'Devemos disputar a CUT?' (Contribuição anônima)

Quando falamos sobre a CUT, estamos falando sobre uma das maiores centrais sindicais da América Latina e a mais influente no Brasil. Trago esse debate não como opinião particular, mas para motivar o debate sobre esse assunto.

'Devemos disputar a CUT?' (Contribuição anônima)

Contribuição anônima para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Camaradas

Trago esse debate não como opinião particular, mas para motivar o debate sobre esse assunto, após a cisão com o PCB-CC o nosso movimento sindical foi mais enfraquecido do que já estava e a formulações sobre ficavam na grande maioria das vezes fechada aos coletivos ligados a isso, o debate da CUT em questão, me lembro superficialmente em ter sido pautado no XVI Congresso mas acabou morrendo ali mesmo sem nenhuma formulação. 

Em primeiro lugar vou apresentar os pontos que eu considero “positivos” em estar presente na CUT:

Quando falamos sobre a CUT, estamos falando sobre uma das maiores centrais sindicais da América Latina e a mais influente no Brasil, o mesmo país que ostentava um dos maiores movimentos operários do mundo há não muito tempo e isso facilitaria a nossa comunicação com uma grande parte das massas usando o trabalho do convencimento político e a facilidade que poderíamos conquistar diretorias, delegados e representantes em determinados sindicatos que são dos nossos setores estratégicos, das 7 centrais sindicais a CUT representa 1/4 dos sindicatos e quase 1/3 dos trabalhadores filiados no Brasil, estar nela também pode significar disputar alguns dirigentes sindicais que não concordam com o peleguismo e burocracia presentes nela, hoje a CUT é central reformista e economicista, mas qual seria o braço dela na impulsão da luta de pautas atuais como a redução da jornada de trabalho ou o combate a trabalhos informais? o quão a CUT ajudaria a inserção dentro de direções, federações e confederações?  

Nosso partido hoje em reconstrução, endividado até o último centavo, usaria o dinheiro que a CUT disponibilizaria para nós e mesmo assim fazermos uma oposição contra ela, seria o “dormindo com o inimigo” beneficente para nós 

O debate hoje sobre a disputa da CUT é muito presente do que chamamos de esquerda revolucionária, já que temos partidos como a UP/PCR que estão na CUT atualmente e o PSTU que já chegou a construir por um período. 

Nas formulações congressuais da UP por exemplo, eles defendem a continuação dentro da CUT a partir da ideia do que Lenin defendia em “Esquerdismo: Doença Infantil do Comunismo” nos capítulos VI e VII ("Os Revolucionários Devem Atuar nos Sindicatos Reacionários?" e "Deve-se participar nos parlamentos burgueses?”

Na citação ele diz:

“Deve-se trabalhar obrigatoriamente ali onde estiverem as massas. É necessário saber fazer todas as espécies de sacrifícios e transpor os maiores obstáculos para realizar uma propaganda e uma agitação sistemáticas, pertinazes, perseverantes e pacientes exatamente nas instituições, associações e sindicatos, por mais reacionários que sejam, onde haja massas proletárias ou semi proletárias."

“Temer deste reacionarismo, tentar prescindir dele, saltar por cima dele, é a maior estupidez, pois significa recear o papel da vanguarda, que consiste em instruir, ilustrar, educar, atrair a uma nova vida as camadas e as massas mais atrasadas da classe operária e do campesinato.”

Lênin debate de forma clara quanto a estar fazendo disputa onde existe presença das massas, mesmo as mais atrasadas e essa mesma lógica pode ser aplicada aos sindicatos reacionários como hoje é a CUT, isso significa também, disputar dirigentes sindicais que não concordam com o peleguismo e burocracia presentes nela. 

Porém aqui apresento meus pontos de também ser contra estar na CUT:

Se seguirmos essa lógica, deveríamos então, disputar o PT por se tratar o maior partido de “esquerda” da América Latina apenas pela presença das massas do proletariado, além disso, com os inúmeros episódios de agressão contra a classe trabalhadora protagonizada pelas centrais hegemônicas, quantos trabalhadores sindicalizados ainda mantém confiança na CUT?

Um exemplo disso é o episódio que ocorreu na Apeoc (Sindicato dos professores do Ceará) que por exemplo, onde os professores se revoltaram contra a burocracia durante a plenária e a majoritária colocou seus seguranças para agredir os trabalhadores ali presentes que tentavam falar na assembleia para votar a greve, chegando a agredir a uma ativista da Resistência/PSOL. Posteriormente a direção do sindicato, que tem como presidente Professor Anízio, ainda tentou colocar a culpa nos professores, chamando-os de fascistas por reivindicar a democracia operária contra suas manobras para frear a mobilização.

Então vejam só, os trabalhadores conquistaram o direito de ter sindicatos, que deveriam ser ferramentas de luta para defender os trabalhadores. Este mesmo Estado que concedeu isso criou uma estrutura sindical para controlar e impedir que, de fato, a gente pudesse se organizar. O resultado disso é que a maioria dos sindicatos no Brasil está hoje nas mãos destes burocratas sindicais e não nas mãos dos trabalhadores, o que faz com que muitos trabalhadores fiquem desacreditados e tirem a conclusão equivocada de que os sindicatos já não servem para nada.

Então, refletindo sobre: como atuar nos sindicatos reacionários se os sindicatos já, há muito tempo, o proletariado não está mais nos sindicatos? ao mesmo tempo em que os revolucionários devem lutar pela mais ampla democracia operária e pela independência do Estado, os revolucionários também precisam lutar para reconstruir e elevar a luta sindical, isso é uma luta também contra a estratégia dos reformistas, ou seja, os que são inimigos da libertação revolucionária dos trabalhadores e das massas.

Certamente esse assunto será debatido de forma imediata, espero que essa tribuna tenha agregado para nossos debates sindicais. 

Abraços, camaradas