'Do Twitter para o Jornal: A Organização da Polêmica Partidária' (Deutério)

As posições desta e daquela tribunas são complementares: Em suma, precisamos de um Conselho Editorial que atue como direção ideológica, entendendo profundamente o Brasil, o marxismo-leninismo, e o nosso partido.

'Do Twitter para o Jornal:  A Organização da Polêmica Partidária' (Deutério)
"Para selecionar os melhores textos, o jornal deve ser dirigido por um Conselho Editorial experiente que represente a posição da maioria partidária, tornando-o capaz de se posicionar dentre os debates do povo, do movimento comunista internacional e nacional, e dos debates partidários. Além de escolher textos, o Conselho Editorial, deve também escrever textos próprios corrigindo e criticando textos incorretos, quer os textos criticados estejam no Em Defesa do Comunismo ou em jornais, revistas e blogs de outros partidos."

Por Deutério para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Avançamos na organização da polêmica partidária com as Tribunas de Debates, porém não podemos nos contentar. Nossas discussões ainda são determinadas pela lógica de engajamento das redes sociais, inviabilizando grandes contribuições e trazendo destaques para textos com erros absurdos. É necessário avançarmos muito mais na organização das discussões, difundindo boas contribuições de forma planejada através do jornal, e garantindo que teremos um grupo destacado de dirigentes para criticar posições incorretas difundidas na militância.

No velho PCB os debates partidários eram formalmente organizados de forma privada, nos espaços internos de reunião. Assim, com a perseguição que ocorria, a polêmica era facilmente suprimida. Então, a resposta orgânica foi os debates partidários se expressarem pelo twitter e outras redes sociais, por textos do médium, por cartas de desligamento públicas, por conversas de bar, etc. Com o começo do PCB-RR demos um passo importante para resolver esses problemas: Para evitar a supressão de polêmicas, permitimos que as divergências sejam públicas desde que não prejudique nossa unidade de ação. E, contrapondo a tendência das redes, onde apenas quem já tem muito engajamento consegue ser ouvido, criamos uma plataforma que permite a qualquer um escrever um texto, sabendo que esse será divulgado e atingirá pelo menos parte da militância. Entretanto, os limites dessa organização já estão claras:

  • A difusão dos textos segue ainda a lógica de engajamento das redes sociais. Como consequência, diversas tribunas ruins são muito mais difundidas do que tribunas boas, pois a militância quer comentar que o que foi escrito é um absurdo, discordar, julgar. Às vezes, boas tribunas são bastante difundidas, mas nunca devido a linha correta em si, e sim porque ela é polêmica/chocante de alguma forma.
  • A possibilidade de qualquer um postar desde que não prejudique a unidade de ação por si só não garante que linhas erradas serão criticadas e que a militância vai se formar na linha correta. É possível que tribunas que fogem a nossa linha política convençam militantes e que nunca haja uma agitação pela crítica na linha correta, efetivamente tendo o efeito contrário do que precisamos.
  • A mera publicação de textos em um blog nichado jamais será capaz de fazer um debate com o povo e formar a classe e as massas para as tarefas revolucionárias. Não podemos apenas torcer para que o povo vá atrás dos debates.

Tendo em vista esses problemas, precisamos garantir: 1) a difusão planejada da linha correta; 2) a garantia que as linhas que apresentem desvios serão criticadas; e, 3) a difusão da linha correta para além da militância. E a ferramenta que consegue resolver todos esses problemas é um jornal que sirva como Órgão Central (dirigente ideológico), a partir de um Conselho Editorial montado diretamente a partir do Comitê Central.

O jornal, enquanto um espaço que abarca discussões, garante o ponto (3), de debate junto do povo, porque é dever da militância vender os jornais, não só permitindo a leitura dos debates, como tentando convencer o possível comprador que o debate é pertinente para que ele compre o jornal. No entanto, não podemos permitir que todo e qualquer texto seja publicado no jornal, pois não podemos deixar nossa militância trabalhar para difundir ideias incorretas para a população, contando que as pessoas comprarão uma próxima versão para ver a resposta. O jornal impresso, para garantir o ponto (1), deve apenas ter as melhores contribuições, e, se for ser publicado um texto com algum desvio, esse desvio deve ser criticado no próprio jornal, seja em uma introdução, em notas de rodapé, ou o que for melhor. Para selecionar os melhores textos, o jornal deve ser dirigido por um Conselho Editorial experiente que represente a posição da maioria partidária, tornando-o capaz de se posicionar dentre os debates do povo, do movimento comunista internacional e nacional, e dos debates partidários. Além de escolher textos, o Conselho Editorial, deve também escrever textos próprios corrigindo e criticando textos incorretos, quer os textos criticados estejam no Em Defesa do Comunismo ou em jornais, revistas e blogs de outros partidos.

Em uma tribuna anterior, “Construir um Partido nacional” defendi que jornal deve ser principalmente composto por matérias escritas pelo Conselho Editorial, ao invés de matérias escritas por organismos locais:

Precisamos fazer obrigatório o envio de cartas (e-mails) ao Conselho Editorial do OC falando da situação de cada local, com a escrita de matérias sendo feita através da síntese dessas cartas, e posteriormente a entrega massiva de jornais impressos para cada uma das localidades do país. A matéria no jornal precisa ser a linha ideológica que unificará os trabalhos, com o Comitê Central que dirige a ação utilizando-o para guiar intervenções coordenadas no país inteiro. [Construir um Partido nacional, Deutério]

As posições desta e daquela tribunas são complementares: Em suma, precisamos de um Conselho Editorial que atue como direção ideológica, entendendo profundamente o Brasil, o marxismo-leninismo, e o nosso partido. Por sorte, não precisamos inventar a roda, e podemos aprender com os jornais do POSDR e depois POSDR(b), que tinham uma lógica de funcionamento parecido, como vemos pelo Iskra (na época que Lenin integrada o Conselho Editorial) criticando abertamente o economicismo que aparecia tanto dentro quanto fora do partido, e depois quando os bolcheviques usam o jornal para criticar abertamente os otzovistas e ultimatistas mesmo esses sendo parte da tendência de bolcheviques dentro do POSDR.

Nas pré-teses para o XVII Congresso, temos apenas uma resolução sobre o funcionamento da direção do jornal:

§39 A imprensa partidária é um setor especializado da direção, controlado por ela, com a tarefa de coordenar e operar todo trabalho publicístico, como o jornal, editoras e revistas, além do trabalho de inserção nas mídias digitais.

A resolução, no entanto, é confusa (como a “imprensa”, ou seja, o conjunto dos processos de veiculação de informações jornalísticas, seria um “setor da direção”?) e não firma o papel de direção ideológica que deve ser garantida (“coordenar e operar”). Para sermos mais precisos, precisamos esclarecer que haverá um grupo destacado de militantes (Conselho Editorial) para dirigir ideologicamente o Partido através da imprensa partidária:

§39 A imprensa partidária O Conselho Editorial do Órgão Central é um setor especializado da direção, controlado por submetido a ela, com a tarefa de coordenar, e operar e dirigir ideologicamente todo trabalho publicístico da imprensa partidária, como o jornal, editoras e revistas, além do trabalho de inserção nas mídias digitais.

Após a caracterização correta do jornal que as pré-teses fazem entre o §40 e §43, precisamos ainda adicionar o papel do jornal de organizador dos debates:

§43+X Através do jornal devemos formar a militância, o proletariado e as classes aliadas a partir do debate aberto de ideias, publicando textos, escritos pelo Conselho Editorial ou não, que sintetize a posição partidária sobre os mais diversos temas, mesmo que polemizando com posição de militantes partidários. Assim, o jornal não deve substituir plataformas de livre-iniciativa para qualquer um publicar uma opinião particular, mas sim divulgar os melhores textos e criticar concepções incorretas, tenham elas sido emitidas por nossos militantes ou pela imprensa de outros partidos.

Por fim, cabe adicionar que esse passo na organização das polêmicas gera algumas questões ainda a serem resolvidas pelo nosso partido. Principalmente: Se teremos um jornal que represente a posição partidária, e portanto, a posição da maioria do partido, grupos minoritários terão o direito de organizar um jornal próprio? Enfim, não tenho resposta para essa pergunta, mas espero que minha tribuna gere debates para avançarmos no processo de organizar nossas discussões para conseguirmos cumprir a grande tarefa que é garantir as condições e a vitória de uma revolução.