'Em defesa do marxismo-leninismo' (Contribuição anônima)

A simples retirada de um hífen é simples somente em aparência, na essência constitui o rebaixamento da linha política e a negação de toda a tradição marxista-leninista. Representa um novo partido de novo tipo, que não é leninista e, por consequência, não é marxista.

'Em defesa do marxismo-leninismo' (Contribuição anônima)
"O marxismo-leninismo é um e os marxistas-leninistas somos nós, a classe trabalhadora organizada no partido, nada além disso, nada diferente disso."

Contribuição anônima para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Camaradas,

Hoje afastado há cerca de um ano, por questões pessoais e familiares, da UJC, me reservo o direito de, na posição de um militante que defende a Reconstrução Revolucionária e pretende compôr, novamente e em breve, as fileiras do complexo partidário, exercitar algumas reflexões que acredito relevantes ao XVII Congresso Extraordinário.

Questionei a necessidade desse texto por alguns dias ao longo das últimas semanas e, somente depois de ver manifestação pública de dirigentes do partido sobre o assunto, me convenci de que em tempos como esse o que parece ser óbvio deve ser reforçado e discutido.

Minha humilde reflexão versa do significado das palavras e coisas, o que não é nada novo dentre os comunistas, mas volta e meia parece imprescindível para o avanço da compreensão acerca de teoria e prática revolucionárias. A início, uma pergunta simples: o que é o marxismo-leninismo?

Se existe algo que se aprende a duras penas quando se é comunista é que o mínimo de rigor teórico é necessário em se tratando da compreensão dos fenômenos da realidade material e como incidir sobre ela. Em outras palavras e simplificando de modo grosseiro: palavras significam coisas. Aos liberais vulgares é permitido que se misture de cá para lá, da forma como bem entender, conceitos e analogias. Ao marxista-leninista, não.

Tomemos como exemplo os apontamentos de Marx a Ferdinand Lassalle em Crítica ao Programa de Gotha, onde ele detalha em pormenores porquê os escritos lassalianos não estão de acordo com o programa do partido comunista pelo significado que assumem as palavras por ele anexas ao programa do Partido Operário Alemão. Podemos também evocar Lenin, em A Revolução Proletária e o Renegado Kautsky, onde ele critca o texto A ditadura do proletariado e aponta sofismas e rebaixamentos da teoria e ainda aponta esses rebaixamentos como a evidente falência da Segunda Internacional. Há outras centenas de exemplos de Lenin e variados autores marxistas pelo mundo criticando textos e marxistas por suas (não tão inocentes) formulações.

Retornemos agora à questão inicial: o que se entende por marxismo-leninismo? A essa pergunta, muitos responderam e sintetizaram seus entendimentos. Escolhi tomar um exemplo "de casa". O sociólogo e marxista brasileiro Florestan Fernandes disse que: "Para o marxismo, a contribuição de Lênin representa um acréscimo substantivo em duas direções. Primeiro, ela repôs o marxismo como política em suas bases revolucionárias, avançando do conhecimento da realidade política da sociedade de classes para o modo de organizar politicamente a sua transformação e destruição, como etapa preliminar à instauração do socialismo. Segundo, ela traz consigo a primeira descrição teórica e a primeira formulação prática da revolução proletária como processo histórico e vivido. Embora Lênin se preocupasse mais com as condições, as técnicas e os processos políticos de intervenção revolucionária na realidade, limitando as formalizações abstratas ao conhecimento teórico essencial para atingir tais fins, suas indagações e reflexões introduzem no marxismo um tratamento mais livre e dialético do político.

Sem ignorar que qualquer transformação política possui uma base econômica e social concreta, ele desvendou, mais que os outros pensadores marxistas, o grau de autonomia relativa do político e a intensificação dessa autonomia nos momentos de crise e revolução. Com ele, o marxismo torna-se politicamente operacional, o que explica porque, depois dele, converte-se em marxismo-leninismo."

Em linhas gerais, camaradas, o marxismo-leninismo representa a "nova forma" do marxismo em nossa época, a evolução da teoria marxista que permite que sejam as teoria e prática comunistas operacionalizadas, que dá forma ao partido de novo tipo como instrumento revolucionário da classe trabalhadora organizada.

Portanto, sendo o marxismo-leninismo a representação do marxismo em sua etapa atual, cujas compreensões acerca do imperialismo, da organização dos trabalhadores, do papel da vanguarda revolucionária, de agitação e propaganda, do Estado, da ditadura do proletariado, etc; guiam o partido marxista-leninista, como poderíamos falar em "marxismo e leninismo"?

Ao colocar nesses termos, como sendo dois corpos independentes que podem ou não aparecer juntos, mas que se significam individualmente, negamos o conteúdo do que é, de fato, o partido de novo tipo, a forma organizacional resultante de todos os processos cumulativos teóricos e práticos em Lenin e nos mais variados marxistas-leninistas em seus partidos e experiências revolucionárias.

A simples retirada de um hífen é simples somente em aparência, na essência constitui o rebaixamento da linha política e a negação de toda a tradição marxista-leninista. Representa um novo partido de novo tipo, que não é leninista e, por consequência, não é marxista, ainda que carregue toda a idumentária, desde palavras de ordem revolucionárias até quadros, camisetas e bottons de Lenin.

Quanto da intencionalidade, não posso presumir de onde surge essa formulação, quais as motivações, mas posso retornar a Marx e a Lenin, em suas críticas a Lassalle e Kautsky, nas quais ambos citam as distorções na teoria e levantam um questionamento interessante: sendo tanto Lassalle quanto Kautsky notórios conhecedores da obra marxiana, como puderam distorcer de maneira tão rasteira a sua teoria?

Os que hoje propõem a alteração do status do PCB de marxista-leninista para um partido marxista e leninista, não conhecem a teoria? Se conhecem e entendem as implicações teóricas que se desdobram dessa distorção, a essa prática Lenin chamou oportunismo, quando as inspirações individuais ou de um seleto grupo no partido são colocadas a frente do compromisso revolucionário.

O marxismo-leninismo é um e os marxistas-leninistas somos nós, a classe trabalhadora organizada no partido, nada além disso, nada diferente disso. Somos marxistas-leninistas ou oportunistas. Quem se disser um (marxista) e outro (leninista), compõe o segundo grupo.