'Desocupação do MST em Campinas: o jogo fica aberto' (Nelsinho Tamoio)
O prefeito mobilizou a guarda municipal civil para desocupar a área. Sem qualquer intervenção judicial. Ele decidiu e pôs em prática, sem qualquer plano, sem qualquer negociação, pondo em risco a vida dos trabalhadores e dos guardas.
Por Nelsinho Tamoio para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
O prefeito de Campinas, Dário Jorge Giolo Saadi (Republicanos), que já conta em sua administração com a morte de uma criança em um parque municipal por falta de monitoramento e manutenção em árvores (que foi “resolvida”, após a morte, com corte indiscriminado), descontrole da dengue, sistema de transporte caótico apenas para os trabalhadores, visto os grandes benefícios de que gozam os empresários, conseguiu, nesta segunda-feira, ir além.
Uma área reconhecida pelos próprios proprietários como improdutiva, foi ocupada pelo MST, na nova estratégia de estar mais próxima das áreas urbanas (cinturões-verdes), que facilitem a distribuição bem como a aquisição do que seja necessário à produção, e o acesso à escola, saúde, à integração em geral.
Se fôssemos irônicos poderíamos dizer que o prefeito Dário estava querendo proteger uma área propícia à criação do mosquito da dengue, que ele tanto tem se esforçado para piorar a situação da população da cidade.
Mas não, falemos de proteger a especulação urbana. Falemos dos vassalos da câmara municipal que aprovam projetos para calar a voz da juventude e manter o monopólio de comunicação para a burguesia, aumentando multas e repressão contra quem ousa manifestar sua indignação nas paredes, muros e demais construções da cidade.
Falemos de uma área que continuará abandonada, sem reflorestamento, sem cultivo de alimentos saudáveis, sem habitação popular…
Mas o prefeito mobilizou a guarda municipal civil para desocupar a área. Sem qualquer intervenção judicial. Ele decidiu e pôs em prática, sem qualquer plano, sem qualquer negociação, pondo em risco a vida dos trabalhadores e dos guardas.
Lembremos o ódio que cada vendedor ambulante dessa cidade tem contra a guarda civil, quando suas mercadorias são confiscadas, destruídas, jogadas no lixo ou nas ruas, quando sofrem castigos físicos nas ruas. E as lojas de doces atacadistas lucrando cada vez mais com as ações da repressão municipal (será que tem rachadinha?).
O ódio a quem trabalha e busca meios para sobreviver é muito aberto. Dário e sua corja odeiam o povo pobre e trabalhador.
Na câmara municipal, conta-se na metade de uma das mãos as bravas companheiras e bravos companheiros de uma esquerda minoritária em extinção que lutam e denunciam a violência da guarda municipal civil (destaque-se o “civil”), inclusive estando presente no momento da desocupação.
Algumas perguntas ficam:
- Funcionários públicos podem ter suas funções desviadas para vigilantes de áreas privadas?
- Desocupação se faz por desejo pessoal de um oligarca moderno?
- Desocupação se faz sem planejamento e negociação?
- Desocupação se faz sem pedido de reintegraçẽo ou liminar?
- Atear fogo em campo seco para atingir pessoas não caracteriza tentativa de homicídio?
- Desalojar pessoas e deixá-las no meio de uma estrada (sequer no acostamento, no meio mesmo) é seguro?
Atendente-se para o mais importante: assistindo a declaração do prefeito, fica nítido que ele está agindo em conformidade com outros prefeitos do país que usam de todos os meios para, através de expedientes e manobras legais, usarem de violência física contra os mais desamparados como estratégia eleitoral, como está ocorrendo em algumas prefeituras em relação a pessoas em situação de rua.
As ações de aporofobia, que aparentemente tinham sido barradas pela lei Padre Júlio, que versam sobre as arquiteturas hostis ao Povo de Rua, e que nitidamente estavam nacionalmente articuladas, agora voltam a articular-se, mas pela violência direta e explícita.
Os prefeitos são os novos operadores da barbárie, e Dário é um exemplo assustador a ser combatido sem tréguas.