Estudantes da UnDF denunciam intimidação e repressão após ação da Polícia Civil
A nota ressalta que os espaços universitários, especialmente aqueles geridos pelos centros acadêmicos, devem ser ambientes de livre expressão, participação direta e autonomia dos discentes, valores que têm sido ameaçados pela gestão atual.
Por Redação
Estudantes da Universidade do Distrito Federal (UnDF) denunciaram uma ação autoritária e intimidatória por parte da administração do Campus Norte da instituição. De acordo com uma nota de repúdio emitida pelo Conselho Estudantil, agentes da Polícia Civil foram chamados ao campus para registrar fotograficamente manifestações artísticas de alunos em espaços de convivência e autonomia estudantil.
A presença da polícia causou desconforto e preocupação entre os estudantes por ser uma tentativa de criminalizar expressões artísticas e restringir a liberdade de expressão dentro da universidade. A nota ressalta que os espaços universitários, especialmente aqueles geridos pelos centros acadêmicos, devem ser ambientes de livre expressão, participação direta e autonomia dos discentes, valores que têm sido ameaçados pela gestão atual.
Além disso, relatos de estudantes indicam que a comunicação entre alunos e professores por e-mail institucional foi bloqueada. "Ao que parece, mudaram as nossas permissões de envio e não temos autorização para realizar disparos de e-mails para a comunidade acadêmica". A ação teria ocorrido no mesmo dia em que a administração do campus, acompanhada pela Polícia Civil, esteve no centro acadêmico para discutir um grafite feito pelos estudantes. "Mais uma tentativa de minar nossa organização e mobilização".
Essa série de eventos ocorre em meio a um clima de tensão crescente entre a administração universitária e o corpo estudantil, que articula uma possível greve para os próximos dias. A ação policial foi recebida como mais um movimento de uma gestão que adota um caráter "autocrático e policialesco".
Em nota, o Conselho Estudantil exige respeito à autonomia estudantil e o reconhecimento da universidade como um espaço democrático e popular. "Chega de intimidação! Chega de autoritarismo! Chega de retrocessos!", conclui a nota, que também rejeita qualquer tentativa de classificar as expressões artísticas dos estudantes como "depredação".
Paralisações na UnDF
As paralisações na Universidade do Distrito Federal (UnDF) revelam uma crescente insatisfação de docentes e estudantes com a falta de investimentos adequados e a gestão considerada ineficiente. Desde o início de 2024, a instituição tem enfrentado uma série de greves e manifestações, com um indicativo de greve aprovado em agosto e uma paralisação realizada no dia 3 de setembro. O movimento reivindica uma universidade mais democrática, acessível e de qualidade, e tem como principais pontos de pauta melhores condições de trabalho, ensino e infraestrutura, como a implementação de um restaurante universitário.
Os docentes, por sua vez, cobram mudanças urgentes para garantir a liberdade de cátedra, respeito à legislação educacional e melhorias na carreira acadêmica. A ausência de estrutura adequada, a defasagem salarial e a falta de um corpo técnico-administrativo próprio também são criticados. Em agosto, um ato em frente à Secretaria de Educação do DF marcou a tentativa de retomar o diálogo com a administração da UnDF, mas, até agora, sem sucesso. A atual gestão da universidade tem sido acusada de adotar práticas autoritárias que ferem tanto a Constituição Federal quanto a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB).
A situação também afeta diretamente os estudantes, que enfrentam desafios diários para permanecerem na instituição. Vale ressaltar que o governo de Ibaneis Rocha escolheu o Lago Norte como sede do Campus Norte da UnDF, um local afastado da periferia e notoriamente uma região de alto poder aquisitivo em Brasília. De acordo com o Sindicato dos Docentes da UnDF (SindUnDF), em alguns cursos noturnos, a evasão já atinge 50% das turmas, refletindo as dificuldades de permanência estudantil. A falta de opções de alimentação dentro e nas proximidades do campus é uma das principais reclamações dos estudantes, que relatam dificuldades para encontrar alternativas de refeição durante longas jornadas de estudo.
Esses movimentos grevistas e paralisações, além de evidenciarem a insatisfação da comunidade acadêmica, apontam para um problema estrutural na UnDF, relacionado diretamente à falta de investimento público e à ausência de uma política de valorização da educação superior no Distrito Federal. Sem uma resposta eficaz da administração e do governo local, a crise tende a se agravar, afetando ainda mais a qualidade do ensino e a permanência dos alunos na universidade.