'Desconsiderar a educação enquanto setor estratégico é negar sua influência no processo produtivo' (Malvólio Henrique)

É impossível falar de revolução sem falar de educação. E desconsiderá-la enquanto setor estratégico é ignorar sua influência no processo produtivo.

'Desconsiderar a educação enquanto setor estratégico é negar sua influência no processo produtivo' (Malvólio Henrique)
Escola cubana. Crédito: Jose M. Correa/cmhw.cu

Por Malvólio Henrique para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

“Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo.” — Paulo Freire

Durante uma das reuniões das etapas congressuais de base, uma atenta camarada apontou para uma questão faltante no Caderno de Teses do XVII Congresso Extraordinário do PCB-Reconstrução Revolucionária: segundo o §60, os setores considerados estratégicos são “o setor de transporte (incluído, aqui, o setor portuário e aeroportuário); o setor energético (abrangendo petróleo, gás e derivados); o setor da Tecnologia de Informação, telecomunicações, telemarketing; o setor de saneamento, limpeza, serviços de asseio; a Construção Civil; a saúde; a mineração; os setores dinâmicos da indústria de transformação (papel e celulose, alimentos e bebidas, metalúrgica e química) e o ramo bancário”. “No campo, [...] o proletariado rural [...] em aliança com os pequenos produtores privados do campo [...]”. Em nenhum momento, seu texto menciona o setor educacional.

Ao propor a alteração no mencionado parágrafo, incluindo o ponto faltante, a camarada, assim como eu, foi surpreendida pela posição de sustentar o texto original por parte de outra camarada. Esta utilizou como base argumentativa a incapacidade do setor educacional de atravancar o processo produtivo capitalista de forma imediata. O que, de fato, se verifica: em momento de estopim revolucionário, o setor educacional não consegue sabotar diretamente a produção material.

Entretanto, há uma discordância a respeito do que deve-se considerar como um setor estratégico. Baseio a defesa da alteração proposta, com a inclusão do setor, em três pontos principais: seu peso econômico-social, sua capacidade de mobilização e sua localização na estrutura de produção.

Não acho que haverá discordâncias quanto ao peso econômico-social da educação. Ela acaba por incorporar aos indivíduos determinadas concepções de mundo, morais, normas de convivência, traços de caráter, desenvolver características físicas, intelectuais etc.

Não há setor com maior capacidade de mobilização que o educacional. Inseridos no seio da classe trabalhadora, em comunicação direta e constante com diversos de seus elementos, os educadores têm influência direta no seu processo de formação. Ignorar esta influência é um equívoco, que se praticado, obstaculizará nosso caminho rumo à revolução.

Sobre a localização na estrutura de produção, um olhar menos atento pode argumentar: “na educação não há produção de bens materiais, e portanto não é propriamente um setor produtivo“. Entretanto, nós, como marxistas, devemos estar familiarizados com a questão da produtividade do trabalho imaterial. Como sabemos, não é o produto do trabalho que define sua produtividade. Afinal, o mesmo Caderno de Teses considera a saúde e o telemarketing como setores estratégicos, apesar de não estarem necessariamente ligados a um processo de produção material.

É impossível falar de revolução sem falar de educação. E desconsiderá-la enquanto setor estratégico é ignorar sua influência no processo produtivo. Por fim, o debate pode e deve ser aprofundado de forma mais qualificada. A intenção desta tribuna não é senão fomentá-lo.

Palavra, Povo e Pólvora!

Venceremos (desde que não desconsideremos a educação)!