Nota política: Estudantes da UEFS não amearaçaram ninguém de morte, apenas lutam contra o Burguesão e são criminalizados

Tal prática, a nosso ver, não apenas caminha para a despolitização, como tira de centro os debates fundamentais da mesma pauta, como é o caso do direito à alimentação para mulheres estudantes, sobretudo mães.

Nota política: Estudantes da UEFS não amearaçaram ninguém de morte, apenas lutam contra o Burguesão e são criminalizados

Nota política do PBCR e da UJC na Bahia

Não é novo na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) – nem em outras Instituições Públicas aparelhadas por agentes reacionários ou por falsos "progressistas", como é boa parte da base do Governo Petista da Bahia – a utilização da coerção e, se preciso for, da criminalização jurídica como forma de intimidação do Movimento Estudantil (ME). Uma vez que algo imposto “de cima para baixo” não é aceito por estudantes, o assédio moral, político e jurídico assume suas formas, em ações que ocorrem desde a relação com o ME, mas também por meio das relações de poder cotidianas na comunidade universitária.

Feira de Santana (BA), 25/02 - Ato contra o Burguesão

Neste caso, nossa militância e o Diretório Central de Estudantes - DCE UEFS foram pegos de surpresa ao receber uma intimação da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM), fazer a leitura de uma nota da Central dos e das Trabalhadoras do Brasil (CTB) e publicações nas redes de figuras públicas, como a Deputada Federal Alice Portugal (PCdoB) com a suposta acusação de que estudantes "extremistas" estão ameaçando de morte uma direção sindical da UEFS. A acusação em diferentes reproduções caminha sempre junto às palavras “extremistas” e “punição”, sem descrever, em nenhum momento, como a suposta ameaça teria ocorrido, apelando assim para o sensacionalismo pela gravidade da acusação.

A suposta acusação em sua essência se baseia no uso de tarjas em formato de dois “x” sobre o rosto de três figuras responsáveis pela articulação para construção de um restaurante privado self-service (Burguesão) dentro da UEFS, em um CARD que divulga uma Nota pública aprovada no Conselho de Entidades de Base (CEB) e publicada nas redes do DCE com o título "A quem interessa o Burguesão? Um Restaurante caro e inacessível". A partir de um recorte, que dá o enfoque não no conteúdo do CARD em sua íntegra, mas na parte selecionada, funda-se o achismo que compara as tarjas em dois “x” com um emoticon (não totalmente similar), que em uma publicação (dentre várias outras) que aparece a imagem no Google, diz ter o significado de “morte”.

Antes mesmo de colocar o que significa essa tarja em nossa comunicação, é importante reconhecer que é compreensível que determinadas pessoas e setores se assustem frente à acusação de ameaça de morte ou quaisquer tipos de violência, da forma como foi veiculada. Entretanto, indagamos aos que denunciam e repercutem sem se questionar o conteúdo, se pensam no que isso implica à segurança e vulnerabilidade de estudantes, uma vez que o mal-entendido ou mesmo a mentira podem colocar em risco a vida pessoal, a formação atual e contínua, o acesso profissional ao serviço público  e à própria liberdade. Por isso, consideramos que os estudantes não são extremistas por defender uma Universidade Radicalmente Pública e Verdadeiramente Popular. Talvez alguns, mesmo conscientes disso, que acusam estudantes frente ao justo, é que reafirmam sua posição de peleguismo, e agora também reacionarismo, diante do uso de táticas tipicamente bolsonaristas.

Já os recursos das tarjas, são utilizados por entidades e organizações com a utilidade de fazer a denúncia e ocultar parte dos rostos de figuras públicas expostas nessa situação. Além de uma questão "estética" do material, para chamar atenção da posição de figuras, buscamos com isso a "não exposição" total da pessoa. Tal recurso já foi utilizado pelo próprio DCE UEFS, bem como por nós da UJC, de forma virtual ou física para denunciar medidas contra educação e direitos sociais, seja com Bolsonaro, o ex-ministro Weintraub, Ex-Governador Rui Costa, Governador Jerônimo, atuais Ministros da Fazenda, Educação e muitas outras pessoas. Ou seja, por trás de todo ato de retrocesso, entendemos haver pessoas que influem diretamente no projeto, que não pode ser denunciado de forma deslocada a seus autores. Quem participa da política sabe que quem trai sua categoria toda ou outros setores da classe trabalhadora, acaba causando sua morte política, não física.

Dessa forma, repreendemos quaisquer tentativas de instrumentalização oportunista de uma suposta misoginia no conteúdo divulgado, uma vez que, diferente do Burguesão, não segregamos em gênero, raça, sexualidade ou classe social, os nossos adversários políticos. Esta tem se tornado outra prática rasteira utilizada para abafar debates políticos perdidos por esses setores. Tal prática, a nosso ver, não apenas caminha para a despolitização, como tira de centro os debates fundamentais da mesma pauta, como é o caso do direito à alimentação para mulheres estudantes, sobretudo mães.

Apesar de lamentarmos e firmarmos nosso compromisso com quaisquer danos causados por este mal-entendido, à pessoa exposta, sua família e outras pessoas, uma vez que podemos sim conviver com a diferença,  mas não com os danos irreversíveis que podem ser causados pelo uso oportunista deste episódio. No sentido coercitivo, com a finalidade de tirar o foco da luta estudantil travada contra o Burguesão: questão central e pano de fundo que tem a todo momento e em todos os posts seu debate rebaixado pela tentativa de associar a posição de contrariedade do ME com a acusação de ameaça de morte.

O Burguesão defendido por esses setores é segregação e descaso com a permanência estudantil e o dinheiro público!

Vivemos hoje, tanto na UEFS, como em outras Instituições de Ensino Superior, uma insuficiência das políticas de assistência e permanência estudantil. Dentre outras, temos no Restaurante Universitário (Bandejão) um importante pilar para garantia de permanência de estudantes, sobretudo em vulnerabilidade social, trabalhadores e/ou que precisam realizar atividades de ensino, pesquisa e extensão pela Universidade.

É nesse contexto que o Movimento Estudantil da UEFS pauta e denuncia há anos as péssimas condições de qualidade, infraestrutura e de alimentação do bandejão. São constantes os casos de intoxicações alimentares, casos absurdos de insetos e até mesmo pedaços de vidro e plástico encontrados na alimentação, que vêm resultando na diminuição do uso do RU, em detrimento do aumento do uso cotidiano de marmitas por parte de estudantes que conseguem garanti-las ou trazê-las de casa. Acrescido o fato do bandejão estar sob reforma (desde o fim da greve estudantil de 2023, com previsão de ser finalizado apenas em outubro deste ano), os estudantes forçados a comer em um galpão provisório, entendemos como inadmissível o uso de R$ 1.300.000,00 da Universidade, articulado pela Reitoria e Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Terceiro Grau do Estado da Bahia (SINTEST) para construção de um restaurante Self-Service (Burguesão) dentro da Universidade.

A luta estudantil contra o Burguesão não inicia agora. O Burguesão já foi derrotado anteriormente, quando a ocupação do Coletivo Rapinagem no Restaurante Universitário em 2012 acabou com o modelo de restaurante que dividia, no mesmo espaço, um bandejão para estudantes e um restaurante Self-Service para Professores e Técnicos. É nesse mesmo sentido que as entidades estudantis da UEFS, reunidas em um Conselho de Entidades de Base (CEB) e que construíram um ato público no dia 25/02, bem como todes estudantes que se posicionaram nas redes da UEFS, se colocam contra a existência de um espaço de interesse privado e benefícios particulares, pela gerência e parcela exclusiva que terá "não o direito de acessá-lo", mas as condições para tal, em detrimento do sucateamento do Restaurante Universitário.

Feira de Santana (BA), 25/02 - Ato contra o Burguesão
Feira de Santana (BA), 25/02 - Ato contra o Burguesão

Na contramão dos argumentos corporativistas defendidos pela direção da categoria de Técnicos e pela Reitoria da UEFS, entendemos que precisamos de uma política de alimentação plena e universal, que assegure condições iguais de acesso a uma alimentação de qualidade, promovendo a melhoria da estrutura, alimentação e real fiscalização da empresa contratada. Isso só pode ocorrer por meio do fortalecimento do Restaurante Universitário, para poder ser utilizado por todas as categorias, afinal, se por escolhas, alguns pretendem comer em outros locais, a possibilidade da escolha não é para todas as pessoas, sendo, portanto, excludente.

Entendemos enquanto uma necessidade urgente os estudantes seguirem mobilizados contra esse retrocesso de mais de 12 anos, o avanço do novo burguesão é uma afronta direta aos estudantes, as conquistas da ocupação de 2012, às políticas de permanência, que diariamente sofrem com o restaurante universitário provisório, seja na infraestrutura ou na qualidade da alimentação. Por isso, reforçamos a convocatória do DCE UEFS para estudantes participarem do Conselho de Entidades de Base (CEB), nesta quinta-feira, 14/03, às 17h na Sala do DCE e nos atos que virão em sequência.

Até o fim contra o Burguesão!
Contra a criminalização do Movimento Estudantil!
Solidariedade a todes estudantes vítimas de coerção!