'Greve pelo clima e contra o capital! Revolução para evitar a extinção!' (Mh e Zenem Sanchez)
Testemunhamos, em tempo real, o colapso do “equilíbrio” ambiental que o planeta alcançou após a última extinção em massa. Assistimos, impotentes, à dissolução do equilíbrio da Terra, um equilíbrio estável que agora se esvai. É uma narrativa desesperadora, melancólica e inaceitável.
Por Mh e Zenem Sanchez para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
O capitalismo é uma máquina destrutiva. Ele é um sistema econômico que desde seus primórdios vem destruindo seres humanos, culturas, riquezas e a natureza de nosso planeta. Seja através da escravidão e da exploração do trabalho, da colonização dos povos pelo mundo, das guerras, da destruição da fauna e da flora pelo agronegócio, da gigantesca emissão de gases nocivos na atmosfera ou do consumismo desenfreado, a lógica de acumulação do capital guia nosso planeta para o fim de grande parte das formas de vida.
É imperativo reavaliar nossa existência como integrantes de um ecossistema comprometido. Interpelados pela ideologia do capital e pelo antropocentrismo, persistimos em nossa participação involuntária nesse desastre iminente. Enfrentamos uma enxurrada de ações individualizantes, onde fragmentamos nossas ações, separamos resíduos, reduzimos o consumo de água, preferimos o transporte público e a redução do consumo de produtos de plástico, alimentando a ilusão de suficiência. Inclusive muitos comunistas, diante da catástrofe climática, fecham os olhos e esperam que um suposto socialismo abstrato resolverá todos os problemas. No entanto, se não estendermos a concepção de coletividade à totalidade da vida, aspirando à equidade valorativa de cada entidade biótica, continuaremos fracassando.
Estamos testemunhamos a saturação das terras de cultivo com agentes químicos tóxicos. Este veneno acumula-se na maioria dos organismos, promovendo morbidades fatais, tudo em nome de uma determinada produtividade agrícola. Em breve, será mais fácil o desenvolvimento de tecnologias de polinização do que a manutenção das populações de polinizadores, muitos dos quais categorizamos como pragas.
As indústrias capitalistas, insaciáveis em seu consumo de combustíveis fósseis, perpetuam uma trajetória de aquecimento global, cuja insustentabilidade do clima denominamos agora como “ebulição”. À medida que a temperatura global ascende, assistimos impotentes ao extermínio de populações inteiras, perpetrando um genocídio ecológico, no qual a adaptação à variação climática, uma característica essencial para muitos organismos-chave na manutenção dos ecossistemas, sucumbe diante de mudanças abruptas, resultando em perdas irreparáveis na biodiversidade.
Consequentemente, a elevação térmica desencadeará o degelo de geleiras, culminando em uma elevação do nível do mar que ameaça as habitações costeiras e prejudica irreversivelmente a biodiversidade oceânica, ainda em grande parte desconhecida por nós. Até mesmo o desconhecido está fadado à extinção. O oceano, o principal produtor de oxigênio terrestre, é uma testemunha passiva dessa desgraça absoluta, com organismos termossensíveis como algas e fitoplâncton, fundamentais no processo de produção de oxigênio, correndo o risco de extinção pelo aumento das temperaturas nos mares. Comprometeremos também a respiração de nosso planeta.
A Amazônia, o escudo contra a aridez latente de nossa latitude, é como uma última fortaleza, atraindo vapor de água do oceano e fomentando as chuvas no Norte do Brasil, gerando milhões de litros de vapor de água por dia. No entanto, a crescente degradação florestal compromete essa engrenagem vital, ameaçando paralisar o ciclo das chuvas e lançar nosso continente em um novo equilíbrio desértico. Com a floresta desaparecendo, a chuva cessará, o oceano passará a drenar a umidade da floresta e a desertificação tomará conta. A escassez de chuvas reduzirá as nascentes, exaurirá aquíferos e condenará vastas áreas à falta de água potável, agravando desigualdades já existentes no acesso à água e saneamento. Além disso, a produção de alimentos definhará, resultando na fome e morte de animais e no colapso das produções agrícolas.
Testemunhamos, em tempo real, o colapso do “equilíbrio” ambiental que o planeta alcançou após a última extinção em massa. Assistimos, impotentes, à dissolução do equilíbrio da Terra, um equilíbrio estável que agora se esvai. É uma narrativa desesperadora, melancólica e inaceitável.
Por muito tempo, lutamos por condições dignas de saúde, moradia e alimentação. Agora, somente isso é insuficiente e confrontamo-nos com o que parece ser um prenúncio do fim. O futuro reserva-nos condições de vida insuportáveis, enquanto a seca e a fome avançam. O calor extremo promoverá a extinção da vida e proliferará doenças. A qualidade de vida, um ideal que uma vez almejamos para todos os seres humanos, está próximo de desvanecer-se em uma fantasia.
Diante desse cenário, impõe-se um momento de reflexão, um minuto de silêncio, um instante de apreensão da catástrofe. Exige-se uma discussão séria acerca de futuros planos e caminhos a seguir. “A luta pela mãe natureza é a mãe de todas as lutas”.
As classes dominantes de nosso país e de todo o mundo já sinalizaram que não pretendem realizar nem mesmo os mínimos esforços necessários para salvar a vida. A gigantesca maioria das medidas adotadas pelos governos burgueses através do globo não altera a essência da lógica destrutiva do capital. E a burguesia internacional, que detém o controle político, econômico e social do mundo, já iniciou seus planos de compra de terrenos “seguros” distantes da catástrofe climática que atingirá nosso planeta. Pretendem se refugiar e escravizar todo o restante da humanidade até o último momento da extinção.
Antes o projeto comunista apresentava uma alternativa de igualdade, liberdade, prosperidade e uma nova relação entre ser humano e natureza como solução para toda a exploração, destruição e desumanização das sociedades de classes. Atualmente, o projeto comunista é uma exigência para nos libertarmos da lógica do capital e também conseguirmos salvar a existência de todas as formas de vida. A nossa encruzilhada histórica deixou de ser “socialismo ou barbárie”, visto que já vivemos na barbárie capitalista, e passou a ser “socialismo ou extinção”.
Não há mais tempo para continuar trabalhando docilmente enquanto os povos pelo mundo, os trabalhadores brasileiros e as mais diversas formas de vida sofrem e morrem e nos aproximamos de um armagedon climático. É imperativo articular todas as lutas por melhores condições de vida, pela libertação da exploração do trabalho e pela tomada do poder político pela classe trabalhadora com a luta pela libertação da vida da lógica do capital, através da construção de uma sociedade socialista global e sustentável. Faz-se exigência dar atenção especial em nosso programa político para novas medidas que alterem as relações sociais de produção com o intuito de criar uma sociedade sustentável e reconstruir a fauna e flora do nosso planeta. Precisamos discutir a construção de uma nova relação entre seres humanos e natureza para libertarmos os demais seres vivos do sofrimento a que estão submetidos. E como todas as outras lutas, não a realizaremos através do diálogo com a classe dominante.