'Formação Política e produção marxista' (Fauri)
Falar sobre Formação Política dentro de um Partido Comunista é falar de produção científica para nossa classe e profissionalização da nossa atuação.
Por Fauri para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
“Por formação teórica entendemos o processo de educação, de estudo e de trabalho pelo qual um militante é posto na posse não somente das conclusões das duas ciências da teoria marxista (materialismo histórico, materialismo dialético), não só de seus princípios teóricos, não só de algumas análises e demonstrações de detalhe mas de todo o conjunto da teoria, de todo o seu conteúdo, de todas as suas análises e demonstrações, de todos os seus princípios e de todas as suas conclusões, em sua ligação científica indissolúvel. Entendemos a formação teórica, portanto, ao pé da letra, como um estudo e uma assimilação aprofundada de todas as obras científicas de primeira importância sobre as quais repousam os conhecimentos da teoria marxista” Louis Althusser.
Início a tribuna com esta frase de Althusser para demonstrar como a Formação Política no nosso Partido deve ter em seu horizonte não só o ensino e “repasse” dos conceitos marxistas como uma check list que a cada mês realizamos, mas como um verdadeiro Centro de produção da ciência marxista e de uma produção de ciência que esteja em constante disputa por um marxismo revolucionário, tal como Lênin e Rosa Luxemburgo disputaram em seus devidos tempos históricos.
O Partido (e mais especificamente a Formação Política) deve estabelecer como ponto de partida desta produção um entendimento que sem uma educação revolucionária ferrenha e uma intensa pesquisa da realidade que nos rodeia, nunca conseguiremos pautar a realidade e disputar de forma profissional a consciência das massas.
Falar sobre Formação Política dentro de um Partido Comunista é falar de produção científica para nossa classe e profissionalização da nossa atuação. Se quisermos sermos autônomos em relação ao Estado Burguês, precisamos ter em mente que a Formação Política deve ser prioridade número um.
Mas, afinal, que tipo de formação estou falando?
Na tribuna “'A UJC não é uma escola de quadros, uma resposta ao camarada Gabriel Tavares'”. E camarada levanta um ponto fundamental: o partido precisa ter uma escola!
Dessa forma, a Formação Política deve sim funcionar como uma escola; e funcionar como uma escola de produção marxista-leninista requer disciplina e rigorosidade. A pasta, nacionalmente falando, deve atuar em dois eixos principais que chamarei de Escola de Quadros e Produção da Ciência Proletária.
O primeiro Eixo (Escola de Quadros) terá um funcionamento parecido como uma Escola, onde les camaradas formadores serão liberados para atuarem apenas nisso.
Por exemplo, les camaradas deverão receber formações completas e profissionais a respeito de:
- Organização Partidária e Partido Leninista
- Fundamentos da Filosofia Marxista
- Crítica à economia política
- Opressões de Gênero e Raça no Capitalismo
- Ética Comunista
- Formação sócio-histórica do Brasil e da América Latina
- Atuação Partidária
- Formação de auto-defesa
- História das experiências socialistas
- História recente do Brasil
- Agitação e Propaganda
No segundo Eixo da Formação Política, Produção da Ciência Proletária, o trabalho é de uma verdadeira instituição autônoma do Partido que estará produzindo ciência e teoria que baseará toda nossa estratégia e tática.
O Eixo - Produção da Ciência Proletária - não constará apenas com a disputa teórica mas também com a criação de um levantamento concreto da nossa realidade. Este levantamento deverá ser feito muito prático: tabelas, números, porcentagem etc…
Enquanto a disputa teórica se ocupa da disputa ideológica, o nosso arcabouço estatístico será subjacente à nossa atuação, pautará ele.
Assim sendo, este eixo não deverá ser responsabilizado por dar formação teórica e prática mas por produzir teoria e análise material. Fica em aberto a discussão sobre como será organizado nacionalmente e localmente, mas, pegando uma situação local como exemplo.
Uma comissão deste eixo da Região Metropolitana de Porto Alegre (região que cobre Porto Alegre, Alvorada, Araricá, Arroio dos Rato, Cachoeirinha, Campo Bom, Canoas, Capela de Santana, Charqueadas, Dois Irmãos, Eldorado do Sul, Estância Velha, Esteio, Glorinha, Gravataí, Guaíba, Igrejinha, Ivoti, Montenegro, Nova Hartz, Nova Santa Rita, Novo Hamburgo, Parobé, Portão, Rolante, Santo Antônio da Patrulha, São Jerônimo, São Leopoldo, São Sebastião do Caí, Sapiranga, Sapucaia do Sul, Taquara, Triunfo e Viamão) deverá produzir a cada tempo determinado (mensalmente? trimestralmente?) análises sociais, geográficas, econômicas, históricas e políticas como:
- Levantamento da produção industrial da região e porcentagem da população envolvida na cadeia de produção.
- Levantamento conjuntural da correlação de forças políticas (prefeitura, vereadores, sindicatos, partidos políticos)
- Levantamento histórico da região, elencando a formação sócio-histórica da região e seu desenvolvimento cultural e artístico
- Mapeamento de lideranças políticas
- Mapeamento estatístico de quantas pessoas estão empregadas no setor de serviço
- Densidades por bairro
Dessa forma, nossa atuação tático-estratégica terá embasamento teórico. Uma produção que se estrutura de forma independente de censos e pesquisas do Estado Burguês. Uma consequência lógica é a melhora na nossa política de recrutamentos, onde, não será mais pautada a partir da aproximação de pessoas dispersas para com a gente, mas a partir de um planejamento planificado e estruturado.
Para além do direcionamento prático e estatístico, outra tarefa desse eixo (que vem sendo realizada em partes pelo órgão central) é a produção de uma literatura comum do partido.
É a estruturação de uma política de divulgação teórica nossa, com uma editora própria, com tradutores das mais diversas línguas, com um aparelho edificado de produção de livro, jornal, relatórios etc…
Dessa forma, camaradas, estaremos planificando e dando materialidade à nossa atuação de disputa da consciência das massas e da disputa por um Marxismo que não seja palco acadêmico, mas sim, uma arma da classe trabalhadora. Um Marxismo que tenha como tarefa principal a revolução brasileira.