham o fogo, e que a família Zamora seja investigada e responda por seus crimes.