‘Erros de análise e retratações públicas são uma excelente forma de agitação nas redes’ (Elias)
É urgente que aprendamos a manter o debate respeitoso e fraterno, mesmo quando provocados ou ultrajados pelo absurdo do que nos é dito, para que possamos demonstrar na prática o método e o mérito daquilo que defendemos com tanta ênfase.
Por Elias para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Recentemente, o Comitê Central do PCB baixou uma circular de alcance nacional consolidando a orientação de que nenhum militante deveria falar nas redes sociais sobre temas cuja posição do Partido ainda não está definida. Curiosamente, as vozes mais enfáticas desta postura vêm justamente daqueles dirigentes envolvidos nas maiores atrocidades nas redes sociais do complexo. O primeiro deles é Lucas Prestes, que comanda as redes do PCB, com a publicação requentada de textos descontextualizados para atacar camaradas no começo da polêmica que viria a culminar no racha e organização da RR (postagens que rapidamente apagou sem qualquer autocrítica, claro). Em seguida, Mauro Iasi, o IMP, com a publicação de texto seu pelas redes do Partido inaugurando uma espécie de tribuna especial a que só ele tinha direito. Há algum tempo, testemunhamos a infame publicação que Antônio Carlos Mazzeo fez no Facebook atacando, de forma muito conveniente, as mulheres que denunciaram os assédios de um dirigente em Portugal. Estes dirigentes, que não hesitam em fazer de notas políticas, textos teóricos, versos, prosas ou até mesmo hot takes inacreditáveis sobre pós-modernidade, são os primeiros a defender que à base do complexo partidário cabe apenas o compartilhamento bovino das postagens oficiais. Na visão deles, cabe apenas à CPN a análise e a formulação política, e aos militantes da base, que cavam as trincheiras e carregam os blocos da construção do nosso Partido, nada além de obediência cega, uma disciplina acrítica mesmo entre aqueles que eles consideram como apenas simpatizantes ou amigos do Partido, quando conveniente.
É fato que há, especialmente entre a juventude, alguns excessos no comportamento dos nossos militantes. É frequente ver camaradas caindo na lógica das redes sociais e recorrendo ao deboche e à agressividade do espírito de seita ao debater no Twitter. Mas a solução para estes excessos não é a ausência completa de debate.
É importante que entendamos que cada um dos nossos militantes é um tribuno do Partido, e em tempos de redes sociais, são núcleos de pequenos círculos de trabalhadores que enxergam, naquele único amigo organizado, uma referência política. É preciso que estes camaradas coloquem e defendam a linha do Partido, sim. Mas é desejável que estes camaradas se sintam também aptos a opinar, e a fomentar o debate em suas bolhas. Mas mais importante do que isso: é importante que estes camaradas possam errar. Se a práxis é o critério da verdade, não há por que temer o centralismo democrático sendo praticado à luz do dia, sem medo de fazer autocrítica, e dar aos camaradas o direito de dizer “em minha primeira análise pensei A, mas ao debater coletivamente, chegamos todos à conclusão muito mais qualificada B, e esta será a nossa posição coletiva a partir de agora.” Se defendemos tanto que o centralismo democrático qualifica as análises a partir do debate coletivo, e que a unidade de ação é o que nos dá força, por que tamanho medo disso?
Além disso, há uma inversão enorme na lógica da política do CC quanto a isso. Em questões imediatas e urgentes, como a invasão da Ucrânia pela Rússia, ou a invasão na Praça dos 3 poderes, é o Partido quem deve correr para acompanhar a conjuntura, e não a conjuntura quem deve esperar a decisão do Partido sobre a realidade, como parecem defender alguns. A consequência dessa visão é o constante atropelo do Partido pela conjuntura, problema com o qual temos lidado já há alguns anos. Reforço: cada militante é uma referência em sua própria bolha, e deve poder fazer uma análise de conjuntura quando instado a isso, mesmo que erre na análise e se retrate depois.
É urgente que aprendamos a manter o debate respeitoso e fraterno, mesmo quando provocados ou ultrajados pelo absurdo do que nos é dito, para que possamos demonstrar na prática o método e o mérito daquilo que defendemos com tanta ênfase.
Camaradas, venceremos, porque temos razão. Mas só se de fato tivermos a razão e se soubermos apresentá-la à classe trabalhadora.