'Garimpos e o avanço do capital estrangeiro no oeste do Pará' (Carlos Eduardo e Marcelly)
Assim como na guerra às drogas, o combate aos garimpos ilegais parece ser um projeto de extermínio de classe, que não atinge os donos dos garimpos, os bancos ou os empresários que se beneficiam das extrações de minérios na região.
Por Carlos Eduardo e Marcelly para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Camaradas, o propósito desta tribuna é pensar a questão dos garimpos para que possamos nacionalizar nosso partido.
Começo afirmando o que já sabemos sobre os garimpos, desde os impactos ambientais, invasão e morte dos povos indígenas. No entanto, as raízes desses problemas são pouco debatidas pela esquerda e pelos comunistas.
Com o atual governo de conciliação de classe, o combate aos garimpos voltou a crescer, mas quem está sendo realmente combatido? O baixo salário, o desemprego e o alto custo de vida, seja pela energia cara (a Celpa foi privatizada ainda em 1998 e até hoje pagamos uma das energias mais cara do Brasil) e a especulação imobiliária, levam muitos(as) jovens, em maioria negros(as), a buscar oportunidades no garimpo, seja na extração de minérios, bares, restaurantes ou na prostituição.
Assim como na guerra às drogas, o combate aos garimpos ilegais parece ser um projeto de extermínio de classe, que não atinge os donos dos garimpos, os bancos ou os empresários que se beneficiam das extrações de minérios na região. A destruição de maquinário ou a morte de funcionários apenas resulta em substituições dos maquinários e da mão de obra. Além de causar efeito balão, levando a exploração para novas regiões.
Além disso, o fechamento dos garimpos causa impactos econômicos, afetando os municípios que dependem diretamente ou indiretamente da renda gerada por esses grupos, incluindo Santarém e seu setor de serviços.
Há também a presença da polícia militar, que funciona como uma milícia, assediando, prendendo e extorquindo bares e restaurantes próximos aos garimpos.
Enquanto os garimpos são combatidos, o capital estrangeiro, principalmente empresas canadenses, cresce na região. Sabemos que os capitalistas, são os maiores destruidores do meio ambiente, e que levam nossas riquezas sem pagar impostos, por conta da Lei Kandir. Essas empresas geram poucos empregos locais, alegando falta de mão de obra especializada, e ainda promovem xenofobia contra moradores da região.
No Brasil, os garimpeiros apoiaram Bolsonaro, por conveniência, enquanto no Peru, Pedro Castillo, chamado por lá de socialista, prometia acabar com as isenções fiscais das mineradoras e manter 70% da riqueza no país, conquistou o apoio dos garimpeiros. Isso demonstra que é possível apresentar uma alternativa.
Não afirmo a posição que o partido deve tomar, mas sim que devemos aprofundar nossa compreensão desse assunto de maneira materialista, não superficial, como parte da esquerda tem feito.
Defendemos a estatização de todas as mineradoras em território brasileiro? A estatização permitirá que a riqueza produzida seja usado para desenvolvimento das regiões? Ou continuaremos apenas defendendo repressão estatal sem qualquer alternativa?
Eu acredito que a defesa da estatização seja a melhor alternativa contra o capital e a exploração predatória imposta, e que o jornal seria nossa melhor ferramenta para apresentarmos tal proposta. Apesar de que a questão logística, talvez seja nossa maior dificuldade.
Camaradas, tenho pouco conhecimento teórico, talvez esteja cometendo vários equívocos e por isso espero muito que outros(as) camaradas possam trazer um entendimento melhor sobre o assunto.