Em Brasília, Ocupação Expedito Xavier Gomes reivindica o direito à cidade e luta contra a repressão policial

Ação do MLB resgata memória e luta contra a especulação imobiliária em prol de moradias dignas para os trabalhadores.

Em Brasília, Ocupação Expedito Xavier Gomes reivindica o direito à cidade e luta contra a repressão policial
Reprodução/Foto: MLB-DF.

Por Redação

O Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) realizou a ocupação de um prédio abandonado há sete anos no Setor de Indústrias Gráficas, uma das áreas mais valorizadas de Brasília. O edifício de quatro andares que já estava com a estrutura bastante deteriorada e com partes do teto que já desabaram, agora abriga cerca de 80 famílias de trabalhadores, incluindo crianças e idosos. Usado até então para especulação imobiliária, o prédio tornou-se um espaço de moradia popular e um ponto de resistência pela valorização da vida digna no centro urbano.

Desde a ocupação, as famílias têm sofrido assédio constante da Polícia Militar e nesta segunda-feira, a PM decidiu bloquear o acesso às vias do prédio de maneira arbitrária, dificultando a entrada de moradores e impedindo o trânsito nos edifícios ao redor. A ação policial, além de desconsiderar o direito das famílias que ocuparam o espaço, impactou também a mobilidade de quem depende daquela área para trabalho.

A ocupação foi batizada como Expedito Xavier Gomes, em homenagem ao trabalhador candango que morreu soterrado durante a construção de Brasília e cuja família nunca recebeu qualquer indenização. Hana, uma das lideranças do MLB, explica que o nome escolhido traz uma denúncia histórica. “Brasília foi construída com a separação entre trabalhadores e a elite. A cidade, que deveria ser o centro das decisões do país, foi planejada para manter as classes mais baixas afastadas.”

Outra liderança do movimento, Carol, enfatiza que a ocupação é mais que uma reivindicação por moradia, é uma luta pelo direito à cidade. “O centro é onde estão as melhores oportunidades de lazer, educação e serviços públicos, e garantir o acesso a ele significa possibilitar a cidadania plena para todos”, afirma. Segundo Hana, ocupar o centro representa também um manifesto contra a desigualdade de direitos. “A primeira coisa que percebemos quando chegamos é como as pessoas acordam mais tarde, saem para o trabalho às 8h, 9h. Na periferia, muitos acordam às 5h para enfrentar o transporte precário. Estar aqui significa ter um direito básico ao descanso e a uma vida urbana digna.”

O governo de Ibaneis Rocha no seu segundo mandato segue a todo vapor com suas políticas de precarização dos serviços essenciais, como a falta de políticas habitacionais acessíveis para a população de baixa renda. Sob sua gestão, os serviços públicos, que já enfrentavam dificuldades, têm piorado em áreas fundamentais, como transporte, saúde e educação, agravando a situação das comunidades mais vulneráveis. No caso da habitação, as políticas de financiamento atuais incentivam a construção de moradias cada vez mais distantes do centro, sem infraestrutura adequada e com poucas opções para famílias de baixa renda.

As áreas disponibilizadas pelo governo para moradia popular são em sua maioria periféricas e carecem de transporte eficiente, escolas e postos de saúde próximos, dificultando ainda mais o acesso à cidade para a população trabalhadora. Essa política de exclusão empurra os trabalhadores para longe do centro, enquanto espaços abandonados e edifícios ociosos continuam sendo usados para especulação imobiliária.

Para as famílias na ocupação Expedito Xavier Gomes, este é um momento decisivo de resistência e busca por apoio. O prédio não possui abastecimento de energia, e sob constante pressão policial, os ocupantes pedem doações de itens essenciais e apoio da sociedade civil para pressionar as autoridades pela retirada das forças policiais e pela regularização da ocupação.

Hoje, 12 de novembro, a polícia do Distrito Federal cercou a ocupação em decorrência de uma reintegração de posse. O MLB denuncia que as forças repressoras estão impedindo a entrada de água, alimentos e materiais de higiene básica, além de agredirem ocupantes e apoiadores. Com a ordem de reintegração expedida, a ocupação pode ser expulsa à força a qualquer momento. Acompanhe e ajude através do instagram MLB-DF.