'Em frente! Duas questões sobre nosso jornal partidário' (Doni)

Nosso jornal deve se chamar “Em frente!”. Sugiro esse nome não tanto pelo duplo sentido (enfrente!) quanto pelo objetivo que deve assumir não só o jornal como todas as nossas ações, isso é, o avanço de nossa consciência de classe.

'Em frente! Duas questões sobre nosso jornal partidário' (Doni)
"Pois bem, o jornal não pode ser apenas um contraponto a esse cenário desgraçado, uma instância de “resistência”, mas precisa representar dos pés à cabeça a forma final de nosso conteúdo revolucionário, a força da teoria marxista-leninista e de nosso desejo incontrolável superar a destruída realidade brasileira."

Por Doni para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

O objeto dessa pequena contribuição ao debate público é o jornal de nosso partido, cuja organização é uma de nossas principais tarefas imediatas e que ainda precisa ser destrinchado em todos seus aspectos importantes, sem esquecer das variadas e valiosas tribunas e editoriais já publicados sobre a matéria. Em específico, gostaria de falar sobre algumas questões: sobre o nome de nosso jornal e seu significado e sobre seu caráter de tribuna da classe trabalhadora brasileira.

1. O nome do jornal e seu significado

Nesse ponto agradeço à camarada Berni que em sua tribuna “Chega de Cosplays de Bolcheviques” coloca que apesar de termos conseguido alguns avanços em termos de organização e mobilização popular, ainda temos uma enorme distância a percorrer, inclusive em nosso estado de espírito e capacidade de imaginar novas formas de vencer, não de apenas perder melhor.

Zombamos frequentemente de palavras de ordem como “seremos resistência”, “ninguém solta a mão de ninguém” e afins, tipicamente usadas pela “esquerda” brasileira, que corretamente traduzem o “Realismo de Esquerda” mencionado na tribuna: a prática oportunista do hegemônico Partido dos Trabalhadores que se propõe historicamente a empreender o projeto neoliberal com pitadas de preocupação social, já se encontra em um nível acima do oportunismo, pois se  em tese deveria oferecer “ganhos imediatos” à classe trabalhadora na realidade só entrega o fortalecimento do agronegócio, dos militares e da burguesia financeira, entre outros.

Pois bem, o jornal não pode ser apenas um contraponto a esse cenário desgraçado, uma instância de “resistência”, mas precisa representar dos pés à cabeça a forma final de nosso conteúdo revolucionário, a força da teoria marxista-leninista e de nosso desejo incontrolável superar a destruída realidade brasileira.

Nesse sentido, deixo a seguinte sugestão (e também espero outras de outres camaradas nesse sentido): nosso jornal deve se chamar “Em frente!”. Sugiro esse nome não tanto pelo duplo sentido (enfrente!) quanto pelo objetivo que deve assumir não só o jornal como todas as nossas ações, isso é, o avanço de nossa consciência de classe.

Trata-se de um nome que encampa a necessidade de lutarmos constantemente contra o oportunismo dentro e fora de nossas fileiras, e que deixa claro que não aceitamos abrir mão de nossos interesses fundamentais em troca de migalhas, que somos irreconciliavelmente e incuravelmente comunistas. Se não podemos correr, andaremos, todavia, andaremos sempre em frente, rumo à revolução brasileira.

2. O jornal deve ser a tribuna da classe trabalhadora brasileira

Nesse ponto, camaradas, ao ler as tribunas tive a impressão (não consegui ler todas e posso estar errado) de que estamos subestimando um outro traço de nosso órgão central, que é a participação de toda a classe trabalhadora, não só de militantes partidários. Entendo também como muito positiva a abertura das tribunas de debates para todos que desejem contribuírem, bem como a possibilidade de travarmos debates públicos, mas precisamos ir além e buscar ativamente fortalecer essa ligação orgânica entre o partido e sua classe.

O camarada Lênin escreveu um texto muito esclarecedor sobre a questão [1], no momento da fundação de um periódico bolchevique (o Vperiod/Avante foi fundado após o sequestro do Iskra pelos mencheviques no pós-II Congresso do POSDR) no qual clamava que além dos intelectuais social-democratas, também os operários deveriam escrever sobre os variados aspectos da organização, sobre acontecimentos de suas cidades/bairros/locais de trabalho e fazer suas críticas às debilidades do movimento social-democrata:

“Há um mal-entendido segundo o qual os literatos e somente os literatos (no sentido profissional da palavra) são capazes de participar com sucesso no órgão; pelo contrário, o órgão será vivo e vital apenas quando, para cada cinco literatos principais e regulares, tivermos a contribuição de quinhentos ou cinco mil operários não-literatos. (...)

(...) Que todo aquele que considera este órgão seu e que tem consciência dos deveres de um membro do partido social-democrata abandone de uma vez o hábito burguês de pensar e agir como é costume em relação aos jornais legalmente publicados – o hábito segundo o qual seu trabalho é escrever, e o nosso é ler. Todos os social-democratas devem trabalhar em um jornal social-democrata. Pedimos a todos, especialmente aos operários, que se correspondam conosco. Dê aos operários a mais ampla oportunidade de escrever para nosso jornal, de escrever efetivamente a respeito de tudo, de escrever o máximo possível sobre suas vidas cotidianas, interesses e trabalho – sem esse material, um órgão social-democrata não valerá um centavo, e não merecerá o nome de organismo social democrata. (...) escrevam, acima de tudo, sobre as insatisfações para conosco, os social-democratas, entre os operários, sobre seus incômodos, sugestões, críticas, etc.”

A unificação de todas as lutas em apenas uma luta política contra o Estado burguês e a burguesia é a tarefa do Partido Comunista, ou seja, nosso trabalho é principalmente o de fazer a maioria dês trabalhadores brasileires perceberem a conexão entre seu sofrimento diário (desde o Norte ao Sul, do interior às regiões metropolitanas) e o domínio econômico e político da classe burguesa sobre sua própria, ligarem sua situação particular às circunstâncias de outros ramos profissionais, de trabalhadores uberizados, autônomos, camponeses, assalariados rurais, etc. para daí, conscientemente, aderirem à política comunista e a esse “movimento de transformação do estado de coisas atual”.

Nesse sentido, encorajar e receber a contribuição de todes é necessário para, a todo momento, guiar nossas produções teóricas e programa político (e organização) na direção de realmente responder às necessidades dês brasileires, de nos ajudar a compreender a magnitude do que enfrentamos e precisamos superar. Além disso, essa verdadeira nacionalização de nossa visão é mais do que necessária para enfrentar o federalismo que ainda permeia nossas fileiras e a curta capacidade de elaboração de militantes para assuntos que vão além das fronteiras do Estado de São Paulo ou do Rio de Janeiro.

O jornal só será o órgão da classe trabalhadora se buscar ativamente a participação de trabalhadores de todas as formas possíveis e em todos os momentos, não só encorajando-os a escrever matérias para publicação mas também ouvindo atentamente seus relatos sobre suas vidas, seus problemas e seu lugar no mundo por todos os meios possíveis, desde uma conversa durante a venda de um jornal até canais de WhatsApp e Telegram dedicados para essa finalidade.

A partir do que foi dito, camaradas, gostaria de propor algumas alterações à seção que trata da imprensa partidária em nossas pré-teses (negritadas no texto abaixo):

i) Adição do nome do jornal no §40;

ii) Adição de “trabalhadore” no §43, ampliando o caráter classista do jornal;

iii)   Inclusão do trecho “Esse diálogo com trabalhadores não-organizades deve relembrá-les de que podem contribuir para sua construção, por meio de denúncias, questionamentos e até relatos pessoais, cabendo ao Órgão Central criar canais de comunicação diretos para dinamizar esse processo.” Ao fim do §44;

iv) Quebra do fim do §44 para §45, pois tratava de outra questão (atuação em mídias digitais);

§40 O jornal partidário “Em Frente!” é o trabalho publicístico mais importante no atual período. Sobretudo, ele é indispensável para a profissionalização da agitação e propaganda. Entre outros motivos, porque ele supera a artesanalidade dos panfletos e pequenos jornais locais, quase sempre realizados com poucos camaradas e com resultados limitados, em direção a uma produção nacional, regular, centralizada pela direção do Partido, e que atue como dirigente ideológico de toda a militância, com uma rede de distribuição própria e financeiramente sustentável.

§43 Tode comunista e trabalhadore é ume correspondente do nosso jornal. É tarefa de toda célula ou comitê escrever para o jornal, discuti-lo e distribuí-lo em seus locais de atuação. Os estados ou regiões onde estamos organizados devem ter camaradas destacados para operar o diálogo com o órgão central de imprensa, e toda célula pode se corresponder diretamente com a diretoria do órgão;

§44 Distribuir o jornal impresso e criar momentos de diálogo mais aprofundados com as massas em um dado local é insubstituível. Podemos dizer que essa é uma das formas mais efetivas de propaganda, em nível pessoal. Esse diálogo com trabalhadores não-organizados deve relembrá-les de que podem contribuir para sua construção, por meio de denúncias, questionamentos e relatos pessoais, cabendo ao Órgão Central criar canais de comunicação diretos para dinamizar esse processo.

§45 Por sua vez, sem uma atuação planejada e coordenada nas mídias digitais, ainda não estaremos no nível de profissionalização necessário para o jornal cumprir de fato seu papel de dirigente ideológico. Existem experiências bem sucedidas de inserção de grupos comunistas e de trabalhadores conscientes nas mídias digitais. Devemos nos apropriar dessas experiências e planejar uma inserção própria que nos dê credibilidade nesse meio.


[1] Carta aos camaradas (referente à publicação vindoura do órgão da maioria partidária), o texto foi escrito em dezembro de 1904 e está em Centralismo Democrático de Lênin, 2ª edição, editora Lavrapalavra, p. 119 e s/s;