'Imprimir Dinheiro Causa Inflação?' (Gabriel Xavier)

Essa tribuna tem como objetivo dar contribuições teóricas e realizar a crítica Teoria Quantitativa da Moeda. O objetivo é, posteriormente em outras tribunas, promover a crítica da tese da mercadoria socialista e assim, por exemplo, tentar caracterizar a o modo de produção presente na China.

'Imprimir Dinheiro Causa Inflação?' (Gabriel Xavier)
"Marx explica que o preço das mercadorias não é determinada pela quantidade de moeda em circulação, pelo contrário, é o preço das mercadorias que determina a quantidade de moeda."

Por Gabriel Xavier para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Essa tribuna tem como objetivo dar contribuições teóricas e realizar a crítica Teoria Quantitativa da Moeda. O objetivo é, posteriormente em outras tribunas, promover a crítica da tese da mercadoria socialista e assim, por exemplo, tentar caracterizar a o modo de produção presente na China.

O Equivalente Geral

O dinheiro assume certa forma específica de mercadoria, chamada de equivalente universal. O equivalente, neste caso, é o veículo pela qual o valor da mercadoria se expressa, a maneira pela qual ele é observável, portanto, o seu preço (aqui, sempre importante lembrar, não confundir valor com preço). Esta forma-mercadoria detém em seu valor de uso uma função específica, o de deter o monopólio para expressão do valor de outras mercadorias.

Contudo, em princípio, qualquer mercadoria pode atingir a forma geral do valor, como Marx dá o exemplo do linho (aqui estou utilizando a edição da Civilização Brasileira de O Capital):

“A forma que aparece depois, C, expressa os valores do mundo das mercadorias numa única e mesma mercadoria, adrede separada, por exemplo, o linho, e representa os valores de todas as mercadorias através de sua igualdade com o linho. Então, o valor de cada mercadoria, igualado ao linho, se distingue não só do valor de uso dela mas de qualquer valor de uso, e justamente por isso se expire de maneira comum a todas as mercadorias. Daí ser esta a forma que primeiro relaciona as mercadorias, como valores, umas com as outras, fazendo-as revelarem-se, reciprocamente, valores de troca.” (p. 88)

Importante ressaltar que essa equivalência não é isolada, adquire uma forma essencialmente social. As mercadorias, e valores cristalizados nelas, só existem na comparação com outros valores:

“A forma geral do valor, que torna os produtos do trabalho mera massa de trabalho humano sem diferenciações, mostra, através de sua própria estrutura, que é a expressão social do mundo das mercadorias. Desse modo, evidencia que o caráter social específico desse mundo é constituído do caráter humano geral do trabalho.” (p. 89)

Mas o que difere a forma geral do valor (C) da forma dinheiro do valor (D)? A posição que a forma dinheiro tem, como valor de uso, de ter o monopólio na expressão do valor.

“Ao conquistar o monopólio desse papel de expressar o valor do mundo das mercadorias, torna-se mercadoria-dinheiro, e, só a partir do momento em que converteu em mercadoria-dinheiro, distingue-se a forma D da forma C, ou, a forma geral do valor transforma-se em forma dinheiro do valor.” (p. 92)

Ao assumir a forma dinheiro do valor, esta mercadoria escolhida que cumpre, como valor de uso, a função de equivalente geral, expressa o valor relativo de todas as mercadorias como seu preço. Aqui, é importante não cometer um erro comum que vários economistas liberais cometem, que é confundir valor com preço. Valor é o tempo de trabalho, socialmente necessário, para a produção de um valor de uso. Novamente, com esse valor não existindo apenas sozinho e sim em comparação com outras mercadorias, por isso, constitui trabalho abstrato. Este sendo o próprio valor contido na mercadoria, que difere do trabalho concreto, que é o processo de produção efetivamente executado para produzir a mercadoria. O trabalho do vidraceiro, enfermeiro ou engenheiro exigem conhecimentos diferentes, são executados de forma diferentes, são trabalhos concretos.

Entretanto, o produto destes trabalhos, como são comparados? Pelo trabalho abstrato, o valor da mercadoria, que assume a forma de equivalente geral pelo dinheiro o que, por sua vez, é o preço. Mas esse preço muita vezes é imperfeito, não exprime a medida exata do valor, como Marx assinala:

“A possibilidade de divergência quantitativa entre preço e magnitude de valor, ou do afastamento do preço da magnitude do valor, é, assim, inerente à própria forma preço. Isto não constitui um defeito dela, mas torna-a a forma adequada a um modo de produção em que a regra só se pode impor através da média que se realiza, irresistivelmente, através da irregularidade aparente.” (p. 129)

Marx e o Monetarismo

Nos auges da década de 1970, em meio a uma severa crise ideológica da economia ortodoxa e o descrédito do sistema vigente nos Estados Unidos e na Europa, onde o objetivo era garantir o pleno emprego das economias capitalistas, Milton Friedman realiza uma crítica à ortodoxia macroeconômica vigente no período, onde assume a sua famosa frase: “A inflação é sempre e em toda parte um fenômeno monetário”, onde o estoque, ou quantidade de moeda, a forma dinheiro da mercadoria, dentro de uma economia capitalista que determina o preço das mercadorias.

Acontece que a crítica que os marxistas devem fazer a este questionamento não deve vir de um arcabouço teórico neoclássico, onde a determinação do nível de preços, a inflação, ocorre em razão da Curva de Phillips, que é a relação inversa entre taxa de desemprego e inflação (quanto menor a taxa de desemprego, maior a inflação). A nossa crítica já está contida em Marx:

“A ilusão de que os preços das mercadorias são determinados pela quantidade dos meios de circulação, e esta pela quantidade dos metais preciosos existentes em num país, é uma ilusão fundamentada por seus primitivos adeptos na hipótese absurda e que as mercadorias entram na circulação sem preço e o dinheiro sem valor, e, uma vez na circulação, se permuta uma parte alíquota da massa de mercadorias por uma parte alíquota do monte de metais preciosos.”

Aqui, Marx explica que o preço das mercadorias não é determinada pela quantidade de moeda em circulação, pelo contrário, é o preço das mercadorias que determina a quantidade de moeda. André Lara Rezende, um economista famoso no Brasil, que ficou conhecido recentemente pela suas críticas ao presidente do Banco Central, disse de maneira semelhante: “Moeda não causa inflação, dado que moeda é apenas o índice do registro contábil dos ativos e passivos na economia. É o aumento dos preços que, por definição, obriga o aumento dos valores monetários.” (link da notícia)

Certo, mas o que causa inflação? Pretendo escrever detalhadamente em outra tribuna!