Em greve pela redução da jornada de trabalho, funcionários da PepsiCo enfrentam perseguição para voltar à produção

No primeiro dia de greve pelo fim das escalas 6x1 e 6x2, funcionários relataram coerção e perseguição por parte dos gestores; sindicato foi intimado e segue em greve sob pena de multa.

Em greve pela redução da jornada de trabalho, funcionários da PepsiCo enfrentam perseguição para voltar à produção
Faixa do STILASP em sinalização à greve na fábrica de Sorocaba. Foto: STILASP.

Por Redação

Nesta segunda-feira, 22 de novembro, os trabalhadores da PepsiCo das unidades de Sorocaba (SP) e Itaquera (na capital paulista) deflagraram greve pelo fim das escalas 6x1 e 6x2. A decisão foi tomada em assembleia no domingo (24), e é conduzida pelo Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Laticínios e Alimentos de São Paulo e Região (STILASP).

Ignorando a mobilização nacional de trabalhadores que pede o fim da jornada com seis dias de trabalho e um de folga, a PepsiCo propôs implementar os expedientes de 6x1 e 6x2 em suas fábricas. Na defesa dos trabalhadores, o STILASP entrou em conciliação com a empresa, e propôs a chamada “jornada espanhola”, na qual o trabalhador precisa cumprir 40 horas em uma semana e 48 horas em outra, de forma alternada.

Mesmo com a manutenção de uma jornada de trabalho exaustiva, a PepsiCo não recuou e se manteve intransigente nas jornadas 6x1 e 6x2, propondo folgas em um sábado por mês, a serem compensadas nos demais finais de semana.

Sem acordo que beneficiasse os trabalhadores, a greve teve início, e durante toda a segunda-feira o sindicato esteve na entrada dos turnos, conversando com os funcionários.

Condições de trabalho

Além das jornadas de trabalho que buscam explorar o máximo dos funcionários, a PepsiCo mantém diversas medidas de coerção em suas fábricas. De acordo com funcionários, a prática do “bafômetro”, por exemplo, é comum na entrada dos turnos.

“Eles ficam com uma caixinha na porta do ambulatório, com pecinhas de ‘sim’ e ‘não’, se você pega o ‘sim’, é obrigado a fazer o teste do bafômetro [antes de seguir para o posto de trabalho]”, relata uma operadora de produção e diretora sindical, que trabalha na unidade de Sorocaba, e preferiu não se identificar, por medo de represálias.

Outra queixa comum são as reuniões que gestores organizam com seus funcionários subordinados com o único objetivo de oprimir aqueles que buscam, de alguma forma, conseguir melhores condições de trabalho. “Agora que entramos com uma liminar de greve, do nada surgiram horas extras para os trabalhadores cumprirem. Um gestor ligou para funcionários no dia de folga, mandando que passassem a lista, em nome dele, para que os trabalhadores assinassem para cumprir horas extras, mesmo já tendo dito ‘não’ anteriormente”, conta a operadora de produção. “Se eu já disse ‘não’ o ‘não’ tem que ser respeitado”, desabafa.

O não cumprimento de horas extras, como relata a operadora de produção, é sujeito à ameaças do mesmo gestor: “Ele ameaça os funcionários dizendo o seguinte ‘se não assinarem a hora extra, eu vou chamar um por um para conversar’, e como a maioria das funcionárias são mães solo, são provedoras do lar, ficam com medo, se sentem oprimidas, e acabam aceitando, mesmo sem ter com quem deixar seus filhos em casa”.

O cenário de assédio moral e opressão impacta diretamente na saúde mental dos funcionários da PepsiCo. “Em média, por dia saem cinco funcionários da linha de produção para o ambulatório, com crise de ansiedade, síndrome do pânico, inclusive eu sou uma delas”, conta a funcionária, “Eu tô bem na minha casa, mas quando piso no chão da fábrica eu começo a passar mal. E não é porque a gente não gosta de trabalhar, eu gosto do que eu faço, só que a gente se sente tão pressionado que tá fazendo mal”.

Ainda de acordo com o relato da operadora de produção, há funcionários gastando quantias enormes de seus salários com medicalização psiquiátrica para aguentar a carga e o ambiente de trabalho. “Na semana passada, uma moça que trabalhava aqui há quatro anos e estava passando por psicólogo e psiquiatra começou a passar mal na linha de Toddy, o gestor sabendo de tudo isso não deu a mínima, e ela continuou trabalhando, tendo crise de ansiedade. Quando ela subiu no mezanino para dobrar caixas, ela me falou, eu tenho as mensagens, ‘eu cheguei a olhar para baixo e sentir vontade de me jogar’”.

Ofensiva anti-greve

Com a organização dos  trabalhadores e a deflagração da greve nesta segunda-feira, a PepsiCo iniciou uma ofensiva de movimentos contrários à mobilização. Em grupos com funcionários no WhatsApp, gestores e membros do Recursos Humanos (RH), enviaram mensagens de coerção, desincentivando à adesão à greve:

Print que mostra uma funcionária do RH da PepsiCo pedindo aos trabalhadores de Sorocaba que se posicionem contra a greve e o sindicato. Foto: trabalhadora que preferiu não se identificar.

 “O que eles sempre pregam nas nossas reuniões é ‘expressar opinião sem medo’, e quando eles começaram a postar mentiras sobre o sindicato nos grupos, eu ia respondendo atrás. O que o meu gestor fez? Ele configurou para que só administradores pudessem enviar mensagens nos grupos. Ou seja, me tirou o direito de expressar minha opinião sem medo”, conta a operadora de produção.

Além do assédio por mensagem, o medo do movimento grevista fez com que os gestores da PepsiCo Sorocaba autorizassem a entrada dos ônibus que transportam os trabalhadores para dentro das fábricas, como forma de barganha. Normalmente, os funcionários precisam desembarcar e fazer o percurso a pé. “Em dias de chuvas nós temos que nos virar, colocar a mochila na cabeça e ir para entrar nos ônibus. Mas hoje, eles fizeram uma boa ação”, conta a funcionária, com ironia.

Sem sucesso em barrar o movimento, a PepsiCo recorreu ao judiciário burguês, e no fim da tarde do primeiro dia da greve, o STILASP recebeu uma notificação da Justiça do Trabalho, intimando os trabalhadores a retornarem aos seus postos de trabalho, e proibindo o sindicato de insistir na continuidade da greve, sob pena de multa diária de R$ 30 mil. 

Resistência dos trabalhadores

Em audiência no Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (TRT-2) nesta terça-feira, 26 de novembro, o sindicato acatou uma “Cláusula de Paz”, que prevê a suspensão da greve até a data da próxima audiência, que será realizada no dia 02 de dezembro de 2024. Entretanto, o retorno das atividades da empresa será condicionado à realização de três assembleias com os trabalhadores, sendo a primeira ainda nesta terça, às 22 horas, com o terceiro turno.

As assembleias seguintes estão marcadas para quarta-feira (27), às 6 horas, com o primeiro turno de trabalhadores, e para as 14 horas do dia 27 de novembro, reunindo os funcionários do segundo turno.