Enchentes no Sol Nascente escancaram abandono do governo do Distrito Federal
A região é periférica, majoritariamente negra e pobre e enfrenta anos de descaso. O mais recente temporal deixou um rastro de prejuízos pela falta de políticas públicas em uma das maiores favelas da América Latina.
Por Redação
As recentes enchentes no Sol Nascente, no Distrito Federal, reforçam uma dolorosa realidade para seus moradores: a negligência histórica por parte do governo local. O mais recente temporal, que causou destruição em diversas áreas, deixou um rastro de prejuízos e trouxe novamente à tona o abandono de uma das maiores favelas da América Latina, onde vivem cerca de 100 mil pessoas. Os alagamentos atingiram pontos críticos como os trechos 2 e 3, próximos à Feira do Produtor e ao Hospital Regional de Ceilândia (HRC). Na avenida do Córrego das Corujas, a força das águas destruiu asfaltos recém-recuperados, expôs a fragilidade da drenagem e arrastou carros, com casos de motoristas precisando ser resgatados. Moradores também perderam móveis, eletrodomésticos e tiveram suas casas inundadas, agravando ainda mais a vulnerabilidade da comunidade.
Os relatos de abandono são recorrentes. A falta de drenagem adequada e as obras mal planejadas aumentam a vulnerabilidade da comunidade durante o período de chuvas. Na Feira do Produtor, comerciantes contabilizam prejuízos enquanto aguardam uma resposta efetiva do governo. Em 2020, o governo do Distrito Federal anunciou um investimento de R$ 300 milhões em infraestrutura no Sol Nascente, incluindo pavimentação e sistemas de drenagem. No entanto, a realidade continua a mesma: ruas transformadas em rios de lama, buracos e obras feitas de forma improvisada. Enquanto isso, regiões nobres seguem recebendo atenção prioritária, com investimentos constantes e infraestrutura moderna capaz de suportar períodos chuvosos.
Com casas sendo interditadas e pessoas transferidas para abrigos, o governador Ibaneis Rocha afirmou, em suas redes sociais, que se trata apenas de um transtorno. Já o secretário de Obras, Valter Casimiro, declarou que “a rede de drenagem do Sol Nascente/Pôr do Sol está funcionando bem” e que só precisa de alguns ajustes. Enquanto isso, os moradores da região têm que lidar com as fortes chuvas, que estão longe de terminar.
A situação no Sol Nascente é frequentemente classificada como um caso de racismo, onde políticas públicas negligenciam territórios habitados majoritariamente por populações negras e de baixa renda. Para especialistas, isso não apenas reflete desigualdades socioeconômicas, mas também viola direitos humanos fundamentais, como o acesso a saneamento básico e moradia digna. O contraste com regiões privilegiadas do DF escancara o abismo social. Enquanto o Plano Piloto e outras áreas nobres ostentam avenidas bem conservadas e sistemas de drenagem eficientes, o Sol Nascente permanece refém da precariedade. Segundo dados do IBGE, cerca de 400 mil pessoas no DF ainda vivem sem acesso a saneamento básico, a maioria delas em comunidades, como o Sol Nascente.