Em meio à pressão por embargo, Brasil continua financiando a ocupação israelense
O recente veto à aquisição dos blindados israelenses da Elbit não altera a relação do Brasil de financiador da ofensiva israelense, sobretudo pela exportação do petróleo que abastece sua máquina de guerra genocida.
Por Redação
Após intensa pressão da sociedade e dos movimentos de solidariedade à Palestina, o governo Lula-Alckmin vetou a compra de blindados de guerra da empresa da indústria bélica israelense, Elbit Systems. No entanto, a decisão não altera a relação do Brasil com os esforços de guerra sionistas de financiador direto da ocupação, sobretudo pela exportação do petróleo brasileiro. Declarações recentes do ministro Mauro Vieira reforçam o compromisso do governo com essa parceria, gerando críticas sobre a incoerência de uma política externa que se pretende alçar ao papel de mediadora do conflito, enquanto contribui diretamente na campanha genocida.
O governo anunciou na última semana o veto à aquisição de 36 blindados israelenses após a repercussão negativa da negociação bilionária. A compra, inserida em um programa de modernização da infantaria do exército iniciado em 2017, em licitação de R$ 1,2 bi, encontrava-se arrastada desde a sua abertura, em abril de 2024, sobretudo diante das disputas internas do governo, representadas nas figuras de Celso Amorim, assessor especial da Presidência e ex-ministro das relações exteriores nos governos Lula 1 e 2, e José Múcio, atual Ministro da Defesa de extrema-direita e representante direto dos interesses da caserna no gabinete ministerial.
Na ocasião, Múcio afirmou publicamente que “questões ideológicas” travaram a compra por licitação dos 36 blindados de artilharia de Israel. Apesar do confronto aberto com a decisão do governo, o presidente Lula disse, sobre a ocasião, que as declarações do ministro não abalaram sua permanência no cargo:
“O José Múcio é uma pessoa que eu tenho uma amizade profunda, um respeito profundo, sabe, eu gosto muito dele. Ele me ligou apavorado dizendo ‘acho que eu falei alguma coisa que não devia ter falado’. Eu falei: ‘Múcio, não se preocupe. Aquilo que a gente falou já está falado, já foi explorado. Esqueça, toque o barco para frente’.”
O veto de Lula levou em consideração as tensões com Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro da ocupação, que o declarou ‘persona non grata’ em fevereiro, além das pressões exercidas pelos movimentos solidários a Palestina diante da inação brasileira com a crescente ofensiva sionista. Em que pese os atritos com Netanyahu, o governo brasileiro ainda não rompeu relações diplomáticas com Israel – e nem pretende fazê-lo.
Como o chanceler Mauro Vieira reforçou, no mês passado, não há “nenhuma possibilidade” de o Brasil romper relações com a indústria militar de Israel:
“Não está em consideração romper relações, o rompimento não leva a nada, somente ao acirramento da situação, que pode levar a conflitos maiores na região. Então, não está nas nossas considerações.”
A afirmação do ministro ocorre em meio à intensificação do genocídio na Palestina e à condenação internacional de ações militares israelenses. A fala escancara a distância entre o discurso pacifista do governo e suas práticas econômicas.
Apesar da suspensão do contrato, e na contramão da retórica de condenação ao genocídio em fóruns multilaterais, o Brasil continua sustentando relações econômicas regulares com Israel. De forma direta, o petróleo brasileiro desempenha um papel crucial no financiamento da máquina de guerra israelense. A manutenção dessa dependência levanta questionamentos sobre os reais compromissos do governo com uma política externa pró-Palestina.
O Exército Brasileiro adquiriu, por exemplo, o moderno sistema de mísseis antitanque Spike LR2, da israelense Rafael Industries. O Centro de Treinamento de Carros Blindados – em Santa Maria, região Sul do Brasil – está conduzindo “treinamento técnico na operação e manutenção do míssil Spike”, contando com quatro tipos de simuladores comprados juntamente ao sistema de armas.
Além disso, foi anunciado no Diário Oficial da União de 10 de setembro de 2024 a compra de R$ 50 mi pela FAB mais uma aeronave pilotada remotamente RQ-900 Hermes, agora a quarta unidade adquirida pelo Brasil. O drone Hermes foi contratado junto a AEL Sistemas, subsidiária gaúcha do grupo Elbit – o maior da indústria militar israelense – e é hoje uma das principais armas empregadas no abate de civis em Gaza, na Cisjordânia e no Líbano.
As exportações de petróleo brasileiro à entidade sionista têm posição destacada no colaboracionismo com o genocídio. O Brasil já é responsável por 9% do total de combustível fornecido a Israel este ano, petróleo que é utilizado pela ocupação para operar as frotas de caças, tanques e blindados, assim como as escavadeiras que são utilizadas para acabar com as casas palestinas, abrindo caminho para os assentamentos ilegais.
Na quarta-feira (13), uma coalizão solidária à Palestina apresentou na COP 29 um pedido ao Brasil, à África do Sul e à Turquia para cessarem o fornecimento de gás e energia a Israel. Recentemente, o governo da Colômbia anunciou medida neste sentido, e cessou o fornecimento de carvão à ocupação. O carvão colombiano perfez o montante de 60% de todo o carvão fornecido à ocupação durante o ano de 2023.
O governo brasileiro junta-se às estatísticas do Azerbaijão, Cazaquistão, Gabão, Nigéria, República do Congo e Itália, que forneceram o montante de 4,1 milhões de toneladas de óleo cru a Israel, das quais quase 50% foi após a decisão da Corte Internacional de Justiça contra o genocídio em Gaza.
É pertinente destacar que, como país signatário de convenções internacionais como a de Genebra e a Convenção para Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio da ONU, o Brasil tem responsabilidade internacional nas violações dos direitos humanos que viabiliza mediante a exportação de combustível para a máquina de guerra sionista.
A Assembleia Geral da ONU aprovou recentemente uma resolução histórica por sanções a Israel, contando com o apoio de 124 países, incluindo o Brasil. Entretanto, para a sua efetiva implementação, é necessário organizar uma intensa mobilização pelo embargo militar e o fim das exportações de petróleo brasileiro para Israel.
O governo Lula-Alckmin é desafiado, pelas próprias contradições de sua posição dúbia e vacilante, a alinhar sua política externa à suposta posição pró-Palestina que ora proclama para si. Enquanto as relações econômicas com Israel permanecerem intocadas, o Brasil continuará sendo pressionado por contribuir para o financiamento de um genocídio que condena oficialmente.