Greve dos trabalhadores da PepsiCo revela caráter político da redução da jornada de trabalho

Um sindicato apenas não conseguirá pela sua própria força garantir esse avanço sozinho, é necessário uma mudança profunda nas próprias leis trabalhistas através de uma luta nacional unificada.

Greve dos trabalhadores da PepsiCo revela caráter político da redução da jornada de trabalho
Trabalhadores de PepsiCo em frente a fábrica de Itaquera - Reprodução/Foto: STILASP.

Por Redação

A greve dos trabalhadores da PepsiCo nas unidades de Sorocaba e Itaquera se arrastou por intensas negociações e foi finalizada no início de dezembro. Em audiência no Tribunal Regional do Trabalho 2.ª Região (TRT-2) no dia 02/12 os trabalhadores representados pelo Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Laticínios e Alimentação de São Paulo (STILASP) fecharam um acordo que contemplava estabilidade no emprego por 45 dias; abono das horas paralisadas; manutenção da jornada 6x1 em “semana espanhola”; além da cláusula de pleno diálogo a partir de 1º de janeiro de 2025. Continua, porém, a luta pelo fim da escala 6x1.

Com lucros de US$ 2,93 bilhões apenas no terceiro semestre de 2024, a multinacional PepsiCo, como tantas outras, se recusou a atender às mínimas reivindicações de seus empregados pela redução da jornada de trabalho sem redução salarial, uma luta por condições de trabalho mais dignas. O conflito iniciado pelos trabalhadores não é uma luta isolada, mas uma batalha que ressoa por toda a classe trabalhadora do Brasil e do mundo.

Além da redução da jornada de trabalho, os trabalhadores da PepsiCo exigiam melhorias significativas nas condições de trabalho, incluindo a abolição da escala 6x1, que impunha seis dias de trabalho seguidos de apenas um dia de descanso. A greve também teve como conquista a garantia de estabilidade no emprego por 45 dias, durante os quais a empresa só poderia realizar demissões por justa causa, uma medida de proteção aos trabalhadores em meio ao contexto de mobilização. Outras demandas incluíam a eliminação de práticas de assédio moral no ambiente de trabalho, além de uma maior equidade nas escalas de folgas, com a luta por um rodízio mais justo e pela concessão de um sábado livre por mês, como compensação pela ampliação da jornada diária. Essas reivindicações buscam não apenas a redução da carga horária, mas a dignificação das condições laborais, como um direito fundamental para a classe trabalhadora.

A reivindicação pelo fim da jornada 6x1, que impõe aos operários uma rotina de seis dias de trabalho seguidos de apenas um de descanso, é mais do que uma exigência por um calendário de folgas mais favorável. Ela representa o ponto de ruptura de uma classe cansada de ser tratada como mera força de trabalho a ser explorada sem limites. Entretanto, como em todo processo de luta de classes, a classe capitalista tem a necessidade de manter seus lucros e luta incessantemente para isso. A classe trabalhadora por sua vez utiliza de todos os meios para, de maneira organizada e coletiva, se contrapor a esse interesse que não é somente dos donos da PepsiCo em si, mas de toda a classe de capitalistas.

Diversos sindicatos manifestaram solidariedade à greve. Porém, o apoio oficial das centrais sindicais foi tímido, algo que denota a falta de comprometimento com a luta de classes real e a subordinação desses aparelhos à lógica conciliatória que visa preservar o status quo do capitalismo. A falta de posicionamento mais incisivo das grandes centrais como CUT, FS e CTB, que se abstiveram de se envolver de maneira combativa durante todo o processo revela a falta de uma liderança sindical verdadeira, disposta a romper com as práticas de colaboração com o patronato. A UGT chegou a manifestar que o fim jurídico da greve trouxe “avanços significativos nas pautas reivindicadas”, mesmo não tendo a principal reivindicação verdadeiramente atendida.

O sistema judiciário, ao intermediar a greve dos trabalhadores da PepsiCo, cumpre seu papel de garantidor da ordem capitalista, perpetuando as relações de exploração que favorecem os interesses das grandes empresas. Ao intervir para encerrar a paralisação, o TRT-2 não só validou a manutenção da jornada 6x1, como também impôs um acordo que, embora traga algumas garantias para os trabalhadores, não altera substancialmente as condições de exploração impostas pela empresa. A decisão judicial, ao reforçar a flexibilidade das partes para "debater" as folgas e garantir a estabilidade temporária de 45 dias, coloca em segundo plano a luta por uma jornada de trabalho mais curta e uma real melhoria nas condições de vida dos trabalhadores. Ao invés de apoiar uma mudança estrutural no modelo de exploração, o sistema judiciário se mostra como um pilar da ordem econômica vigente, buscando minimizar os conflitos enquanto assegura que a dinâmica de poder e lucros das corporações seja preservada.

É preciso sublinhar que essa luta não é apenas uma batalha pontual dos trabalhadores da PepsiCo, mas uma luta política de toda a classe trabalhadora. A redução da jornada de trabalho não é uma questão apenas de uma categoria, mas uma questão estrutural que atinge todos os trabalhadores que, sob o regime capitalista, são forçados a vender suas horas de vida e de saúde para um sistema que os explora sem piedade. A luta pela jornada de 30 horas semanais e por uma jornada 4x3 é uma questão que deve ser colocada no centro das reivindicações de toda a classe trabalhadora. Um sindicato apenas não conseguirá pela sua própria força garantir esse avanço sozinho, é necessário uma mudança profunda nas próprias leis trabalhistas através de uma luta nacional unificada.

Neste cenário, a greve da PepsiCo demonstra que as mobilizações mais combativas, aquelas que não se submetem aos acordos conciliatórios e que buscam a ruptura com a lógica capitalista de exploração, são as únicas que podem transformar a realidade. Não podemos esperar que os patrões ofereçam condições mais avançadas, e muito menos podemos confiar que as grandes centrais sindicais, com sua postura apática e acomodada, nos conduzam à vitória. Somente a mobilização de base, com um projeto claro de transformação das relações de trabalho, podem avançar na construção de uma sociedade onde a classe trabalhadora ocupe a posição que lhe é devida: a de sujeito da sua própria história.

A greve da PepsiCo é, sem dúvida, uma vitória parcial. Cada greve, cada paralisação, cada ato de resistência contra a exploração, é uma lição para os trabalhadores do Brasil e do mundo. Não há outro caminho senão a luta. Em tempos de crise, é necessário que a classe trabalhadora se una e se organize para derrotar o sistema capitalista que nos oprime. Os trabalhadores da PepsiCo deram um passo importante, mas é preciso seguir, com coragem e determinação, para conquistar a redução da jornada de trabalho e melhores condições de vida e trabalho para todos.