'Em defesa do bloco revolucionário do MCI (resposta ao camarada Gramscinho)' (N.P)
É preciso realizar a crítica das posições multi-polaristas e reformistas que se colocam em nossas fileiras, por isso, pretendo assim, responder à tribuna do camarada Gramscinho.
Por N.P para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Nosso processo de cisão é parte de um processo internacional de demarcação entre comunistas e centristas, o processo de cisão se dá em torno de duas políticas fundamentais a posição social-democrata que podemos traçar como um desenvolvimento do alter-mundialismo e das ondas rosas do início do século, tal posição é contraposta pela posição proletária e comunista.
Nesse sentido, não é equivocado pensarmos que não há mais unidade possível nesse processo, não é impossível que mesmo espaços amplos como o EIPCO corram um risco real de implosão, dessa forma, cabe aos comunistas serem capazes de articular-se internacionalmente em termos revolucionários. Nesse sentido, é preciso realizar a crítica das posições multi-polaristas e reformistas que se colocam em nossas fileiras, por isso, pretendo assim, responder à tribuna do camarada Gramscinho.
Primeiramente, é preciso esclarecer o que entendemos por socialismo, apesar de parecer uma pergunta simples, ela esconde diversas concepções, nesse sentido, não podemos compreender a questão de se um processo é ou não socialista pelo simples quantitativo de x% de propriedade estatal, ou o papel do Estado na economia, pois, os próprios países imperialistas e mesmo experiências social-democratas, ou em países dependentes com o desenvolvimentismo, vemos um aumento significativo do papel do Estado na economia.
Dessa forma, temos que pensar em duas questões principais:
1: Qual o caráter de classe desse Estado
2: Qual é o funcionamento dessa economia
Pois, podemos compreender o socialismo-comunismo como um processo histórico de desmercantilização das relações de produção, isto é a abolição progressiva das relações sociais capitalistas, ou seja, construção de uma forma de produção e reprodução social que não se orienta para a reprodução do capital.
O camarada coloca a questão nos seguintes termos:
“De que consiste em nossa análise internacional? China é um país capitalista, portanto, é um país imperialista, porque todos os países capitalistas na era imperialista do capital são países imperialistas, e a atual disputa China x EUA é, desta forma, uma disputa interimperialista. Com isso, os interesses da classe trabalhadora não está em nenhum dos lados dessa disputa.
Camaradas, se a China for capitalista implica em, necessariamente, Vietnã e Laos também os serem. Porque a economia política dos três países é quase a mesma (no caso do Vietnã, inclusive está mais a direita do que a própria China!). Você pode falar “ah, mas eu não conheço Laos o suficiente pra concluir isso”, é claro que não conhece, você não conhece a China também, mas tudo bem, porque há propaganda sinofóbica dia sim e dia também para te ajudar a tomar as conclusões que toma, so que, agora, com uma gramática e estética aparentemente marxista. Desta forma, imediatamente temos 3 das 5 experiências socialistas em curso atualmente jogadas no lixo. Sobra apenas Cuba e o Norte da Coreia.”
Precisamos apontar alguns erros importantes do camarada, a ideia de que um país é capitalista e portanto imperialista é falsa, imperialismo não é um adjetivo, é uma cadeia de transferência de valor, de maneira que não existe e nem existiu país que pudesse se colocar para fora do imperialismo, portanto, dizer que a China é capitalista não significa que esteja no topo da cadeia imperialista, na realidade, se tratam de duas discussões diferentes. É verdade que na disputa entre China e os EUA nenhum dos dois apresenta uma alternativa real para a classe trabalhadora, para além disso é notável o papel reacionário da China em relação ao processo revolucionário em curso na Filipinas e quando não o seu histórico apoio a regimes reacionários pós a ascensão do grupo oportunista de direita de Deng Xiaoping
Em sequência o camarada afirma que Vietnam e Laos tem economias iguais a China e não oferece maiores explicações e afirma que estamos jogando 3/5 das experiências socialistas fora. Não estamos jogando fora, soaria um absurdo dizer que quem afirma que Gobarchev está organizando um processo contrarrevolucionário estaria sendo esquerdista e jogando fora a maior experiência socialista da história, nós enquanto comunistas não podemos ter medo da verdade, se no caso da China o processo de liquidação da ala esquerda do partido e introdução e generalização de relações capitalistas nos últimos gerou um país capitalista, cujo PC de comunista só tem o nome, temos que lidar com isso, se esse processo ocorreu no Vietnam e Laos teremos que lidar também
Depois disso, ele comete o maior erro possível ao afirmar que:
“Hoje em dia, a República Popular da China e a República Popular Democrática da Coreia tem um acordo militar, sem precedentes, do tipo que eles não têm com mais ninguém. Em um dos artigos desse acordo militar, podemos ler o seguinte:
“As Partes Contratantes comprometem-se a tomar conjuntamente todas as medidas para prevenir a agressão de qualquer país contra qualquer uma das Partes Contratantes. Quando uma das Partes Contratantes estiver sujeita a um ataque armado por qualquer país ou uma combinação de vários países e estiver, portanto, em estado de guerra, a outra Parte Contratante fará imediatamente o seu melhor para fornecer assistência militar e semelhantes”
Note que não está juridicamente vinculativo algo do tipo “se um lado estiver em estado de guerra, o outro também tem que entrar”, mas algo mais próximo de enviar 1,4 milhões de soldados voluntários.
Desta forma, camaradas, se “os interesses da classe trabalhadora” não está em “nenhum dos lados” do conflito “interimperialista” entre eua-china na questão de Taiwan, também não estará no conflito norte-sul da Coreia.”
Camaradas, países socialistas e capitalistas fizeram tratados e alianças em diversas circunstâncias e períodos diferentes, por exemplo levando ao máximo o argumento do camarada, teríamos que dizer o Churchill fez a Inglaterra socialista já que organizou uma aliança militar com a União Soviética.
Não há nenhuma análise política ou econômica sobre a Coreia, simplesmente um espantalho, não se buscou investigar o por quê da Coreia se aproximar da China.
Após isso, ele aponta posições do PC de Cuba que endossam suas teses, o que também não é um argumento, pois, por tal lógica, devemos abrir mão da defesa do PCV e apoio a Rússia na guerra.
Dessa forma, esses apontamentos do PC Cubano mostram muito mais que precisamos questionar quais rumos está tomando a revolução cubana, ou mesmo pensar em que medida o peso do isolamento internacional não impõe essas medidas.
Por fim, ele nos acusa de “Nós, oportunisticamente reinvidicamos aquele passado para renegar o nosso presente” Quero aqui fazer uma pequena provocação, nós reivindicamos nosso passado para fazer jus a ele no presente, pintar a desgraça presente de vermelho é um desrespeito aos vivos, mas, principalmente aos mortos.