'Em Defesa dos Delegados Natos' (Deutério)

O CRSP se definir como delegados natos não torna a instância provisória permanente, pois é no espaço da Etapa Regional do Congresso que a mudança da direção é realizada.

'Em Defesa dos Delegados Natos' (Deutério)
"Além disso, a participação da atual direção, com direito a voz e voto, é o que garante que a base vai conhecer a posição política daqueles que os dirigiram no último período, podendo assim entender melhor as contradições internas da instância bem como tendo maior capacidade de decidir sobre a próxima direção, e que elementos devem ser mantidos e quais trocados."

Por Deutério para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

No dia 01/Dezembro foi postada a tribuna “Delegados Natos uma ova” do Gabriel Silva, apresentando que não deveria haver delegados natos na Etapa de SP do XVII Congresso. Nesta tribuna vou colocar minhas discordâncias com o que foi escrito, defendendo a manutenção dos delegados natos.

Primeiro, há uma confusão grande nossa militância entre “base” e “esse organismo de base”, como se cada célula ou núcleo representasse por si só a posição “das bases”. Na tribuna o Gabriel comete essa confusão ao afirmar que a CRSP da UJC “na própria ata reconhece seu distanciamento de sua base e a desconfiança que paira sobre si”, quando o que foi afirmado é que há um distanciamento entre os membros da CRSP da UJC e seu organismo de base. Um organismo de base não é a base, apenas parte dela. Vários militantes são muito bem reconhecidos pelos organismos de base que assistem, mas não são pelo organismo de origem. E o que elegeu os militantes enquanto direção não foi seu organismo de origem, mas uma representação da base (seja o Congresso, a Conferência ou a Plenária).

E esse distanciamento entre o militante da CRSP da UJC e seu organismo de origem não é mera “contradição”, como uma consequência de erros tomados no passado. Pelo contrário, foi uma política planejada para garantir a proletarização da nossa direção bem como a melhor qualidade das assistências. A proletarização porque se há obrigatoriedade de um militante continuar focando no seu organismo de origem, a tarefa de direção se torna um adicional de tarefas, que apenas quem tem tempo livre consegue cumprir. As assistências porque a sobrecarga de tarefas sempre resulta na má realização de alguma(s), e conforme fomos entendendo que o papel da assistência era acompanhar cotidianamente o organismo assistido para intervir politicamente com qualidade, também entendemos que era necessário especializar o militante nessa tarefa, tirando outras que elu realiza, inclusive a de acompanhar seu organismo de origem. E, mesmo tendo ainda muito a melhorar, é visível que desde a Etapa de SP do IX ConUJC a direção regional conseguiu manter sem quebrar mais militantes vindos dos núcleos de bairro, tendo hoje uma grande quantidade de militantes que trabalham e inclusive que trabalham e estudam, bem como aumentou muito a qualidade das assistências, coisa que pode ser verificada com os militantes da base, especialmente dos núcleos de bairro.

A confusão entre “base” e “um organismo de base” ainda tem grandes consequências pro debate sobre delegados natos. Por exemplo, vamos imaginar um membro fictício do CR chamado Marcelo, que tem como organismo de origem o Núcleo USP e é assistente do Núcleo Cananéia, do qual faço parte. Se eu conheço o trabalho do Marcelo devido a sua assistência, que garantiu a organização de um trabalho avançado nas periferias da cidade, por que os militantes do Núcleo USP que nem entendem de trabalho nas periferias e nem viram o importante trabalho realizado pelo camarada teriam mais direito do que eu para dizer se o Marcelo deve ou não ser delegado? Por acaso o Núcleo USP seria mais representativo da base do que o Núcleo Cananéia? Evidentemente que não, e por isso que é constituído, a partir de espaços amplos de representação da base, um organismo próprio para dirigir os trabalhos entre espaços, que é a CRSP. Isso não nega que a direção regional pode se desconectar da base e falhar com seu papel, mas isso deve ser resolvido criticando a decisão tomada e não tirando-a o poder de decidir.

Como não é possível construir espaços de representação estadual amplos antes de começarem as Etapas de Base, então o CRSP deve ainda decidir sobre os delegados natos. No entanto, é possível melhorar a capacidade do CRSP de sintetizar a opinião da base, assim, propus ao CR e proponho aqui também que a instância reabra o debate e peça contribuições da base sobre o tema, tudo até o dia 15/Dezembro para garantir a organização do congresso. A escolha ainda caberá a direção estadual, e poderá ser revogada apenas por maioria simples na Etapa Regional do XVII Congresso, mas será reaberta porque a base decidiu entrar no debate a partir da ata que debatia o assunto.

Ainda, é importante notar também que a decisão sobre delegados natos é uma decisão que afeta diretamente na organização do congresso. Ao CRSP cabe a tarefa de assistir a todas as Etapas de Base que ocorrerão no estado, e a consequência disso são militantes tendo que acompanhar muitas etapas e focar o mês quase que unicamente para esse objetivo. Ter essa tarefa junto da tarefa de formular sua intervenção para o congresso para estar na etapa de base do próprio organismo é a fórmula para sobrecarga, que vai inevitavelmente despriorizar os trabalhos de assistência às Etapas de Base do congresso. Dito isso, não se sustenta o argumento do militante de que o caráter provisório da instância impede ela de deliberar sobre a própria presença no congresso, ainda mais considerando que todos os nomes já foram referendados em Congresso, Conferência ou Plenária.

E por fim, a decisão do CRSP de manter delegados natos das Etapas de Base para a Etapa Regional foi acertada não só para priorizar a organização política do congresso, com acompanhamento das etapas para garantir sua qualidade e para permitir a direção regional entender quais são as polêmicas principais do congresso. Além disso, a participação da atual direção, com direito a voz e voto, é o que garante que a base vai conhecer a posição política daqueles que os dirigiram no último período, podendo assim entender melhor as contradições internas da instância bem como tendo maior capacidade de decidir sobre a próxima direção, e que elementos devem ser mantidos e quais trocados.

O CRSP se definir como delegados natos não torna a instância provisória permanente, pois é no espaço da Etapa Regional do Congresso que a mudança da direção é realizada. Ao invés, é muito mais pertinente acharmos alternativas ao método de eleição da direção, pois temos o costume de destacar um grupo para escrever uma pré-nominata, que terá destaques de substituição nos nomes e os que não foram destacados estarão aprovados. Esse método, sim, prejudica o debate, limitando a base a pensar na direção através apenas de algumas trocas ao invés de deliberar qual o perfil de direção que precisamos, e mantendo nomes que ninguém conhece apenas porque ninguém é contra o suficiente para destacá-lo, consequentemente mantendo a atuação direção artificialmente. Convido então os militantes a ajudarem a formular alternativas a esse método, considerando a necessidade de centenas de militantes conseguirem entender a escolha de dezenas de nomes.